Na última sexta-feira (7), uma equipe de cirurgiões norte-americanos realizou algo inédito ao transplantar com sucesso o coração de um porco geneticamente modificado em um humano. Segundo a Universidade de Medicina de Maryland, a operação demonstrou pela primeira vez na história que o coração de um animal pode continuar batendo num corpo humano, sem rejeição imediata.
O paciente, David Bennett, de 57 anos, tinha uma doença cardíaca terminal e o órgão do animal era “a única opção disponível atualmente“, já que após revisões de seus registros médicos, o homem foi considerado inelegível para transplante de coração convencional ou uma bomba de coração artificial. “Era morrer ou fazer esse transplante. Eu quero viver. Eu sei que é um tiro no escuro, mas é minha última escolha”, declarou.
A Food and Drug Administration, órgão dos EUA similar à Anvisa, concedeu autorização de emergência para a cirurgia em 31 de dezembro de 2021. Em comunicado emitido nesta segunda-feira (10), os médicos responsáveis por conduzir a operação informaram que Bennett passa bem, mas segue sob observação. Ele precisará ser monitorado por semanas para estudiosos definirem se, de fato, o transplante funciona para fornecer benefícios que salvam vidas.
“O coração está funcionando e parece normal. Ele cria pulso, cria pressão… Estamos emocionados, mas não sabemos o que o amanhã nos trará. Isso nunca foi feito antes”, observou o cirurgião Bartley Griffith, responsável por conduzir o procedimento. “Simplesmente não há corações humanos de doadores suficientes disponíveis para atender a longa lista de potenciais receptores. Estamos procedendo com cautela, mas também estamos otimistas de que esta cirurgia inédita fornecerá uma nova opção importante para os pacientes no futuro”, acrescentou.
Modificações genéticas
O coração transplantado para Bennett veio de um porco geneticamente modificado: quatro genes foram eliminados ou inativados, incluindo um que codifica uma molécula que causa resposta agressiva de rejeição humana. Outro gene também foi inativado para evitar o crescimento excessivo de tecido cardíaco do animal após a implantação do órgão. Além disso, seis genes humanos foram inseridos no genoma do porco doador — modificações destinadas a tornar os órgãos suínos mais toleráveis ao sistema imunológico do paciente.
Segundo dados oficiais, cerca de 110 mil norte-americanos atualmente esperam por um transplante de órgão e mais de 6 mil pacientes morrem a cada ano antes de encontrarem um doador. Para atender a larga demanda, médicos têm apostado nos xenotransplantes — transplante de órgãos ou tecidos de animais para humanos. Os porcos acabam sendo doadores ideais devido ao seu tamanho, crescimento rápido, ninhadas grandes e ao fato de estarem prontamente disponíveis, sendo criados para alimentação.