Hugo Gloss

Caso Robinho: Em nova conversa revelada, jogador ri e usa termos depreciativos ao falar de estupro: ‘Meu medo é sair na imprensa’ – Confira a íntegra

Nesta sexta-feira (11), novos trechos da transcrição dos grampos que levaram Robinho a ser condenado por violência sexual de grupo, em primeira e segunda instância na Itália, foram divulgados. Nas conversas de 2014, obtidas pelo “UOL Esporte”, o ex-atacante do Santos usa termos depreciativos e ri ao relatar os acontecimentos no ano anterior, em uma boate em Milão.

Ainda ontem (10), durante julgamento, os advogados do santista alegaram que houve erros de tradução da língua portuguesa para a italiana nas conversas interceptadas e apresentaram o relatório como uma tentativa de reverter a condenação. A Justiça italiana, entretanto, não considerou os argumentos relevantes o suficiente e referendou pena de nove anos de prisão aos réus.

A transcrição faz parte de um relatório produzido pelo tradutor juramentado Adriano Lellis Gaiotto, anexado ao processo pela defesa do jogador. Não se trata, portanto, da transcrição do áudio feita pela Justiça italiana, e sim pelo profissional contratado pelos advogados do brasileiro.

Robinho negou ter participado de um estupro da vítima. (Foto: Reprodução/UOL)

As conversas

Durante o bate-papo, Robinho negou relação sexual com penetração com a mulher. Assim como no processo, o jogador alegou publicamente ter recebido apenas sexo oral dela. Em depoimento à polícia, a vítima, em contrapartida, declarou ter sido “abusada” pelo atleta e seus amigos. Nos trechos divulgados, Robinho confirmou que viu os companheiros, “desesperados” ao transarem com a moça, e usou termos de baixo calão como “rangar” e “trabalhar” para se referir ao ato sexual.

[AVISO: Esta reportagem traz descrições explícitas e depreciativas de cenas de abuso sexual, além de linguagem chula. Recomenda-se cuidado a leitoras e leitores sensíveis ao tema.]

Robinho: […] eu lembro que foi, quem tava desesperado era [amigo 3] e [amigo 2] em cima da mina. [amigo 3] e [amigo 2] tava num desespero da p*rra.
Amigo 1: Neguinho vai, quando eu cheguei lá os cara tava trabalhando já , eu só entrei no trabalho. [sic]
Robinho: Então, eu também, porque eu nem consegui tirar o doze, mano, fazer o que. Agora, os caras… (Risos). [Doze seria uma referência ao órgão genital masculino. Robinho alega que não penetrou a mulher por impotência.]
Amigo 1: Os caras tavam trabalhando já, eu só fui dar uma força.
Robinho: (Risos) trabalhando… (Risos)
Amigo 1: É, mano, por mim já tinha ido embora já, eu queria ir embora.
Robinho: Quero vê se a mina tá com um carnê, aí eu quero vê mano. [sic]

Amigo 1: P*ta aí o bicho pega, pega pra todo mundo.
Robinho: Pra todo mundo não, eu não ranguei, eu tenho certeza que eu não tenho nada, agora quem rangou, que foi você que eu vi, eu sei…
Amigo 1: Eu tava de caneleira, eu tava com caneleira, né. [Caneleira seria uma referência a preservativo].

Ainda no relato, Robinho e seu amigo demonstraram preocupação com a possibilidade da vítima ter engravidado, uma vez que isso fortaleceria a denúncia de estupro. “Se ela não teve filho é a palavra dela contra a da gente, não tem como ela acusar, agora se ela teve filho, é puxado”, comentou o colega do futebolista. Em depoimento à polícia, a mulher afirmou que, de fato, contou ao grupo que esperava um bebê, mas fez isso apenas para assustá-los.

Amigo 1: Neguinho, por exemplo, se a mina não teve, não pega nada, mas se ela teve filho aí é DNA, né?
Robinho: Então, e agora mano? Vai entender se a menina teve filho. Ninguém sabe se ela teve, se ela não teve, a polícia não vai falar.
Amigo 1: Então, por exemplo, se ela não teve filho é a palavra dela contra a da gente, não tem como ela acusar, agora se ela teve filho é puxado hein.
Robinho: É, então, mas eu não sei se a menina teve ou se não teve […] o cara que o Jairo [Chagas, músico que tocou na boate no dia do crime] contratou falou assim: ‘- ó, a única coisa boa é que os caras tá lá no Brasil e na discoteca não tinha câmera, porque se pegasse a câmera os caras iam pegar eles até no Brasil, como não tinha câmera vai ficar meio embaçado pra mina provar que estupraram ela se ela não estiver grávida’. [sic]

Transcrições de conversas do jogador foram decisivas para a condenação. (Foto: Reprodução/Santos TV)

Os dois colegas também se mostraram aflitos com as chances do caso se tornar público, e Robinho temeu que sua carreira fosse afetada. “Tô com medo de me chamarem pra depor. Meu medo é sair na imprensa: ‘Amigos de Robinho estupraram menina lá na Europa’, meu medo é esse”, comentou. De fato, com o curso das investigações, o atacante teve seu contrato com o Santos FC suspenso.

Robinho: […] eu tô com medo se os caras me chamarem para depor, eu não sei, tomara a Deus que, o meu medo é esse, o meu medo é sair na imprensa, ‘Amigos de Robinho estupraram menina lá na Europa’, meu medo é esse.
Amigo 1: Nossa.
Robinho: Ó a falha, ó a falha, f*da mano, tô com a cabeça um trevo aqui mano.
Amigo 1: Agora até a minha ficou. Se sair no Globo.com, cai todo mundo por tabela.

Por fim, o esportista revelou ter aconselhado o amigo Ricardo Falco – também condenado – a não prestar depoimentos e a voltar imediatamente ao Brasil, para evitar uma eventual prisão em solo italiano: “Cara, você quer um conselho? Não vai nem lá, volta pro Brasil, pelo menos tu não fica em cana”. 

Como o Brasil não extradita seus cidadãos e o jogador reside aqui, o judiciário italiano pode emitir um mandado de prisão internacional ao Estado brasileiro. Outra hipótese é que o mandado possa ser cumprido em solo europeu, se Robinho for a algum país por lá. Até o momento, nenhum dos dois chegou a ir pra cadeia.

Robinho: […] aí os caras ligou e falou para o [apelido de Ricardo] ir depor segunda-feira, falou ‘Segunda-feira é o seu Ricardo, você vai vir aqui na Corregedoria, na Polícia Federal, ou vamos te buscar?’ O Ricardo me ligou e falou ‘Neguinho, os cara me ligaram pra eu ir lá, tu não tem nenhum advogado pra me emprestar, pra me pagar?’ Eu falei ‘Advogado? Vou chamar advogado? Não tenho advogado’. Porque o do Ricardo estava com medo porque, ele tá sem documento nenhum […] é arriscado ele ir e ficar por lá mesmo. 
Amigo 1: Nossa. Vai vir direto pro Brasil já, de lá.
Robinho: É. (Risos) Eu falei: ‘- Cara, você quer um conselho? Não vai nem lá, volta pro Brasil pelo menos tu não fica em cana’. (Risos).

Entenda o caso

Uma reportagem do “Globo Esporte” revelou em outubro, trechos da sentença judicial e da transcrição dos grampos que levaram Robinho a ser condenado em primeira e segunda instância por violência sexual de grupo na Itália, em novembro de 2017. Nas conversas, o jogador admitiu que teve relações sexuais com a vítima e que ela estava “completamente bêbada” a ponto de “não saber nem o que aconteceu“.

O caso ocorreu em uma boate de Milão chamada ‘Sio Café’ na madrugada do dia 22 de janeiro de 2013. Além de Robinho, outros cinco brasileiros teriam participado do ato – classificado pela Procuradoria de Milão como “violência sexual” – contra uma jovem de origem albanesa. No entanto, apenas o jogador e seu amigo Ricardo Falco foram condenados a nove anos de prisão.

Robinho foi condenado por violência sexual em 2017. (Foto: Reprodução/Santos TV)

Os outros quatro acusados deixaram a Itália no decorrer da investigação e, por isso, estão sendo processados num procedimento à parte, explicou o advogado da vítima, Jacopo Gnocchi, ao ‘GE’. Robinho e Ricardo foram condenados com base no artigo “609 bis” do código penal italiano, que fala da participação de duas ou mais pessoas reunidas para ato de violência sexual – forçando alguém a manter relações sexuais por sua condição de inferioridade “física ou psíquica”.

Confira a íntegra do caso, a transcrição das conversas, os relatos revoltantes e a série de manifestações contra a contratação do jogador, clicando aqui.

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