Na última quarta-feira (4), Rodrigo Constantino causou revolta ao falar que castigaria sua filha por determinada postura em caso de estupro. Seus comentários levaram ao seu desligamento da Jovem Pan, da Record, da Rádio Guaíba e do Correio do Povo. Mas, nesta sexta-feira (6), o jornal Gazeta do Povo decidiu mantê-lo contratado. Segundo o UOL, a atitude causou desconforto entre os funcionários…
Na manhã de hoje, os diretores do GRPCOM (Grupo Paranaense de Comunicação) emitiram uma nota informando que Constantino seguia contratado. Após analisarem um texto do jornalista – no qual ele tenta se explicar pelo que aconteceu –, a empresa disse ter entendido o que ele defende, mas não deixou de classificar suas falas no vídeo como “inoportunas” e “infelizes”.
“Rodrigo Constantino explica de forma mais clara e objetiva o que quis e o que não quis dizer. Isso não nos impede de considerar que suas manifestações iniciais foram inoportunas e infelizes, intempestivas e formuladas com imprecisão, dando margem a dúvidas que precisaram ser esclarecidas. É compreensível, portanto, parte do desconforto e constrangimento que despertou em muitas pessoas”, disse a nota.
“Na sua coluna desta quinta, no entanto, disse que jamais teve a intenção de analisar qualquer situação em concreto e reforçou a necessidade de que o caso de Mariana seja apurado e que, assim, faça-se justiça. Disse, inclusive, que acha brandas as penas do crime de estupro em nosso país”, adicionou o jornal, endossando o que Constantino escreveu, e compreendendo seus pontos.
Por fim, apesar de todos os fatores, o veículo optou por manter “diversidade de ideias” e o vínculo com Rodrigo. “Ainda que não concordemos com a forma de muitos dos seus posicionamentos e com muitas das suas opiniões, continuamos acreditando na importância da diversidade de ideias e na importância do diálogo para a construção de uma sociedade melhor e de uma democracia cada vez mais madura, razão pela qual, após várias ponderações e análises, decidimos pela manutenção de Rodrigo Constantino em nosso quadro de colunistas”, concluiu o comunicado.
Decisão revolta funcionários
Rodrigo Constantino pode ter saído feliz dessa história, mas os colaboradores da Gazeta do Povo não. De acordo com o UOL, os funcionários se sentiram “frustrados, envergonhados e revoltados” com a decisão do veículo. 117 funcionários também assinaram uma nota de repúdio endereçada à direção do jornal, dos irmãos Guilherme Cunha Pereira e Ana Amélia Filizola e o grupo de comunicação GRPCOM.
Na carta, colaboradoras manifestaram seu “incômodo” com a atitude e notaram uma “violação às convicções do jornal”. “Gostaríamos, assim, de mais transparência da direção em relação ao tema e seus possíveis desdobramentos”, declara a nota. Os profissionais ainda questionam trechos escritos por Constantino e “aprovados” pelo jornal, debatendo alguns argumentos do jornalista sobre estupro e violência sexual.
“O colunista da Gazeta do Povo, em seu texto, culpa vítimas pela violência sofrida. Não existe ‘assumir o risco de ser estuprada’. É mais uma situação de opressão em cima da mulher, que não considera avanços de entendimento da sociedade de que estupro não é apenas o ato sexual imposto de forma violenta, mas também o que passa por cima do consentimento”, aponta corretamente a carta.
Em outro momento, o texto sugere misoginia por parte de Rodrigo. “Constantino cobra ‘responsabilidade’ da vítima e condena ‘banalização’ do uso do termo estupro, mas descarta a palavra da vítima e ignora o fato de que a violência sexual tem inúmeras outras formas que não um ato consumado. Pior: dissemina esse entendimento deturpado, prejudicando o debate tão essencial. A misoginia perpassa toda a construção do texto além de deixar subentendida a avaliação de que tipo de mulher se coloca sob risco”, continua.
O posicionamento dos funcionários também é rígido ao dizer que a presença de Constantino é um incentivo à cultura de julgar vítimas de violência sexual. “A Gazeta do Povo quer proporcionar um ambiente onde as mulheres se sentem seguras para desempenhar seu trabalho ou, ao contrário, um ambiente em que o machismo e a violência moral, verbal e, eventualmente, física, seja vista como tolerada pela direção? Neste cenário, as colaboradoras entendem haver um incentivo ao assédio, à cultura de julgar a vítima e desestímulo a denúncias. Com isso, há perda de respeito e engajamento aos valores e ideais do grupo”, encerra o texto.
Segundo o UOL, o clima é de frustração geral entre colaboradores. Os funcionários também pontuam que Constantino não apenas desrespeitou as mulheres, como a linha editorial da Gazeta do Povo e seu “caderno de convicções”, lançado em 2017.
Diante do clima tenso, a diretoria da Gazeta do Povo afirmou que prestará atenção nos comportamentos e na conduta de Rodrigo Constantino a partir de agora. Caso julguem algo grave em sua postura, o veículo pode mudar de ideia quanto à decisão de mantê-lo como um de seus colunistas. Em todo caso, os gestores estão preocupados com a desmotivação da equipe, por conta da posição da empresa, conforme o UOL revelou. Situação delicada…
Entenda o caso
Durante uma live nesta quarta-feira (4), Rodrigo Constantino afirmou que castigaria sua filha, caso ela fosse abusada em determinadas circunstâncias. O vídeo do momento e a repercussão negativa fez com que ele fosse demitido da rádio Jovem Pan, onde trabalhava como comentarista, além de ser desligado do Grupo Record, da Rádio Guaíba e do Jornal Correio do Povo.
Ao falar da audiência sobre o estupro sofrido por Mariana Ferrer e a absolvição de André de Camargo Aranha, Constantino expôs sua opinião, considerando um cenário em que sua filha também fosse abusada. “Se minha filha chegar em casa, eu dou boa educação para que isso não aconteça, mas a gente não controla tudo, se ela chega em casa e fala: ‘Pai, fui pra uma festinha e fui estuprada’. [Eu vou falar:] ‘Me dá as circunstâncias’. ‘Ah, fui pra uma festinha, eu e três amigas, tinha 18 homens lá, nós bebemos muito, tava ficando com dois caras e eu acabei dormindo. Fui abusada’. Ela vai ficar de castigo feio, eu não vou denunciar um cara desse pra polícia”, falou Rodrigo.
Como se não bastasse, o discurso completamente equivocado do jornalista diz que, nesse caso, a culpa teria sido da sua herdeira. “Eu vou dar esporro na minha filha, porque alguma coisa ela errou feio. E eu devo ter errado pra ela agir assim, né? Porque é um comportamento completamente condenável, porque a gente não pode mais falar essas coisas hoje em dia, né? Que existe mulher piranha e mulher decente”, disse. Lembrando que, em nenhuma hipótese ou circunstância, a vítima de um estupro ou de qualquer outro tipo de abuso tem culpa. A única pessoa responsável é a que cometeu o crime.
“Como falei aqui, o homem que faz isso não é decente, mas também não existe a ideia de mulher decente? As feministas querem que não, né? Porque feminista é tudo recalcada, ressentida e, normalmente, mocreia, vadia, odeia homem, odeia união estável, odeia casamento, odeia tudo isso. Só por isso. Ou é instrumento de homem malandro e canalha”, finalizou o jornalista no vídeo que viralizou. Confira a gravação:
Constantino falando que botaria a filha de castigo e não denunciaria um potencial estuprador que abusasse dela bêbada
Que nojo desse cidadão pic.twitter.com/uNeQ9X25gl
— neo 🌐 (@neoliberalindo) November 4, 2020
A postura de Constantino fez com que o jornalista fosse desligado da Jovem Pan, do grupo Record, da Rádio Guaíba e do Correio do Povo. Pelas redes sociais, também foram várias as críticas ao seu pensamento equivocado sobre o estupro. Até mesmo Anitta soltou o verbo e repudiou as opiniões do colunista – levando-o, inclusive, a chorar sobre isso e todos os desdobramentos dessa história. Saiba todos os detalhes do caso e confira o posicionamento da filha de Rodrigo, clicando aqui.