Hugo Gloss

Record e CNN Brasil afastam repórteres após Bolsonaro tirar máscara em entrevista; Sindicato emite pedido para veículos de imprensa — confira

Fotos: Reprodução/YouTube; Record TV

O gesto inconsequente do presidente Jair Bolsonaro de tirar sua máscara de proteção durante uma coletiva de imprensa, sendo que está infectado pela Covid-19, surtiu efeitos para os profissionais que cobriam o momento. A Record TV e a CNN Brasil optaram por afastar os repórteres que acompanharam a coletiva de imprensa nesta terça-feira (7).

Os profissionais estiveram presentes em frente ao Palácio da Alvorada para acompanhar a entrevista do chefe de Estado, que na ocasião dava mais detalhes sobre seu estado de saúde após ser diagnosticado com o coronavírus. Já no final do bate-papo, Bolsonaro surpreendeu os jornalistas ao pedir para eles se afastarem enquanto ele retirava a máscara. “É para vocês verem minha cara, eu estou tranquilo, estou bem, tudo na paz”, falou. Assista ao momento a partir do minuto 2:30!

A exposição que os jornalistas sofreram na situação fez com que as emissoras tomassem providências. Em nota, a Record revelou que o repórter Thiago Nolasco e outras pessoas da equipe que tiveram contato com alguém contaminado pelo vírus serão afastados. “Os colaboradores da Record que tiveram algum tipo de contato com pessoas que testaram positivo para a Covid-19 ficam afastados e em observação por sete dias e fazem o exame ao final do período. O retorno só acontece quando o exame tem resultado negativo”, comunicou.

A CNN Brasil, que também estava presente no momento, informou através da sua assessoria de imprensa que o repórter Leandro Magalhães e seu cinegrafista Alberto de Souza ficarão isolados durante sete dias. Assim como na Record, eles só voltarão ao trabalho quando os resultados do teste para a doença sejam negativos. O mesmo procedimento foi adotado pela EBC com seus funcionários que acompanhavam a cobertura jornalística.

Mesmo próximo dos jornalistas, Jair Bolsonaro decidiu retirar a máscara de proteção. Foto: Reprodução/Record TV

Ao saber do ocorrido, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) decidiu que enviará um ofício para os veículos de comunicação, suspendendo a cobertura jornalística presencial no Palácio da Alvorada. “Imagens e denúncias que chegaram ao SJPDF comprovam que o presidente da República, positivo para a Covid-19, colocou em risco os jornalistas e as equipes ao fazer o anúncio. Por que o presidente não solicitou que um médico o fizesse? E qual será a postura daqui para frente”, questionou.

Em entrevista ao GloboNews hoje mais cedo, o médico infectologista do Hospital Emílio Ribas, Jean Gorinchteyn, reforçou que o uso da máscara é essencial para barrar a disseminação do vírus, principalmente no caso de uma pessoa infectada e sintomática, como o caso do presidente.

“Se eu já estou sintomático, a chance de transmissão é maior que o pré-sintomático porque ele tem secreção e maior multiplicação do vírus na garganta e a chance de dispersão é muito grande. A máscara é um anteparo de disseminação”, explicou. “À medida que eu baixo a máscara, eu gotejo essas gotículas de aerossol e de saliva. A gente hoje sabe muito bem que as duas formas de transmissão são por aerossol e gotículas. Ou seja, se eu não tenho distanciamento e não tenho proteção, a chance de infectar as pessoas do entorno acaba sendo muito maior”, completou o profissional.

Nas redes sociais, políticos repudiaram duramente a postura de Jair Bolsonaro. “Acabei de protocolar a minha representação no MPF para que Bolsonaro responda por crimes contra a saúde pública. O presidente violou os artigos 131 e 132 do Código Penal ao retirar a máscara durante a entrevista em que anunciou que está com o coronavírus”, compartilhou o deputado federal Marcelo Freixo.

“Ao anunciar que está mesmo com Covid-19, Bolsonaro minimiza a doença, defende a cloroquina como ‘cura imediata’ e reforça que não ficará em isolamento. Isso depois de ter vetado a obrigatoriedade da máscara. É um irresponsável que estimula o povo a fazer o errado”, escreveu a deputada federal Sâmia Bomfim.

Bolsonaro também chegou a revelar que, dentro de uma semana, voltaria a se encontrar com as pessoas. No entanto, na melhor das hipóteses, os profissionais de saúde pedem que os pacientes só retomem suas atividades e o contato com outras pessoas após 14 dias em isolamento.

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