Que situação triste… O policial militar Silvio Pereira dos Santos Neto, de 29 anos, foi preso em flagrante neste sábado (7), após matar um jovem negro. O crime aconteceu em um bar na região de Vila Medeiros, zona norte de São Paulo, após uma discussão por conta de um telefone celular. Tudo começou quando o cabo, que é branco, acusou a vítima, identificada como Clayton Abel de Lima, de apenas 20 anos, de ter furtado o objeto.
Segundo informações do boletim de ocorrência, os policiais Fernando Amista Soares e Diego Santhiago Santos de Jesus, da 3ª Companhia do 5º Batalhão Metropolitano, foram acionados para atender uma ocorrência registrada como “disparo de arma de fogo” em um bar localizado na Rua Basílio Alves Morango. Ao chegarem no local, as autoridades identificaram o policial, que aparentava estar “agitado e embriagado”.
Durante a conversa, Silvio afirmou aos colegas de profissão que teria sofrido uma tentativa de roubo e que só então reagiu contra o suspeito. No entanto, após perícia, o celular em questão foi encontrado dentro do veículo do policial, bem como um cartão do SUS e um comprovante de banco em nome de Clayton. Em depoimento, o dono do estabelecimento compartilhou maiores detalhes do triste episódio. Segundo o homem, que não foi identificado, Neto e Clayton chegaram juntos ao estabelecimento por volta das 3h da manhã. Ambos pareciam estar muito bêbados.
A dupla então pediu para passar o cartão de Neto e pagar o restante em dinheiro – eles passaram o valor de R$50 duas vezes na máquina e receberam R$10 de volta. Logo em seguida, a testemunha afirmou que os dois se dirigiram ao fundo do bar, onde existem três maquinas caça-níquel inoperantes. Foi neste momento que o cabo questionou Clayton sobre onde estaria seu celular, mas o jovem não conseguiu lhe responder.
O PM voltou a falar com o dono do bar, questionando-o sobre o item. O homem, por sua vez, declarou que não sabia o paradeiro do objeto e, em seguida, viu Silvio retornar ao fundo do estabelecimento e efetuar o disparo. Após o barulho, o proprietário correu em direção à dupla e viu Clayton no chão. Ele arrancou a arma das mãos do policial e descarregou o objeto.
Neto tentou pegar a arma de volta, apresentando sua carteira funcional de policial militar, mas o homem não lhe devolveu o pertence. A testemunha disse, ainda, que pediu para que outras testemunhas chamassem o resgate e a polícia e quando os PMs chegaram, entregou a eles o revólver de calibre 357. De acordo com a equipe de perícia do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, Clayton estava apenas com seu documento de identidade e um cartão bancário em seu nome, sem nenhuma arma ou mesmo um celular. O tiro atingiu a vítima no tórax.
Após o crime, Neto foi encaminhado para a delegacia e, acompanhado de seu advogado, preferiu não se pronunciar. O delegado Ricardo Lemes de Araujo, responsável pelo caso, apontou que o cabo tinha relação com a vítima, devido aos pertences encontrados em seu veículo e o depoimento do dono do bar. Ele entendeu, também, que o crime não teve relação com a função policial.
Araujo indiciou o cabo por homicídio doloso, ou seja, quando há intenção de matar. “Ele não estava confinado em situação de perigo que justificasse reação imoderada e desproporcional, consistente em disparar contra indivíduo desarmado, o levando a óbito no local”, declarou. No relatório final da investigação, o caso foi classificado como “não compatível com o instituto da legítima defesa”, pois Clayton não estava armado e o cabo não tinha sinais de luta corporal.
O delegado também determinou a prisão preventiva do criminoso durante a audiência de custódia. Na sequência, Silvio foi encaminhado para o Presídio Militar Romão Gomes, onde permanece desde então. Nesta segunda-feira (9), o Ministério Público Estadual pediu a realização de perícia no celular do PM e então o denunciou por homicídio qualificado por motivo fútil.
“O crime foi cometido por motivo torpe consistente em vingança por um suposto furto de celular que o indiciado acreditava que a vítima tivesse cometido contra ele”, argumentou a promotora Tatiana Calé Heilman. “Foi, ainda, cometido mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, que não imaginava que seria alvejada pelo indiciado e foi atacada por ele de forma inesperada”, pontuou.