Manu Gavassi cansou de fazer gracinha… mas continua fazendo músicas incríveis e dando vazão a ideias brilhantes fora da caixinha! A cantora liberou seu quarto disco no dia 12 de novembro e, duas semanas depois, lançou um álbum visual para acompanhá-lo no Disney+, em um formato inédito entre os artistas brasileiros. Ela pensa em tudo mesmo e contou mais sobre o planejamento e criação do trabalho em entrevista ao hugogloss.com.
A evolução desde o último lançamento
No papo, Manu começou falando sobre sua evolução desde o lançamento de seu último single, “Deve Ser Horrível Dormir Sem Mim”, em agosto do ano passado. Na época, ela havia dito a Hugo Gloss que decidiu fazer um curta de 10 minutos para acompanhar a música porque ainda não sabia se o público alcançado após sua participação no BBB 20 continuaria acompanhando seu trabalho musical. E foi justamente o curta que a inspirou para seguir o caminho do álbum visual com “Gracinha”.
“Eu tenho muito orgulho de ‘Deve ser Horrível Dormir sem Mim’, foi uma das coisas mais legais que eu já fiz. E eu acho que foi nessa linha de raciocínio que eu pensei: ‘Tá, agora eu estou experimentando coisas do tipo roteiro e direção, e isso está fazendo parte do meu trabalho cada vez mais, então eu não eu não sou só uma cantora’. Eu acho que as pessoas nem esperam de mim que eu lance só clipe. Eu acho que é sempre um pacote mesmo, porque é o que eu tenho mostrado e é o que eu gosto de fazer. Então pra mim foi um desafio que eu encarei”, explicou ela.
No entanto, desta vez, a cantora afirmou que não queria provar nada para ninguém com o trabalho. “A partir do momento que eu compus a música ‘Gracinha’, eu entendi o tamanho que teria esse projeto, eu entendi o que significava pra mim, eu entendi a libertação artística que isso poderia ser – e que foi, né?! Acho que a mensagem é de libertação, mas o que você faz quando você vai contra um mercado que te pede mais todo mês também é uma mensagem. Então eu acho que no todo foi um projeto muito corajoso, porque foi muito verdadeiro”, analisou.
Um álbum contra as lógicas do mercado musical
De fato, Gavassi nadou contra as correntes comerciais. Ao invés de hits pop com vídeos curtos e refrões simples que viralizam no tiktok, ela fez um álbum com inspirações bem brasileiras, da Bossa nova à Tropicália, misturando ainda influências do reggaeton e do pop francês. Tudo isso, claro, acompanhado de um filme de 41 minutos em uma plataforma de streaming. “Todo o processo desse álbum não foi pensado mercadologicamente, o que eu amo. É por isso que pra mim é um grito de liberdade, é um sopro de que eu posso fazer o que eu quiser como artista, porque foi assim que os meus ídolos fizeram e assim que eles viraram ídolos e lendas. São essas pessoas que eu admiro, por que eu estou me limitando tanto numa caixinha e em números de mercado, do que falam que eu tenho que fazer?”, questionou-se.
Foi esse pensamento que a fez convidar os franceses VoYou e Alice et Moi, e o espanhol Vic Mirallas para participarem de faixas do álbum. Os três eram artistas que não saíam da playlist que Manu estava ouvindo na época da composição e, inclusive, serviram de inspiração para o som que ela estava criando. “O featuring acaba virando um acordo comercial quase e, às vezes, é só um acordo comercial. Mas tem que ser mais que isso. Você tem que gostar da música da pessoa, você tem que ter o mínimo de afinidade, tem que te inspirar o mínimo. Então eu resolvi falar: ‘Quer saber? Eu vou chamar quem quiser, quem eu gosto, eu não estou nem aí’”, simplificou. Nada mais justo, né?
Além deles, o disco ainda inclui feats. com Tim Bernardes e com o pianista Amaro Freitas em ‘Gracinha’, a faixa-título, que Manu acredita que tenha sido a melodia mais brasileira que já escreveu na vida. “Eu acho que naturalmente eu tava pesquisando muito o passado pra fazer esse álbum. Eu voltei muito a ouvir Mutantes, eu voltei muito a ouvir Rita [Lee], eu tava assistindo a documentário sobre a Tropicália, sobre o que aquilo significou. Não foi uma pretensão, tipo, ‘ai, deixa eu lotar aqui do Brasil’. Não foi, mas sou brasileira. Então eu acho que naturalmente essas melodias ecoam no nosso cérebro, né? Talvez porque eu estivesse muito bebendo dessa fonte, me alimentando disso”, explicou a estrela.
Um processo de libertação pessoal
As músicas também surgiram de um processo muito pessoal para a cantora, que foi se libertar de padrões que ela tinha limitado para si mesma após críticas que ouviu ao longo de toda a carreira desde os 17 anos. “Eu olhei pra trás na minha história e falei ‘Meu Deus, onde foi que eu juntei tanto medo, tanta crença limitante pra achar que eu só posso fazer isso sendo que eu sei que eu tenho potencial pra fazer mais do que isso?’”, refletiu Manu.
Ela ainda completou: “Pessoas próximas a mim que eu confio, como a Magali Mussi, que é minha preparadora vocal, ficavam falando também: ‘você tá se boicotando, você canta mais do que você mostra, você compõe mais do que você mostra, suas melodias são mais bonitas, você está se comportando da maneira que o meio quer que você se comporte’. E eu fiz isso mesmo por muito tempo. Não quer dizer que seja ruim porque disso saíram músicas muito legais das quais eu me orgulho muito, mas é limitante você achar que está numa caixinha e é ali que você tem que ficar, que você dar um passo pra fora da caixinha está errado. Era assim que eu me sentia. Então ‘Gracinha’ nesse sentido foi uma libertação”.
A vida pessoal e a história por trás de “(não te vejo meu)”
Entre as nove faixas que a artista colocou no álbum está “(não te vejo meu)”, uma balada no piano com uma das letras mais lindas e, aparentemente, românticas que ela já compôs. No entanto, Manu garantiu que não é sobre o namorado dela, o modelo Jullio Reis, com quem está vivendo um relacionamento muito leve e feliz desde o começo do ano. “Eu comecei a namorar depois que o álbum já estava pronto. O Jullio foi meu apoio durante todo esse processo, mas o álbum já tinha nascido, ele é sobre outro capítulo da minha vida. Isso que é mais louco, sabe?”, comentou.
Na verdade, a faixa foi inspirada por Clarice Lispector. “Ela é genial. Quando eu fui ler, aquilo me despertou tantas emoções, tantas histórias e aí eu vi que escrevi uma música romântica que não era romântica, né? É uma música que foi uma costura de sentimentos que aquele livro me despertou, que tinham memórias da minha vida pessoal também junto. É uma música que, quando eu paro pra pensar, é bonita, mas é uma música esquisita pra mim, porque é tanta coisa misturada, sabe?”, observou.
Apesar disso, Manu explicou que a faixa foi ressignificada para ela depois de entrar no álbum visual. Na cena em que a canção toca, a artista divide o palco em uma dança com Ícaro Silva, enquanto relembra momentos que os personagens deles viveram juntos. “Acho que é uma das partes mais especiais do álbum. O Ícaro ter topado fazer, e a história ficou muito linda. Ele deu todo um brilho e um novo significado pra música”, elogiou Manu.
O elenco do álbum visual
Aliás, a participação de todo o elenco foi algo muito valorizado pela paulistana. Além de Ícaro Silva, ela ainda contou com Paulo Miklos, João Côrtes e Fábio Porchat. “O Paulo Miklos foi o primeiro a dar um sim, o que mudou completamente o panorama de tudo porque, assim, é o Paulo Miklos. O cara é uma lenda não só da música, como já fez papéis incríveis, então eu falei ‘Meu Deus, está virando sério essa minha brincadeira, ele topou fazer’. E daí eu comecei a entender meu valor, como eu estava sendo respeitada como artista”, destacou.
“Isso é muito legal porque a gente não se dá valor muitas vezes e eu tenho dificuldade em me dar valor, que fique claro, então eu entender que aqueles artistas, que essa preciosidade de elenco, estava topando entrar num sonho meu, com maior coração aberto, e porque confiam em mim e no meu talento foi muito legal pra mim”, refletiu. Ela ainda brincou: “Uma dica que eu passo pra artistas: nunca me passe seu telefone pra qualquer coisa, porque eu vou te ligar pra qualquer coisa, mesmo não tendo intimidade com você, eu vou te ligar pra pedir alguma coisa”.
Outro convite super especial foi o de Titi, filha de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, que fez seu primeiro trabalho de atuação no álbum visual. De acordo com a Manu, ela já era próxima da família há um bom tempo. A conexão com Titi se tornou tão especial, que a menina de 8 anos a chamava de “minha amiga Manu”. “Eu achava muito bonitinha a nossa relação. A gente brincava de uma maneira muito sincera e a Giovanna e o Bruno também viam isso e brincavam com isso”, explicou na entrevista.
O que aconteceu foi que, conforme a história do álbum visual foi nascendo, a ideia de ter uma criança ali se tornou muito presente na cabeça da cantora. “Tinha tudo a ver colocar uma criança, tem pessoas de diferentes idades ali naquela trupe, é um projeto que é pra Disney, é pra atingir todas as idades, e tem uma magia e uma inocência muito linda na maneira que uma criança vê a arte, o que ela quer fazer quando ela decide ser atriz ou quando ela decide querer brincar disso. Existe uma ingenuidade que, no álbum visual, era o que falta pra Gracinha. Ela precisava se conectar com aquilo também, com essa energia. Então tinha a ver colocar esse clipe dentro daquele teatro contando essa história”, detalhou.
E tudo se encaixou quando Giovanna Ewbank ouviu a música que tocaria na cena de Titi, “Catarina”, que Manu compôs em homenagem à sua irmã. “A Giovanna se emocionou muito. Ela falou ‘a sua Catarina é a minha Titi’, e daí eu fiquei muito feliz. Se tem a ver a letra, se ela se sentiu assim, então eu me sinto segura pra fazer esse convite. E eles confiaram muito em mim, o que é outra prova de amor e de admiração mesmo. Eu fiquei muito grata deles terem confiado em mim assim. Porque eu sei o cuidado que eles têm em expor [os filhos] a isso e tem que ter cuidado mesmo, porque é um ambiente muito estranho pra criança, né? Muito nocivo. Então, pra mim, como diretora também foi ‘Nossa, acho que agora eu posso falar que eu sei fazer esse negócio’. Porque um dia inteiro eu passei transformando aquilo num ambiente lúdico e fazendo ela se sentir à vontade, sabe? Bem pra estar ali. Então foi muito gostoso”, agradeceu a artista.
As relações com Taylor Swift
Todo o processo do álbum visual foi resultado de muito planejamento. No dia 21 de agosto, Manu anunciou em suas redes sociais três datas, agosto e setembro para os lançamentos dos dois primeiros singles e 12 de novembro para o álbum. Na época, Taylor Swift já estava com a aguardadíssima regravação do “Red” marcada para o dia 19 de novembro. No entanto, nesse meio tempo, a norte-americana acabou adiantando o lançamento justamente para o dia 12.
Por dividir a data inesperadamente com uma estrela tão grande e com quem ela compartilha alguns fãs aqui no Brasil, o lançamento poderia ter deixado a cantora apreensiva, mas ela garante que não foi o caso. “Eu com medo de Taylor? Quem sou eu perto de Taylor? Pra mim é assim: eu deito no chão pra ela passar em cima de mim. Nunca seria uma concorrência e, mesmo se alguma possibilidade fosse, deito no chão e ela anda em cima”, brincou Manu.
Ela ainda afirmou que a estreia do álbum visual duas semanas depois, no dia 26, não teve qualquer relação com a mudança de datas. “Primeiro que se eu fosse competir é ‘hello, não existe competição com a Taylor’. Ela é o maior extraterrestre da humanidade, não existe competição nenhuma, que dirá comigo, que estou aqui suando no meu país, fazendo meu trabalho”, disse, com bom humor.
A estrela ainda acrescentou que não teria tido essa preocupação mesmo que fosse com qualquer outro artista, já que não está buscando números com este álbum. “Não é ‘preciso bombar. Preciso de número um’. Isso nunca passou pela minha cabeça, senão eu não faria o que eu estou fazendo. Senão eu ficaria todo mês correndo atrás do próximo lacre. E daí eu teria esses números. Então eu assumi que esse trabalho não é a respeito disso”, declarou.
Apesar disso, Manu foi só elogios para Taylor, de quem é fã desde a adolescência. “A Taylor foi minha primeira referência de ‘eu posso ser o que eu quiser na vida’. Tanto que assim, eu tenho ‘Fearless’ tatuado na minha costela, que eu fiz com dezoito anos de idade. Quando eu vi que aquela menina cantava sobre os conflitos dela e era interessante pra mim, eu comecei a dar valor pro que eu fazia, falei, ‘meu Deus, então, essa brincadeira que eu faço de musiquinha sobre a minha vida no meu quarto, pode ter valor pra outras pessoas porque existe essa relação comigo e com ela’. Então pra mim é muito louco. Ela tá batendo todos os recordes com regravações, quem faz isso? Eu acho que ela tá se consagrando como realmente uma lenda da música. Só ela faz o que ela faz”, exaltou.
Confira abaixo a entrevista com Manu Gavassi na íntegra: