After all this time? Always! Trechos do diário do falecido Alan Rickman, nosso eterno Severo Snape, estão sendo publicados em um livro intitulado “Madly, Deeply: The Diaries of Alan Rickman” (‘Loucamente, profundamente: Os Diários de Alan Rickman’, em tradução literal), e os fãs da saga de J.K. Rowling foram surpreendidos com algumas revelações chocantes.
As páginas entregaram opiniões nada gentis de Rickman sobre seu papel como o professor de poções na trama e, também, sobre seus colegas de elenco. No entanto, o que realmente pegou os fãs de surpresa foi a confissão de que Alan desejava abandonar a franquia muito antes de sua conclusão.
Segundo trecho divulgado pelo The Guardian, ele só permaneceu no papel de Snape por conta de uma declaração da criadora do universo mágico. “Terminei de ler o último livro de Harry Potter. Snape morre heroicamente, Potter o descreve para seus filhos como um dos homens mais corajosos que ele já conheceu e chama seu filho de Alvo Severo. Este foi um verdadeiro rito de passagem. Uma pequena informação de Jo Rowling há sete anos — Snape amava Lily [Potter, mãe do protagonista] — foi o que me deu a borda de um precipício para me agarrar”, afirmou Rickman.
Durante a descrição de sua jornada, o intérprete de Snape também relembrou como foi seu primeiro contato com a autora. “Ela nervosamente me deixa ver alguns vislumbres do passado de Snape. Falar com ela é como conversar com alguém que vive essas histórias, não as inventa”, escreveu ele em 2000.
Ao longo da obra, Alan também revelou que queria deixar a saga após “Câmara Secreta”, lançado em 2002. “Conversando com o [meu agente] Paul Lyon-Maris sobre a minha saída de HP, o que ele acha que acontecerá”, confessou ele, em um trecho datado em 4 de dezembro de 2002. “Mas aqui estamos novamente na área de colisão do projeto. Reiterando, não farei mais Harry Potter. [Mas] eles não querem me ouvir”, pontuou o astro.
Alan apontou que tentou abandonar a franquia mais uma vez após o quarto filme, “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, mas acabou sendo convencido a permanecer, mesmo após ter sido diagnosticado com câncer de próstata, em 2005. “Finalmente, [disse] sim ao HP 5 (Harry Potter e a Ordem da Fênix). A sensação não é nem de estar para cima, nem para baixo. O argumento que vence é aquele que diz: ‘Veja esse projeto até o fim. É a sua história'”, detalhou ele.
Rickman ainda refletiu sobre seu estado mental durante as produções e admitiu que a treva e a reclusão do personagem de Rowling lhe afetavam mais do que o normal. “Percebo que assim que coloco o anel e o figurino [de Snape] – algo acontece. Torna-se estranho ser tagarela, sorridente, aberto”, pontuou o artista. “O personagem me estreita, me aperta. Não são boas qualidades em um set de filmagem. Nunca fui menos comunicativo com uma equipe”, lamentou ele. “Felizmente, Dan [Radcliffe] cumpre esse papel com facilidade e charme. E juventude”, avaliou.
Críticas e desconexão
Apesar de ter se tornado uma das figuras mais importantes do mundo mágico de Rowling, o ator muitas vezes se sentiu desconectado e até frustrado com a história e as adaptações para o cinema. Antes de começar a filmar “Pedra Filosofal”, em 2000, ele descreveu não sentir conexão alguma com o longa: “Não sinto nada sobre HP, o que realmente me perturba”.
Mesmo descrevendo relações de trabalho decentes com os diretores dos filmes, ele foi altamente crítico aos resultados. “A Pedra Filosofal, na tela grande, adquire uma escala e profundidade que combinam com a horrenda trilha de John Williams”, criticou a estrela, afirmando que “a festa do elenco foi muito mais divertida”.
Após assistir a “Enigma do Príncipe”, Rickman reclamou da “necessidade de bater as cabeças dos três Davids [produtores de Harry Potter, David Heyman e David Barron, e o diretor David Yates] contra a parede mais próxima”. “Eu entendo o desenvolvimento do personagem e os efeitos especiais (deslumbrantes), mas onde está a história????”, questionou ele.
Alan, no entanto, não poupou elogios a “Prisioneiro de Azkaban”, que pareceu ser seu longa favorito entre os oito da saga. Num dos trechos, ele enalteceu o diretor Alfonso Cuarón por fazer “um trabalho extraordinário“. “É um filme muito adulto, tão cheio de ousadia que me fez sorrir e sorrir. Cada quadro é o trabalho de um artista e contador de histórias”, escreveu.
O bom resultado, no entanto, não ocorreu sem seus desafios, já que os bastidores teriam sido recheados de embates entre Alan e Cuarón, um deles detalhado pelo ator em seu diário. “O dia começou de maneira fabulosa com a tela guilhotinando na minha cabeça, um apagão súbito e rápido seguido de melancolia de um dia inteiro. Alfonso foi discretamente surtado comigo. Eu o amo demais para deixá-lo durar muito tempo, então eu reclamei e resolvemos isso”, contou.
Na sequência, o astro criticou levemente as habilidades de Radcliffe e Emma Watson na época. “Ele (Cuáron) está sob a pressão usual de HP e até ele começa a ensaiar câmeras antes dos atores, e essas crianças precisam de direção. Eles não sabem suas falas e a dicção de Emma [Watson] é deste lado da Albânia às vezes. Além disso, meu suposto ensaio é com um substituto que é francês”, lamentou.
Alan Rickamn faleceu aos 69 anos em 2016 após uma longa luta contra um câncer de próstata. O ator é, até hoje, um dos mais queridos do universo de Harry Potter.
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