Ludmilla grava vídeo e se defende de acusação de intolerância religiosa: “Acham que eu sou maldosa nesse nível?”; assista

Nos Stories do Instagram, a cantora lamentou os ataques e acusou web de tirar apresentação do contexto

No último domingo (21), Ludmilla se apresentou pela segunda vez no palco do Coachella, famosos festival de música dos Estados Unidos. Entretanto, um detalhe da apresentação rendeu acusações de intolerância religiosa à cantora, que se manifestou sobre o assunto em suas redes sociais.

Durante a apresentação, um clipe de três minutos mostrou um compilado de imagens da periferia do Rio de Janeiro, entre elas um cartaz com os dizeres “Só Jesus expulsa o tranca rua das pessoas”. Internautas circularam prints da frase, apontando que o termo é utilizado de forma pejorativa para se referir a entidades de religiões como a Umbanda e o Candomblé.

Nos Stories do Instagram, Ludmilla rebateu as acusações de forma veemente. “Na minha cabeça, a minha visão tá tão óbvia que eu não preciso explicar, tem coisas que não precisam ser explicadas, está ali, gente, para todo mundo ver. Eu fiz um clipe de três minutos, com várias imagens do Rio de Janeiro, da favela, com várias imagens de tudo o que acontece na favela, isso foi uma mulher preta, periférica, que gravou pra gente. Um olhar de dentro pra fora da comunidade”, começou ela.

“Passam diversas imagens muito rápidas, uma atrás da outra, e aí vocês pegaram o print de uma e estão me acusando de intolerância religiosa… e o resto das imagens que acontecem lá? O tiroteio, o helicóptero passando em cima das casas, ônibus com fogo, quer dizer então que eu sou a favor de tudo isso? Vocês pegaram uma imagem e tiraram completamente do contexto. O contexto era de denúncia, de reclamação, e vocês viraram pra mim, vocês acham mesmo que eu seja maldosa nesse nível? C*ralho, gente do céu, que coisa mais horrível!”, disparou a artista.

Por fim, Ludmilla lamentou a tentativa de “apagar” seu sucesso no festival. “Vocês estão tão engajados em tacar ‘hate’ em mim, em tentar apagar tudo que eu fiz no final de semana passado e nesse também, na história sendo construída… Vocês estão tão empolgados com isso que vocês nem prestaram atenção no que realmente é a mensagem do show. No início do show tem um discurso super poderoso da Erika [Hilton] que fala exatamente isso, que nós não toleraremos nenhum tipo de preconceito. Aí tem retrato de bala perdida, p*rra, eu sou a favor do tiroteio na comunidade então, gente? Meu Deus do céu… Tem ônibus pegando fogo. Eu sou a favor de pegar fogo no ônibus. Caramba…”, ironizou.

Ela concluiu o desabafo: “Caramba, é difícil ver uma mulher preta fazendo sucesso e brilhando. Sempre tem que arrumar alguma coisa para falar mal. É triste, mas fazer o quê?! Espero que tenha explicado para vocês, para quem quer entender, porque tem gente que não vai querer entender”.

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Na madrugada de hoje (22), ela já havia falado sobre o assunto em seu perfil no X (antigo Twitter). “Quando eu disse que vocês teriam que se esforçar pra falar mal de mim, eu não achei que iriam tão longe. Hoje tiraram do contexto uma das imagens do video do telão do show em Rainha da Favela, que traz diversos registros de espaços e realidades a qual eu cresci e vivi por muitos anos, querendo reescrever o significado dele, e me colocando em uma posição que é completamente contrária a minha”, declarou.

“(…) Meu show começa com uma mensagem muito explícita, que não deixa dúvida sobre nada! Na sequência, eu apresento a realidade sobre a qual esse discurso precisa prevalecer! Sobre uma favela sem filtros, sem gourmetizações, sem representações caricatas, uma denúncia sobre o real. Estou aqui pelo que é real e não essa versão vitrine importada para gringo achar que esse é um espaço que se reduz a funk, bunda e cerveja!”, acrescentou.

“Não me coloquem nesse lugar, vocês sabem quem eu sou e de onde eu vim. Não tentem limitar para onde eu vou. Respeito todas as pessoas como elas são, e independente de qualquer fé, raça, gênero, sexualidade ou qualquer particularidade de que façam elas únicas”, concluiu Ludmilla. Leia a íntegra:

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Direção criativa do show se manifesta

Após comentários e ataques à Ludmilla, as diretoras criativas da apresentação, Nídia Aranha e Drica Lara, se pronunciaram. Em nota à imprensa, ambas saíram em defesa da cantora e, assim como ela, reforçaram que o trecho foi tirado do contexto de denúncia no qual foi apresentado.

“(…) Origem da favela, a ‘Rainha da Favela’. O que significa ser rainha da favela, se não falar pela favela e abraçar esse contexto de maneira mais verdadeira possível? Quando representamos a favela nos vídeos do show da Ludmilla, escolhemos trabalhar com uma mulher negra e de comunidade, que quer mostrar a rua e a periferia do jeito que são: lugares onde a violência e a injustiça social são rotina. As imagens de “Rainha da Favela” são uma denúncia para o que acontece nas comunidades do Brasil: pobreza, violência, abuso policial, racismo, lgbtfobia, crimes de ódio, intolerância, trabalho informal, pessoas em situação de rua e tantas outras. A ideia nunca foi maquiar essa realidade, mas mostrar de forma direta tanto as expressões socioculturais e o lazer desse contexto, mas também o sofrimento da favela, vítima da negligência histórica do Estado. Isso é vivido por muita gente, e é isso que uma artista como a Ana Julia Theodoro quer passar para outra artista como a Ludmilla”, disse o texto.

“Sabemos que no mundo das redes sociais, com todo mundo rolando a tela, uma única imagem pode ser interpretada de mil maneiras, e muita gente viu nela intolerância religiosa. Mas a imagem não estava lá para glorificar nada, mas sim para mostrar a realidade. A intolerância religiosa contra as crenças de matriz africana é uma triste realidade em nosso país, assim como qualquer tipo de discriminação contra grupos marginalizados em uma nação com tantos problemas e questões. (…) Para aqueles ofendemos com o vídeo, nossas mais sinceras desculpas. Mesmo que nossa intenção fosse denunciar discursos de ódio, sabemos que as pessoas são afetadas de maneiras diferentes. A essas pessoas, pedimos perdão. Aos que estão aqui apenas para atacar Ludmilla e sua arte com informações distorcidas e inflamadas… a mensagem por trás do figurino é clara: depois de tantos golpes, estamos blindados com coletes de ouro. Favela Chegou e a Preta venceu”, concluiu.

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