Que mundo é esse? Fallon Melillo, uma jovem norte-americana de 27 anos, denunciou em suas redes sociais, na última terça-feira (10), um caso absurdo e cruel de gordofobia no qual foi vítima em Miami, nos Estados Unidos. O vídeo com o relato da morena chamou a atenção de quase um milhão de usuários no Instagram e no TikTok. Defensora dos direitos da comunidade plus size, Fallon contou que, no final de julho, estava em uma viagem com as amigas, quando, no dia 31, elas decidiram ir a uma festa na piscina na “Daer”, boate popular na área, localizada dentro do Hard Rock Hotel.
Em busca de mais diversão no passeio, o grupo contatou o promoter da boate, para comprar ingressos para o translado do evento – o “Spring Break Miami Party Service Bus” – que foi divulgado na plataforma Eventbrite. O homem então lhes vendeu os ingressos por US$ 40 cada (cerca de R$ 209), além dos US$10 de taxa de entrada (cerca de R$52).
No entanto, após a compra, Fallon notou que a página da Eventbrite para o translado tinha “regras” específicas para garotas plus size. “Desculpe, nada de garotas grandes para esta festa! O porteiro é muito rígido com a aparência. Se você já teve problemas para entrar em clubes exclusivos antes, então isso não é para você! Por favor, não perca o seu tempo nem o nosso pensando que podemos levá-la para dentro se você não atender às qualificações”, dizia o comunicado da empresa.
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Incomodada e chocada com o óbvio tom preconceituoso da mensagem, a jovem contatou o hotel e a boate para confirmar que, de fato, não seria discriminada caso contratasse o tal serviço. “Entramos em contato com a Daer e eles nos garantiram que não discriminam o peso. Esperávamos que tudo corresse bem”, pontuou. Infelizmente, a noite não correu nada bem. Segundo Melillo, quando o grupo chegou ao local onde o translado aguardava os convidados, um membro da equipe de segurança chamou uma de suas acompanhantes e informou que não permitiriam o embarque da amiga plus size.
“Ser rejeitada na frente de outras pessoas por causa de minha aparência e meu tamanho foi absolutamente humilhante”, lamentou Fallon em entrevista ao BuzzFeed. “Fiquei envergonhada e chocada, para dizer o mínimo. Mesmo sabendo que sou bonita por dentro e por fora, este momento me fez sentir impotente. Isso é o que toda pessoa plus size teme – ser rejeitada em um evento por causa de nossa aparência”, declarou. Ainda de acordo com a jovem, ninguém se pronunciou em sua defesa durante o ocorrido.
Após a rejeição, a empresa agiu rapidamente e concedeu um reembolso ao grupo de amigas, antes mesmo que elas pudessem encontrar outro modo de transporte para o evento. Elas então desistiram da festa e foram embora. Na sequência, a página do evento mudou o nome de “Spring Break Miami Party” para “Festa open bar + festa na piscina” e alterou, também, a exigência sobre a aparência de seus convidados. “Por mais que gostemos de dar as boas-vindas a todos, a entrada para este evento exclusivo é muito seletiva e nos reservamos o direito de negar o serviço. Um corpo de modelo é encorajado”, apontou o novo texto. Que horror…
“Ter a declaração ‘corpo de modelo encorajado’ [no site] é nojento”, disse Melillo. “O que é um corpo de modelo? Qualquer um pode ser modelo na sociedade de hoje. Olhe para Ashley Graham e literalmente qualquer outra modelo plus size. Uma modelo não é mais unidimensional e é ingênuo [agir como] uma modelo só possa ter tamanho 2″, reforçou. O tamanho 2, nos EUA, equivale ao 34 no Brasil. “O que isso realmente significa é que se você for uma garota grande, eles se reservam ao direito de te negar a entrada. Em vez de mostrar abertamente a discriminação online, você tem que ir pessoalmente para ficar envergonhada”, alfinetou Fallon.
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Desde o episódio lamentável, os organizadores da festa e a Eventbrite não se pronunciaram sobre o assunto online e nem mesmo fizeram declarações à imprensa. Enquanto isso, a jovem refletiu sobre toda a experiência em seus perfis nas redes sociais. “Eu sabia que coisas como essa podem acontecer, mas nunca pensei que aconteceriam comigo. No ano passado, eu realmente perdi uma quantidade significativa de peso e estava me sentindo muito melhor comigo mesma. Bastou ir a Miami para ser condenada ao ostracismo. Não apenas Miami, mas outros lugares populares onde a imagem corporal é importante. A cultura precisa mudar – especialmente em lugares como Miami, Los Angeles e Las Vegas”, declarou.
“Pessoas maiores são humanas e às vezes não podemos evitar nossa aparência. Isso não nos torna inferior ou [dá aos outros o direito de] negar serviços. Gostaria que empresas e negócios aceitassem todas as formas e tamanhos. A negação de pessoas de tamanhos grandes em espaços públicos são prejudiciais à saúde mental desses indivíduos”, avaliou a jovem. “Se as empresas não apoiarem o fato de que as pessoas maiores são donas de si mesmas, elas acabarão como esta empresa – recebendo uma tonelada de reações por seus maus tratos e julgamento”, concluiu.
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