Uma ossada encontrada dentro de uma chaminé em Boston, nos Estados Unidos, pode ser de uma brasileira. O cadáver foi descoberto em 2005, mas novas pistas da polícia local apontam similaridade genética com um padre chamado Murah, que vive em Cumari, no interior do Goiás. O novo caminho da investigação foi divulgado neste domingo (8), pelo “Fantástico“.
Tudo começou há 17 anos, quando Eric Speller foi contratado para ser o zelador de um prédio, no bairro de Dorchester, em Boston. “Logo que eu comecei a trabalhar aqui, eu percebi que precisávamos limpar a chaminé. E aí, contratei uma empresa para fazer o serviço. Quando abriram o acesso à chaminé, uma mão caiu para fora”, afirmou o norte-americano ao programa da TV Globo.
Paul Donovan, ex-chefe de investigações da polícia de Boston, acompanhou o caso na época. “Pensei que fossem ossos de animais. Acontece o tempo todo, nos chamam porque encontram ossos, quase nunca são humanos. Mas nesse caso era um esqueleto humano, de um corpo que não havia simplesmente sido colocado ali, mas cuidadosamente escondido”, declarou.
“O corpo estava empacotado e dentro da chaminé. Tivemos que quebrar a parede, e retirar tijolo por tijolo. Se levou horas para retirarmos, aposto que demorou horas para colocar ali”, completou Paul. Na época da descoberta, os investigadores estimaram que a morte tinha ocorrido até três anos antes. Ou seja, no mínimo em 2002.
A polícia de Boston nunca descobriu a identidade do corpo. Os exames apontaram que se tratava de uma mulher entre 25 e 35 anos, cabelos pretos ou castanhos e, segundo a análise dos ossos da bacia, já havia dado à luz pelo menos uma vez.
Além destes detalhes, foi encontrado uma prótese dentária na ossada. Segundo os peritos, o objeto foi fabricado no Brasil, pois os materiais usados apontaram para o local de origem. Mesmo com todas essas evidências, o caso foi arquivado por anos por conta dos poucos avanços nas investigações.
Mudança nos rumos da investigação
A virada de chave no caso da ossada aconteceu quando o detetive Charlie Daniels assumiu o caso, em 2019. Em entrevista ao dominical, ele revelou que estão usando uma nova tecnologia para casos antigos. “Estamos usando a genealogia genética forense nesse caso. O DNA apontava que poderia ter um parentesco com alguém no Brasil, de um estado chamado Goiás”, afirmou.
A pessoa a que Charlie se refere é o padre Murah Peixoto Vaz, que comanda uma paróquia na cidade de Cumari. Também em 2019, Murah descobriu que laboratórios de análise genética poderiam, com base no DNA, apontar sua ancestralidade. Ele cadastrou seu material genético em um desses sites, e permitiu que fosse compartilhado com polícias para investigações.
Anos depois deste cadastro, ele foi surpreendido com uma ligação. “Meu primo entrou em contato comigo dizendo: ‘Não pense que é um trote. O FBI entrou em contato com o delegado e eles estão em uma investigação policial de uma pessoa que foi assassinada nos Estados Unidos e que bateu correspondência com você no DNA’”, contou Murah.
A descoberta detalha que a vítima e o padre são parentes muito distantes, e dividem apenas 0,34% do DNA. As autoridades americanas entraram em contato com a Polícia Federal daqui. Nos perfis cadastrados na PF, os investigadores brasileiros não acharam nenhum parente da ossada encontrada.
Enquanto isso, Murah colabora com as autoridades dos EUA por conta própria. O padre segue coletando DNA de seus parentes para levantar possíveis informações úteis.
Pequeno detalhe
Ainda na reportagem, Eric Speller, atual zelador do prédio onde o crime ocorreu, reforçou que o assassino devia ter acesso ao local para levar o corpo e escondê-lo na chaminé, sem ninguém suspeitar, e revelou um detalhe importante: “Antes de eu começar aqui, a pessoa que trabalhava no meu lugar era um brasileiro”.
O programa da TV Globo questionou a polícia de Boston sobre o suposto zelador brasileiro. As autoridades não puderam comentar, pois a investigação segue em curso.