Diretor James Cameron já sabia de implosão de submarino desde segunda: ‘Era tão evitável’

Em conversa com a CNN, Cameron admitiu ter sido informado por “fontes confiáveis” sobre uma implosão, mas preferiu manter o caso em segredo

Após confirmação das mortes dos tripulantes do submersível Titan, da OceanGate, o diretor de “Titanic“, James Cameron, voltou a se manifestar sobre a tragédia. Em entrevista à CNN, ontem (22), o cineasta revelou que já sabia do destino fatal dos passageiros desde segunda-feira (19).

Em conversa com o canal norte-americano, Cameron – que tem experiência no desenvolvimento de submersíveis e um histórico de anos com o Titanic – admitiu que foi informado sobre algum tipo de implosão perto dos destroços do famoso navio já na segunda, quatro dias antes do fim trágico do submersível vir a público. Ele teria sido informado graças à “inteligência de origem militar”.

“A primeira vez que ouvi falar disso foi na manhã de segunda-feira. Eu imediatamente entrei na minha rede – porque é uma comunidade muito pequena no grupo de submersão profunda – e descobri algumas informações com cerca de meia hora de que eles haviam perdido as comunicações e o rastreamento simultaneamente”, detalhou Cameron.

O submersível, operado pela OceanGate Expeditions, iniciou sua descida de duas horas até os destroços do Titanic na manhã de domingo (18).

O veículo perdeu contato com o Polar Prince, navio de apoio que transportou a embarcação até o local exato no Atlântico Norte, aproximadamente 1 hora e 45 minutos depois do início da expedição. As operações de busca, por sua vez, começaram horas mais tarde naquele mesmo dia. “Existem hidrofones por todo o Atlântico. (…) Recebi a confirmação de que houve um ruído alto consistente com uma implosão. Estou convivendo com isso há alguns dias, assim como alguns de meus colegas da comunidade de submersão profunda”, admitiu James.

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O diretor contou, ainda, que lamentou a catástrofe no particular e homenageou a tripulação em conversas com sua comunidade de submersão em alto mar, mas optou por não tornar a informação pública. “O único cenário que consegui pensar que poderia explicar isso foi uma implosão. Um evento de onda de choque tão poderoso que destruiu um sistema secundário que tem seu próprio vaso de pressão e sua própria fonte de alimentação de bateria, que é o transponder que a nave usa para rastrear onde o submarino está”, detalhou.

“Eu observei durante os dias que se seguiram todo tipo de busca, todo mundo correndo por aí com seus cabelos em chamas, sabendo muito bem que era inútil, torcendo para que eu estivesse errado, mas sabendo em meus ossos que eu não estava”, continuou. “Eu me sinto mal pelos familiares, que tiveram que lidar com tantas falsas esperanças sendo esfregadas [em seus rostos], enquanto a situação se desenrolava”, disse James.

Os destroços do submarino da OceanGate Explorations só foram encontrados no início da manhã de quinta-feira (22), a cerca de 500 metros do navio naufragado em 1912. No entanto, as mortes do milionário britânico Hamish Harding; do paquistanês Shahzada Dawood, vice-presidente da Engro, e de seu filho Suleman; bem como do experiente mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet e de Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions, só foram confirmadas às 16h, quando a Guarda Costeira dos EUA anunciou que os pedaços pertenciam ao submersível.

O milionário britânico Hamish Harding; o paquistanês Shahzada Dawood, vice-presidente da Engro, e seu filho Suleman; o experiente mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet e Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions faleceram após implosão do submersível. (Fotos: Reprodução/Arquivo Pessoal)

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James voltou a comparar detalhes da tragédia com o naufrágio do Titanic e admitiu que a comunidade de submersão em alto mar se preocupava com as expedições da OceanGate há tempos. “Acho que houve uma grande ironia, quase surreal, aqui, que é o Titanic ter afundado porque o capitão o levou a todo vapor para um iceberg, em uma noite sem lua, com visibilidade muito ruim depois de ter sido repetidamente avisado por telegrama e rádio durante o dia, que era o que tinha pela frente. Então, acho que também estamos vendo um paralelo aqui com avisos ignorados sobre um submarino que não foi certificado”, pontuou.

“Toda a comunidade de submersão profunda ou, na verdade, não toda a comunidade, mas um grande número deles se reuniu para escrever uma carta para OceanGate, a empresa, e dizer: ‘Acreditamos que isso pode levar a uma catástrofe’. Foi menos uma crítica à engenharia do que ao processo, mas contemplou o fato de que a engenharia provavelmente não passaria no teste de uma agência de certificação. E então eles estavam tentando impedir tudo isso, foi o nosso pior pesadelo”, acrescentou.

Ele finalizou: “Não nos lembramos da lição do Titanic. Esses caras da OceanGate não [se lembram], porque a arrogância com a qual enviaram aquele navio ao seu destino é exatamente a mesma coisa que enviou aquelas pessoas naquele submarino ao seu destino. E eu só acho que é de partir o coração, porque era tão evitável”.

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