Pastor narra últimos momentos de homem asfixiado com nitrogênio nos EUA: “Foi uma tortura”

Em conversa com a imprensa norte-americana, o conselheiro espiritual do condenado detalhou os “momentos de horror” que presenciou

O estado do Alabama, no Estados Unidos, executou um prisioneiro por asfixia com nitrogênio pela primeira vez na história do país, na última quinta-feira (25). Em uma entrevista após o ocorrido, o pastor evangélico Jeff Hood, que foi conselheiro espiritual do prisioneiro, detalhou os últimos momentos de Kenneth Smith, afirmando que o condenado aparentou estar “sofrendo” durante a execução da sentença de morte.

Kenneth foi condenado em 1989 pelo assassinato de uma mulher. O crime aconteceu em 1988 e, segundo a denúncia, a morte teria sido encomendada pelo marido dela, um pastor, que se suicidou na sequência. Kenneth chegou a entrar com dois recursos na Suprema Corte dos EUA e outro num tribunal federal para adiar a execução, mas perdeu em ambas as instâncias.

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Antes de se submeter ao gás, Kenneth estava “aterrorizado com a tortura do que poderia ocorrer”, contou o pastor em uma coletiva com a imprensa norte-americana. “Mas ele também estava em paz. Uma das coisas que ele me disse é que finalmente vai sair [desse local], revelou o pastor. Segundo Hood, ele também disse a Kenneth que o amava e fez o sinal da cruz para que “ele soubesse que não estaria sozinho”.

Segundo reportado pela agência de notícias AP (Associated Press), a execução de Kenneth Smith durou aproximadamente 22 minutos do início ao fim. Hood, que o acompanhou durante todo o processo, revelou que o prisioneiro conseguiu dar seu último adeus: um coração com as mãos antes do ‘ok’ para que dessem início à sentença de morte. “Esta noite o Alabama faz com que a humanidade dê um passo para trás… Estou indo com amor, paz e luz. Obrigado por me apoiarem. Amo, amo todos vocês”, declarou o prisioneiro.

Na sequência, o homem foi colocado numa maca, preso com amarras, e com uma máscara de gás sobre seu rosto, para substituir o ar respirável por nitrogênio. Hood explicou que, assim que o gás nitrogênio foi ligado na máquina de inalação, Kenneth ofegou bastante e pareceu “tremer e se contorcer”.

“Não vimos ninguém ficar inconsciente em 30 segundos. O que vimos foram minutos de alguém lutando pela vida, se contorcendo para frente e para trás. Vimos saliva. A máscara foi amarrada à parte de trás da maca e ele balançando sua cabeça para frente e para trás repetidas vezes”, lamentou o conselheiro.

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O pastor, que acompanhou o que ele chamou de “um show de horrores” de perto, afirmou que ele convulsionou por cerca de dois minutos, puxando as amarras que o prendiam, até perder a consciência. A respiração do condenado ficou pesada por cerca de nove ou dez minutos, até ficar imperceptível, revelou Jeff Hood, o que contradiz a afirmação do governo local de que o homem perderia a consciência em segundos.

Eventualmente, a falta de oxigênio e o gás nitrogênio puro o sufocaram completamente. “Um mal inacreditável foi desencadeado esta noite”, lamentou o conselheiro espiritual. “Eu nunca vi nada assim. Isso foi uma tortura. Kenny Smith não era, de forma alguma, uma pessoa perfeita. Mas temos que garantir que isso nunca mais aconteça”, declarou ele, que culpa Kay Ivey, a governadora do Alabama, o procurador-geral do estado Steve Marshall e os agentes penais “pelo terror que acabou de acontecer”.

O método foi usado pela primeira vez no país. (Fotos: Reprodução/News WKRG.5)

Ainda de acordo com a AP, testemunhas da execução teriam “suspirado” ao presenciar o episódio. Os agentes penitenciários teriam “ficado muito surpresos” pela falta de rapidez no método. À imprensa, Hood contou que uma das autoridades estaduais estava tão “nervosa que estava sapateando” ao presenciar a morte de Smith. “Eu podia ouvir seus pés batendo repetidamente porque eles queriam que aquilo acabasse”, recordou.

Horas antes de sua morte, Kenneth teve direito a sua “última refeição”, que consistiu de bife, fricassé, batatas fritas e torradas, conforme informado pelo Departamento de Correções do Alabama. Ele também teve direito a alguns telefonas e se despediu da esposa, Deanna Smith, dos filhos, de um amigo e de seu advogado.

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Em 2022, o condenado já havia sido submetido a uma injeção letal, que não teve resultado. Na época, os responsáveis pela aplicação declararam que “não conseguiram encontrar uma veia ‘boa'”. O método com nitrogênio, então, foi desenvolvido para tirar a vida de Kenneth. “Mas a maneira como eles estão construindo isso, a maneira como estão fazendo isso, a maneira como estão em silêncio, a maneira como estão retendo informações, sim, é extremamente preocupante”, lamentou o pastor. “É uma loucura absoluta”, acrescentou.

Com a repercussão do caso, a governadora do Alabama se manifestou. Ela confirmou que a morte de Kenneth Smith aconteceu por volta das 23h25 (02h25 em Brasília) de quinta-feira, 25 de janeiro. “Depois de mais de 30 anos e tentativa após tentativa de manipular o sistema, o Sr. Smith respondeu por seus crimes horrendos”, declarou Kay Ivey.
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