Ludmilla chegou com o antídoto! Nesta sexta-feira (3), a cantora finalmente estreia o clipe de “Cobra Venenosa”, canção envolta em polêmicas e especulações. A primeira vez que o público ouviu um trechinho da novidade foi justamente em um vídeo – uma espécie de dossiê – em que a artista reunia dissabores de sua experiência com a antiga amiga Anitta.
Foi o suficiente para que os fãs de ambas pensassem que a música fosse inspirada nessa rixa. Mas não. Em entrevista ao hugogloss.com, Ludmilla conta que “Cobra Venenosa” foi escrita há três anos, bem antes de qualquer desentendimento entre as duas. De acordo com ela, Anitta chegou até a ouvir a faixa. “‘Cobra Venenosa’ é uma composição minha. Escrevi há três anos. Quando eu e Anitta nos falávamos, ela me pediu para ver as músicas que eu tinha de funk 150 BPM. Uma das que mandei foi justamente ‘Cobra Venenosa'”, revela.
Ela insiste que o recente imbróglio com a cantora não teve nenhuma influência no lançamento da canção. “Eu já planejava“, diz. Desde o anúncio da estreia, a aposta tem rendido reações muito variadas. Uma parte das críticas reclama que a composição alimentaria a chamada rivalidade feminina. Ludmilla tem outra perspectiva. “Eu já li sobre isso também. Mas a música avança muito. Não acho que seja essa a mensagem, e o clipe vai mostrar isso com muito mais clareza, tenho certeza. Acredito que a letra aborde que não é porque duas mulheres não se dão bem que elas são automaticamente rivais“, pondera.
“Se fossem dois homens nessa posição íamos automaticamente achar isso? Ou pensaríamos que eles estão tentando se ajudar a melhorar? Não podemos aceitar passivamente tudo que outra mulher fala por ela ser mulher. É preciso ter um espaço saudável e respeitoso para crítica e debate, para criarmos pontes“, acrescenta. O clipe gravado num único dia, na terça-feira (30), em São Paulo descarta qualquer clichê de letras do tipo e afasta a ideia de um embate.
“Ele vai surpreender. Está demais. Porque acho que as pessoas se apegaram muito ao que acreditam ser a música. Mas a verdade é que o clipe mostra uma outra coisa, uma interpretação mais ampla e bem mais interessante do que é a cobra venenosa e de como a gente lida com esse veneno“, pontua. O vídeo se passa num ambiente inóspito, no que seria um futuro pós-apocalíptico, “destruído pelo racismo, pelo machismo e pela homofobia”. Esses seriam de acordo com Ludmilla, os verdadeiros “venenos”.
Ela lida com eles diariamente. Recentemente, foi alvo de ataques racistas mais uma vez nas redes sociais. Ludmilla enfrenta, mas reconhece que ainda há um longo caminho. A artista preta mais ouvida do país aponta para aonde os protestos que ocorrem agora mundo afora deveriam chegar. “Precisamos aliar isso à ação, pensar em como podemos contribuir para uma sociedade mais diversa, mais plural, acolhedora de suas diferenças. O movimento “Black Lives Matter” é muito importante porque traz para o debate uma coisa que é tão óbvia, mas que muita gente não entendeu ainda. Quando falamos que vidas pretas importam, não queremos dizer que as outras não importem. Queremos mostrar na verdade como os pretos são desumanizados, maltratados, invisibilizados. E queremos mudar nisso“, declara.
Confira a entrevista com Ludmilla na íntegra:
Hugo Gloss – Quando foi que você compôs a música?! Você escreveu sozinha? Qual a inspiração?! A letra foi feita para a Anitta, baseada no desentendimento que vocês tiveram?
Ludmilla – “Cobra Venenosa” é uma composição minha. Escrevi há três anos. Quando eu e Anitta nos falávamos, ela me pediu para ver as músicas que eu tinha de funk 150 BPM. Uma das que mandei foi justamente ‘Cobra Venenosa’. Minha inspiração foi falar sobre as mulheres que estão ao seu lado e te fortalecem, te acolhem, te levam para frente. Além disso, quis mostrar também que mesmo que você tenha algum atrito ou não goste ou não concorde com algo que outra mulher faz ou diz, é possível falar sobre isso e, assim, construir pontes entre nós. No clipe, essa mensagem fica muito evidente. Eu e o João (Monteiro, diretor) trabalhamos muito isso. Usamos o lúdico para abordar essa mensagem, e acho que o resultado ficou muito legal.
HG – Você já planejava lançá-la agora ou isso só aconteceu por conta daquela referência que a Anitta fez a você no programa dela no Multishow?
Ludmilla – Já planejava lançar a música.
HG – Depois que relatou sua experiência com Anitta, você recebeu apoio nos bastidores, de outros artistas, por exemplo? Teve gente vindo desabafar e contar novas histórias?
Ludmilla – Não. O apoio que recebi foi sobre as injúrias raciais que sofri. Muitos artistas se manifestaram sobre essa questão se mostrando indignados com os ataques que eu estava sofrendo.
HG – Você não é uma pessoa de desafetos, entretanto, com a Anitta, o imbróglio tomou outras proporções. Por quê?! E o que acha dela não ter se pronunciado sobre o vídeo em que você a expôs?
Ludmilla – Não sei. Quando me pronunciei, queria dar a minha versão. Só posso falar sobre como eu agi. Fui muito transparente.
HG – Desde que você anunciou “Cobra Venenosa”, a faixa recebeu críticas de que alimentaria a chamada rivalidade feminina. O que acha dessas queixas?
Ludmilla – Eu já li sobre isso também. Mas a música avança muito. Não acho que seja essa a mensagem, e o clipe vai mostrar isso com muito mais clareza, tenho certeza. É como eu disse antes, acredito que a letra aborde que não é porque duas mulheres não se dão bem que elas são automaticamente rivais. Se fossem dois homens nessa posição íamos automaticamente achar isso? Ou pensaríamos que eles estão tentando se ajudar a melhorar? Não podemos aceitar passivamente tudo que outra mulher fala por ela ser mulher. É preciso ter um espaço saudável e respeitoso para crítica e debate, para criarmos pontes.
HG – Muitos dos seus fãs especulam que em “Verdinha”, o trecho em que você canta “um dia vou poder falar toda a verdade. A máscara que vai cair diante da sociedade. Bang Bang!” seria um recado para Anitta, com alusão a uma canção dela – “Bang”. Procede?
Ludmilla – Não procede.
HG – Eu acho que você é uma compositora que sabe muito bem escrever o que o povo quer ouvir e o que vai grudar na cabeça do público. Como você se percebe? Quando você descobriu que tinha essa aptidão?
Ludmilla – Ah, muito obrigada! Fico muito feliz com isso. Eu sou uma pessoa que gosta de música, de ouvir. E acho que isso vai treinando o ouvido e me ajuda na hora de compor. Quando escrevo também começo a pensar na batida da música e aí já vou visualizando tudo. É um processo divertido. Acho que descobri fazendo. Fui compondo e gostando, vendo que dava certo. Eu me inspiro muito no que acontece ao meu redor, não necessariamente em experiências pessoais. Estar atenta também é importante porque aí a música se relaciona com questões que a gente vê no dia a dia. Também acredito que isso ajude na identificação que rola com o público.
HG – E o clipe de “Cobra Venenosa” já foi gravado, né?! Quando foram as filmagens e quanto tempo duraram?! O que teremos nessa produção?! A campanha de divulgação está intensa e com um cuidado interessante nas peças criadas. O clipe vai surpreender?
Ludmilla – Vou responder de trás para frente (risos). O clipe vai surpreender. Está demais. Porque acho que as pessoas se apegaram muito ao que acreditam ser a música. Mas a verdade é que o clipe mostra uma outra coisa, uma interpretação mais ampla e bem mais interessante do que é a cobra venenosa e de como a gente lida com esse veneno. Para mim, os vídeos divulgados ao longo da semana já vão mostrando isso, qual é o veneno da música. Estou curiosa para ver o que as pessoas vão achar. O clipe foi gravado em São Paulo, na terça-feira. Seguimos todos os protocolos para manter a equipe em segurança, tomamos todos os cuidados. No vídeo, o público vai se deparar com um mundo pós-apocalíptico e a gente lutando para melhorar a vida ali. As filmagens duraram um dia.
HG – Como fazer isso em plena quarentena?!
Ludmilla – Com todos os protocolos de segurança e usando uma equipe reduzida. Todos fizeram o teste antes de a gente começar a rodar para garantir a segurança.
HG – Por falar nisso, você contou recentemente ter descoberto que já contraiu a Covid-19. Você tomou as medidas necessárias? E como tem se cuidado agora?
Ludmilla – Eu tive e nem sabia. Quando descobri, fiquei chocada, não imaginava. Mas minhas taxas já estão negativadas. Tive há muito tempo. Logo depois do Carnaval, me senti mal. Não sei se foi nessa época que peguei. Não tenho como ter certeza porque não cheguei a fazer o exame lá atrás. Estou bem, passo meus dias em casa, com a família.
HG – Você já foi vítima de racismo diversas vezes, inclusive recentemente, desde que reagiu à provocação de Anitta. Isso acontece num momento em que a luta racial se dá de forma muito contundente lá fora, com manifestações lotadas contra a violência policial e outros abusos. Como você analisa o atual momento e o movimento “Black Lives Matter”?
Ludmilla – Estamos em um momento de mobilização muito importante. Agora precisamos aliar isso à ação, pensar em como podemos contribuir para uma sociedade mais diversa, mais plural, acolhedora de suas diferenças. O movimento “Black Lives Matter” é muito importante porque traz para o debate uma coisa que é tão óbvia, mas que muita gente não entendeu ainda. Quando falamos que vidas pretas importam, não queremos dizer que as outras não importem. Queremos mostrar na verdade como os pretos são desumanizados, maltratados, invisibilizados. E queremos mudar nisso.
HG – No “Prêmio Multishow” do ano passado, aconteceu um dos momentos mais emblemáticos do racismo enfrentado por você. Eu estava lá e pude ouvir as vaias, e até mesmo a ofensa racial. Foi muito triste, mas você soube dar uma ótima resposta no palco. A imagem que tivemos ali foi de resiliência. É sempre assim? Ou de vez em quando, essas coisas ainda te tiram o chão e te fazem sofrer?
Ludmilla – Essas coisas mexem com a gente, mas a gente aprende a responder. Essa palavra que você usou representa muito isso: resiliência. Era um momento de celebração da minha carreira. Eu não ia deixar aquelas vaias e injúrias raciais serem maiores do que a minha conquista, do que o meu trabalho. E falei sobre isso abertamente ali. Porque não vou me calar, esse tipo de atitude não vai me calar. A minha resposta é essa: fazer meu trabalho da melhor maneira.
HG – Você já tem novas canções pensadas para este ano? E parcerias? O feat com Cardi B vai sair?! Há alguma outra colaboração internacional no radar ou já gravada?
Ludmilla – Com a pandemia, tudo ficou meio em suspenso. Tenho já novos projetos para lançar, mas ainda não posso falar nada por isso. Estamos vendo como tudo vai ficar.
HG – Lud, o seu EP de pagode é muito bom! “Amor Difícil” é um hit. Com o lançamento de “Cobra Venenosa”, você vai encerrar a divulgação do “Numanice” ou depois retoma? Você lançará mais músicas de pagode?
Ludmilla – Adorei saber disso! “Numanice” foi um EP muito especial para mim e muito bem recebido pelo público. Todas as músicas entraram no TOP 200 do Spotify no seu primeiro dia de lançamento, algo jamais visto no pagode. Fui a primeira e única mulher a ser a capa da “Pagodeira”, maior playlist de pagode do Spotify. Fiquei muito feliz com a repercussão e com a sensação de dever cumprido. O EP já foi trabalhado e agora meu foco está em “Cobra Venenosa” e nos próximos lançamentos. E não fecho essa porta sobre lançar mais músicas de pagode. Eu adoro pagode. Se tiver uma música legal que eu faça, eu gravo. Não temos que nos limitar a fazer uma coisa só.
HG – Tem algum outro ritmo no qual você também quer se aventurar?
Ludmilla – Eu gosto de experimentar, de novidades, de trabalhar com pessoas diferentes. Hoje em dia, essa mistura de gêneros e estilos é cada vez mais comum. E eu adoro!
HG – Qual o melhor antídoto para lidar com uma cobra venenosa?
Ludmilla – O melhor antídoto é ser você mesma, seguindo a sua verdade. Quando a gente tem certeza sobre quem a gente é e sobre os passos que está dando, confia no processo. Para usar uma palavra que você trouxe aqui, acho que resiliência também é importante. E contar com as pessoas que estão ao seu lado, que te fortalecem, te apoiam e te acolhem. Isso tudo faz muita diferença.
Assista ao clipe de “Cobra Venenosa”: