Que loucura! Uma jovem de 25 anos faleceu na cidade de Kollam, no estado de Kerala, sul da Índia, supostamente por uma picada de cobra. O caso ocorreu em maio de 2020, e deixou a família da garota desconfiada. Após investigação e um julgamento que tomou as manchetes nacionais, a polícia descobriu que o verdadeiro culpado pela morte era o marido da vítima.
Uthra foi encontrada por sua mãe, imóvel em sua cama, com uma mancha de sangue no braço esquerdo. Apesar de ter sido levada ao hospital, ela não resistiu. Uma autópsia, feita em 7 de maio de 2020, afirmou que ela havia sofrido uma picada de naja indiana altamente venenosa. Segundo a BBC Brasil, esse tipo de ataque é muito comum no país.
Mesmo assim, a família desconfiou e prestou queixa na polícia. A conclusão, depois que os oficiais averiguaram o caso, foi de que ela realmente morreu pela mordida da cobra, mas o assassino real era Suraj Kumar, marido de Uthra. Para completar, essa não havia sido a primeira tentativa do criminoso de matar a esposa. O homem foi considerado culpado e condenado à prisão perpétua pelo caso, descrito pelo juiz como “diabólico e medonho“.
O casal se conheceu através de um serviço de corretor matrimonial e se casou em março de 2018. “Queríamos encontrar alguém que a fizesse feliz. Ela era um pouco diferente, tinha dificuldades de aprendizagem. Queríamos um homem que pudesse cuidar dela“, contou o irmão da vítima, Vishu, segundo a BBC Brasil.
Kumar era um bancário de 27 anos, filho de um motorista de auto-riquixá, veículo de três rodas bastante popular na Índia, e uma dona de casa. O rapaz não possuía um histórico financeiro estável. Durante o julgamento, alegou-se que o assassino havia se casado com a jovem “com o objetivo de obter ganhos financeiros“. Inclusive, tendo em vista o casamento, ele recebeu um dote de 720 gramas de ouro, um sedã Suzuki e 500 mil rúpias (cerca de R$ 37 mil) em dinheiro.
Após um ano de casamento, os dois tiveram um filho, segundo documentos judiciais. Porém, os pais do rapaz queriam mais. “Uthra era uma pessoa que nunca via mal em ninguém. Sua dificuldade de aprendizagem fazia com que ela não tivesse como perceber que estava sendo usada“, relembrou Vishu. De acordo com informações do julgamento, a dificuldade de aprendizagem da moça estaria deixando o marido “insatisfeito”.
Tentativas de homicídio
O rapaz decidiu que mataria a esposa, e tentou duas vezes antes de ter sucesso. No final de 2019, Kumar começou a desenvolver uma obsessão por cobras, passando horas na internet assistindo a conteúdos sobre isso. Segundo os promotores do caso, em 26 de fevereiro, ele comprou uma víbora de Russell, uma das serpentes mais agressivas da Ásia, de um apanhador de cobras por 10 mil rúpias (cerca de R$ 756).
No próximo dia, ele deixou o animal na escada e pediu que a moça buscasse o celular no primeiro andar, esperando um ataque da cobra. “Mas sua tentativa não deu certo, porque Uthra viu a cobra e pediu ajuda“, contaram os documentos oficiais. No dia 2 de março, veio a segunda tentativa. Ele sedou a esposa, fazendo-a dormir rapidamente, e forçou a víbora a morder Uthra.
A moça acordou com “uma dor terrível” e foi levada ao hospital. Já no dia seguinte, enquanto a esposa ainda estava internada, Kumar pesquisou novamente sobre cobras. Dessa vez, ele comprou uma naja.
O crime
Foram 52 dias no hospital até que Uthra tivesse alta. Apenas 15 dias depois, o rapaz decidiu atacar novamente. A jovem estava sendo cuidada na casa dos pais, já que não conseguia andar. Kumar conseguiu levar a cobra escondida ao fazer uma visita à esposa. Ele voltou a sedá-la e, enquanto ela dormia, jogou a serpente em sua direção.
O animal, porém, não atacou. O assassino pegou então a cobra e forçou suas presas contra o braço de Uthra duas vezes. Kumar tentou fazer com que tudo parecesse um acidente, mas algumas pistas entregaram o crime. A largura das marcas das mordidas, por exemplo, indicavam que elas não foram naturais. Além disso, a cobra não teria conseguido entrar sozinha no local.
“Najas normalmente não mordem, a menos que sejam muito provocadas. E, depois das 20h, elas geralmente estão adormecidas“, explicou Hari Shankar, inspetor-geral adjunto da Polícia de Kerala que trabalhou no caso. Durante o ataque, Uthra dormia. Já seu marido, passou a noite tentando se livrar das provas.