Cineasta afegã relata momentos de tensão para tirar sobrinhas do país após ofensiva do Talibã, e faz planos de voltar; saiba detalhes

Cineasta Afega Taliba

Em meio ao caos no Afeganistão, desde que o grupo extremista Talibã tomou o poder, a cineasta Sahraa Karimi tem feito fortes relatos sobre o que tem vivido. Nesta terça-feira (17), ela afirmou que conseguiu deixar a capital do país, Cabul, para proteger seus familiares. A diretora ainda contou que está registrando as cenas assustadoras que têm se alastrado por sua terra.

“Durante três dias e três noites, eu protegi seis das crianças do meu irmão, todas meninas; Ninguém sabe o que aconteceu comigo”, contou ela, pelo Twitter, afirmando que faz questão de gravar tudo isso para eternizar essa situação delicada. “Meu irmão está em péssimas condições há 24 horas; Mas eu não me esqueci de filmar; Eu filmei o tanto que eu pude para que nós não esquecêssemos do que eles fizeram conosco”, acrescentou a diretora.

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Karimi já havia feito um apelo e pedido por ajuda, dizendo que o Talibã destruiria a arte afegã. Agora, ela explicou que só conseguiu escapar de Cabul graças ao apoio da Academia Eslovaca de Cinema e Televisão, do presidente da Ucrânia e o ministro de Relações Exteriores, da embaixada da Turquia e o embaixador da Eslováquia. “Eles também salvaram outras 11 pessoas. Estou viva e segura”, relatou.

Contudo, segundo Sahraa, sua saída da capital foi apenas temporária para que ela pudesse salvar seu irmão e as suas sobrinhas. Depois dos 20 dias de licença, quando sua família estiver a salvo, ela pretende voltar. “Para aqueles que pensam que resgatar minhas sobrinhas é uma fuga, deixo para a consciência deles. Eu não escapei e não vou. De acordo com a Lei da Reforma Administrativa, eu pedi por uma licença de 20 dias. Eu vou levar as filhas do meu irmão para um lugar seguro, e se eles forem embora, voltarei a trabalhar”, declarou.

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Sahraa Karimi é a primeira diretora da Organização de Cinema Afegã. A cineasta foi a primeira e única mulher no Afeganistão a ter um doutorado em cinema. Ela dirigiu o longa “Hava, Maryam, Ayesha”, que esteve no Festival de Veneza. Com a ofensiva do Talibã, Karimi também registrou uma fuga tensa, pedindo que as pessoas divulgassem a situação que eles têm enfrentado por lá – especialmente as mulheres, vítimas de decisões abusivas dos fundamentalistas.

Entenda a situação do Afeganistão

Após 20 anos de guerra, o grupo extremista Talibã tomou a capital do Afeganistão, prometendo estabelecer um novo regime no local. A ocupação começou na noite deste domingo (15), com a invasão do palácio presidencial da cidade de Cabul. Em uma postagem nas redes sociais, o presidente Ashraf Ghani disse que se deparou com uma escolha difícil, mas que os insurgentes conseguiram retirá-lo do país. “Deveria suportar enfrentar o grupo armado que quis entrar no palácio ou sair do país querido que dediquei minha vida para proteger. Para evitar derramamento de sangue, achei melhor sair”, escreveu ele, que não revelou detalhes sobre sua atual localização.

A queda do governo afegão para o Talibã ocorre 20 anos depois de o grupo extremista ser expulso de Cabul pelos Estados Unidos, que invadiram o Afeganistão dias após os ataques de 11 de setembro de 2001. Em maio deste ano, o presidente dos EUA, Joe Biden, iniciou a retirada efetiva de todas as suas tropas do país. Com a saída dos norte-americanos, o grupo islâmico fundamentalista e nacionalista capturou novamente a capital afegã.

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Já nesta segunda-feira (16), cenas angustiantes foram registradas por residentes de Cabul, que se deslocaram até o Aeroporto Internacional Hamid Karzai para tentar deixar o país. Com a cidade tomada pelo Talibã, cidadãos não viram escolha a não ser escapar pelos ares. Vídeos divulgados nas redes mostram milhares de pessoas correndo pela pista do aeroporto, enquanto outras se agarravam a escadas para tentar entrar à força em aviões. Nas imagens de partir o coração, é possível ver ainda afegãos se pendurando do lado de fora de aeronaves no momento da decolagem, e despencando do céu, segundos mais tarde. Que tristeza!

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Também no domingo, Aisha Khurram, ex-embaixadora da Juventude da ONU, compartilhou o estado de angústia e medo em que as mulheres do Afeganistão se encontram no momento. “Alguns professores se despediram de suas alunas quando todos foram evacuados da Universidade de Cabul nesta manhã… e talvez não tenhamos nossa formatura assim como milhares de alunos em todo o país…“, escreveu ela. Lotfullah Najafizada, chefe do serviço de notícias afegão Tolo News, também postou no Twitter uma foto de um homem cobrindo de tinta imagens de mulheres pintadas em um muro de Cabul.

Lotfullah Najafizada Afeganistao Cabul
Muros sendo pintados no Afeganistão. (Foto: Reprodução/ Twitter)

Mais de 250 mil pessoas foram deslocadas pelos combates e tentaram encontrar refúgio na capital do país. Algumas que fugiram de áreas controladas pelo Talibã contaram que os militares obrigaram as famílias a entregar meninas e mulheres solteiras para se tornarem esposas dos combatentes.