A vereadora Duda Salabert (PDT), primeira mulher trans eleita para a Câmara Municipal de Belo Horizonte, foi ao Instagram na última sexta-feira (04) para expor uma série de ameaças de morte recebidas por e-mail.
Nas capturas de tela expostas na publicação, além das ameaças de morte, o autor do e-mail utiliza expressões racistas e de baixo calão para se referir à vereadora. O e-mail, que segundo Duda foi assinado por “Ricardo Wagner Arouxa”, um pseudônimo usado por um grupo neonazista que atua no Brasil, ameaça não só a vereadora, mas também os alunos do colégio Bernoulli, instituição na qual Salabert dá aula há 12 anos. “Eu juro, mas eu juro que vou comprar duas pistola 9mm no Morro do Engenho aqui no Rio de Janeiro, vou esperar as aulas presenciais voltarem, vou invadir uma sala do Bernoulli e vou matar todas as vadias e todos os negros e depois vou te matar”, diz o texto.
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Na mensagem, a autor ainda afirma que não tem nada a perder e que, após transformar o colégio em um mar de sangue, tiraria a própria vida. “Eu já consigo escutar os gritos de terror das vadias dentro da minha cabeça e chego até a ejacular espontaneamente“, completa a mensagem asquerosa.
Professora e candidata do PDT, a parlamentar fez história ao bater recorde na eleição da capital mineira – foram mais de 37 mil votos, que lhe conferiram o título de mais votada de Belo Horizonte. Porém, desde sua vitória, Salabert tem sido alvo de mensagens de ódio online. Duda foi às redes para desabafar sobre o caso e expor a gravidade das ameaças. “Estou sofrendo ameaças de morte. Sim, desde que ganhei a eleição venho recebendo mensagens não apenas de ódio, mas também de ameaças. Ontem recebi esse e-mail. E pior: o grupo odioso enviou esse mesmo email para a escola em que trabalho e para os donos e para a direção da escola. É uma estratégia não só para me intimidar, como também para forçar que a escola me demita”, relatou a vereadora.
Em entrevista concedida ao Universa, Salabert afirmou acreditar que a maior motivação por trás da ameaça seria a transfobia. “Há uma estrutura odiosa contra pessoas trans e isso se revela nos números. Cerca de 90% das trans estão na prostituição e a expectativa de vida é de 35 anos”, pontuou ela, que ainda confessou não imaginar que receberia ameaças tão graves ao se candidatar. “Desse porte não, as palavras foram muito fortes“, ressaltou Duda. A vereadora ainda crê que esse tipo de atitude é encorajada pelo que vem acontecendo em Brasília. “O problema é o governo federal que tem o discurso de ódio e, como resultado, os grupos neonazistas se fortalecem e ganham espaço“, destaca Salabert.
O Bernoulli também se manifestou por meio de uma nota. “Em relação às ameaças sofridas pela professora Duda Salabert e que citam o Bernoulli, a questão já foi direcionada às autoridades competentes para que sejam tomadas as providências cabíveis e acompanharemos seus desdobramentos. O Bernoulli ressalta que repudia qualquer tipo de violência, preconceito e ódio“, declarou a escola. Apesar das ameaças, a vereadora e professora não se deixou intimidar. “Não vão silenciar minha luta por justiça social. Não vão me intimidar. Serão todos presos!”, afirmou ela em mensagem no Instagram.
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Ainda na sexta-feira (04), Duda foi até a Polícia Civil para registrar denúncias de atentado psicológico e das ameaças das quais sofreu. Em nova publicação, a parlamentar também relatou mensagens de atenção, acolhimento e apoio recebidas durante todo o acontecido. “Agradeço aqui também todo mundo que mandou mensagens, comentários e compartilhamentos. Vamos juntas! E trago em mim mais este verso do Ferreira Gullar ‘A luta comum me acende o sangue e me bate no peito como o coice de uma lembrança’. Sigo em luta!“, finalizou Salabert.