Com pseudônimo polêmico, J. K. Rowling lança livro de personagem transfóbica assassinada

Obra foi lançada sob o pseudônimo Robert Galbraith, que também gerou críticas à autora nas redes sociais

J.k. Rowling

Mais uma polêmica pra conta… Após uma onda de críticas por declarações transfóbicas na web, J.K. Rowling voltou a chamar atenção nesta semana com o lançamento de seu novo livro, “The Ink Black Heart” (“O coração de tinta preta”, em tradução livre). Isso porque a trama gira em torno de uma criadora de conteúdo que começa a ser perseguida após ter sido racista e transfóbica.

O novo romance foi escrito sob o pseudônimo Robert Galbraith e faz parte da série de suspense policial “Cormoran Strike”, que narra os casos do detetive particular de mesmo nome e seu parceiro Robin Ellacott, e contém, até o momento, cinco livros. Segundo a Rolling Stone norte-americana, a história parece espelhar a queda pública e o “cancelamento” de Rowling depois que ela continuamente fez declarações que foram amplamente condenadas como transfóbicas.

Na trama, a “heroína” Edie Ledwell, uma criadora de conteúdo responsável por um popular desenho animado exibido no YouTube, é “vítima” de haters nas redes sociais e vê seu próprio fandom se voltar contra ela depois que a atração é apontada como racista e capacitista, além de transfóbica devido a uma cena que envolve um verme hermafrodita.

Ao longo das páginas, a criadora tem fotos de sua casa espalhadas na internet, é alvo de ameaças de morte e estupro por “ter uma opinião”, e, eventualmente, acaba sendo morta, após ser esfaqueada em um cemitério. Ainda de acordo com o veículo, o objetivo do livro é criticar os “guerreiros da justiça social”. A obra supostamente sugere que Ledwell foi “vítima de uma campanha de ódio magistralmente tramada e politicamente alimentada contra ela”.

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A arte imita a vida

Para os que não se lembram, a escritora de “Harry Potter” protagonizou uma série de escândalos nos últimos anos: além de curtir tuítes que descreviam mulheres trans como “homens de vestido”, Rowling também zombou de um artigo de opinião que usava o termo “pessoas que menstruam”, apoiou a ativista Maya Forstater depois que ela foi demitida por seus tweets transfóbicos e escreveu uma longa declaração em junho de 2020 sobre as razões pelas quais ela estava “preocupada com o novo ativismo trans”.

Mesmo com a reação dentro e fora do fandom crescendo e as próprias estrelas da franquia mágica Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint condenando seus comentários, Rowling continuou a reforçar sua posição, mais recentemente protestando contra a Lei de Reforma de Reconhecimento de Gênero da Escócia, que ajudaria a simplificar o processo para pessoas reconhecerem legalmente seus gêneros.

Apesar das claras semelhanças com sua própria vida terem sido apontadas não só por leitores, mas também por grandes publicações britânicas e críticos do “The Sunday Times” e do “The Telegraph”, Rowling ainda assim negou qualquer conexão entre ela e o romance. Em uma participação no programa de rádio “The Graham Norton Radio Show”, a autora afirmou que tudo não passa de uma grande coincidência.

“Devo deixar bem claro depois de algumas das coisas que aconteceram no ano passado que isso (o livro) não está retratando [isso]“, disse ela. “Eu escrevi o livro antes que certas coisas acontecessem comigo online. Eu disse ao meu marido: ‘Acho que todo mundo vai ver isso como uma resposta ao que aconteceu comigo’, mas realmente não foi. O primeiro rascunho do livro foi concluído no momento em que certas coisas aconteceram”, apontou ela.

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Nova polêmica

Com o lançamento de “The Ink Black Heart” e o conteúdo da história, Rowling voltou a ser criticada online, também por conta do pseudônimo que usa para a série policial, “Robert Galbraith”. Como apontado por internautas, o nome pertenceu ao psiquiatra Robert Galbraith Heath, famoso por defender a conversão sexual ou a famigerada “cura gay”, bem como por tortura e o uso de pacientes como cobaias de experimentos nos anos 1950.

Em 2020, J.K. Rowling negou qualquer conexão com o médico, quando a questão veio à tona após lançar o romance policial “Troubled Blood”, que traz no enredo a investigação de um caso arquivado: o desaparecimento de GP Margot Bamborough em 1974, considerada vítima de Dennis Creed, uma travesti assassina em série.

J.K. Rowling usa o pseudônimo desde 2013, após o lançamento de “O Chamado do Cuco”. Na época, ela compartilhou que decidiu assinar alguns de seus livros como Robert Galbraith para homenagear o procurador-geral dos Estados Unidos Robert F. Kennedy (também conhecido como Bobby ou RFK) e fazer uma referência ao nome que ela queria ter quando criança, Ella Galbraith.

Segundo o tabloide inglês Metro.co, um representante da autora afirmou que ela não conhecia o psiquiatra Robert Galbraith Heath na época em que optou por se identificar desta forma. “Qualquer afirmação de que existe uma conexão é infundada e falsa”, reforçou.

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