Mal-entendido das redes sociais… Dua Lipa se tornou alvo de duras críticas no último domingo (19), ao compartilhar um post sobre o Kosovo com o mapa da “Grande Albânia”. A publicação fomentou discussões políticas acaloradas dos internautas, e rendeu acusações de que a cantora estaria promovendo uma ideia de “raça pura”, em que estrangeiros e descendentes não se misturam. Nesta terça (21), a estrela usou suas redes sociais para lamentar o episódio, e esclareceu qual era seu verdadeiro intuito com o compartilhamento.
Logo no início do texto, publicado em seu perfil do Instagram, a artista lamentou que algumas pessoas tenham distorcido completamente o que ela disse. “Meu post anterior nunca teve a intenção de incitar nenhum ódio. Fico triste e zangada que meu post tenha sido intencionalmente mal interpretado por alguns grupos e indivíduos que promovem o separatismo étnico, algo que rejeito completamente”, começou.
Filha de kosovares-albaneses, Dua Lipa relatou que esta não é a primeira vez que precisa lidar com a repercussão negativa ao se manifestar sobre suas raízes. “Sempre que eu publico sobre o Kosovo, meu feed fica louco, mesmo que seja algo alegre como comida ou música, e me deparo com uma forte resistência à ideia de uma autêntica cultura kosovana”, falou.
Para finalizar o assunto, a artista reforçou que o seu objetivo é apenas enaltecer suas origens. “Todos nós merecemos ter orgulho de nossa etnia e de onde somos. Eu simplesmente quero que meu país seja representado em um mapa e seja capaz de falar com orgulho e alegria sobre minhas raízes albanesas e minha pátria. Encorajo todos a abraçar sua herança, a ouvir e aprender um com o outro. Paz, amor e respeito a todos”, encerrou.
Entenda o caso
Em seu Twitter e Instagram, Dua Lipa compartilhou a definição da palavra “autóctone” no dicionário. “Adjetivo (de um habitante de algum lugar) – indígenas ao invés de descendentes de migrantes ou colonos”, escreveu. O que causou polêmicas, na verdade, foi a imagem que acompanhava o texto. A cantora postou a foto de um mapa da “Grande Albânia”, na qual o país engloba parte de territórios de outros locais como Sérvia, Montenegro, Macedônia e Grécia.
au•toch•tho•nous adjective
(of an inhabitant of a place) indigenous rather than descended from migrants or colonists pic.twitter.com/OD9bNmLcZ4— DUA LIPA (@DUALIPA) July 19, 2020
Kosovo travou uma guerra territorial com a então Iugoslávia entre 1998 e 1999, e a ideia da “Grande Albânia” incita um resgate desses territórios perdidos em batalha. O link entre a definição da palavra autóctones com o mapa, fez com que parte dos internautas entendesse que a cantora falava de um povo originário de uma terra que não misturou seus descendentes com estrangeiros, esbarrando na ideia da “raça pura” da Alemanha nazista de Hitler.
Por isso, Dua foi acusada de alimentar teses e fundamentos classificados como “nacionalismo estúpido”, pelo historiador Florian Bieber, que alegou que o mapa apresentado no post “representa o mesmo tipo de nacionalismo excludente e tão agressivo como qualquer outro”. “Ele prega que um grupo tenha mais direitos porque estava lá há mais tempo, o que nem faz sentido, considerando que as nações são modernas”, analisou.
Probably Dua Lipa doesn't know, but this map represents the same kind of exclusionary and also aggressive nationalism as any other. It claims that one group has more rights because it was there earlier, which is not a credible claim considering that nations are modern
— Florian Bieber (@fbieber) July 19, 2020
Mais usuários criticaram a artista. “Pessoal, prestem atenção no que eu vou falar. Essa mulher está apoiando uma ideia nazista da ‘Grande Albânia’, onde Albânia reivindica parte de países como Sérvia, Montenegro, o norte da Macedônia e Grécia. QUATRO PAÍSES? Ela está literalmente doente”, desabafou um usuário.
https://twitter.com/inthacleandress/status/1284956417024303114?s=20
Apesar da polêmica, Dua Lipa foi defendida pela população albanesa, que em grande parte, entendeu que a publicação seria uma forma de trazer luz ao negacionismo que ainda existe sobre a ‘indigeneidade’ desse povo. Muitos países membros da ONU (Organização das Nações Unidas) já reconhecem Kosovo como um país independente, mas isso ainda não é uma decisão unânime.