Na última semana (24), a jornalista Ellen Ferreira foi demitida da Rede Amazônica, afiliada da TV Globo em Roraima, após fazer denúncias graves contra o ex-diretor de Jornalismo, Edison Castro. Em seus relatos, a profissional o acusou de assédio sexual e moral, racismo, homofobia e gordofobia.
Edison se defende
Em contrapartida, Castro negou ter assediado Ellen tanto moral, quanto sexualmente. “Tenho 30 anos de profissão, sempre pautados por muita retidão, por muita ética. Então, para mim, está sendo muito complicado ter que vivenciar esse linchamento público”, começou, em entrevista ao UOL.
“O que é assédio moral? É cobrar para ser equilibrado, para fazer jornalismo ponderado? Isso não é assédio moral. Eu, todo o tempo, elogiava os jornais. Quando não iam bem, eu criticava, mas coisas normais de uma redação. Assédio sexual nunca! Eu não entro nisso. Eu tenho meninas de lá que me adoram e sabem do respeito que eu sempre tive. Com a Ellen eu mal conversava. Cumprimentava ‘bom dia’, ‘boa tarde’, mas era uma pessoa difícil”, declarou.
O ex-diretor ainda tentou argumentar, dizendo que não era racista, homofóbico ou gordofóbico. “Vou te falar uma coisa que desmonta completamente [essa teoria]: meu chefe de pauta, que tive no Tocantins, é um rapaz negro, é meu melhor amigo. E homossexuais, todos foram promovidos na minha gestão. Eu convivo com isso há muitos anos e sou muito bem resolvido. Quem me conhece sabe como sou, sempre querendo o bem, sempre sendo divertido com as pessoas. Quando alguém estava precisando de grana, eu emprestava do meu bolso. Emprestava não, eu dava do meu bolso. Eu dava! Ela [Ellen] fala também que eu forçava as pessoas a tomar remédio tarja preta para emagrecer. Que maluquice!”, disparou.
Ainda de acordo com Edison, a apresentadora seria uma pessoa “tóxica e venenosa, que inventava coisas”. “É uma redação extremamente complicada, com interesses políticos, interesses pessoais. Eu fui para lá fazer um raio-x e identifiquei pelo menos meia dúzia de pessoas, entre elas a Ellen, que não tinham mais condições de ficar. Eram pessoas tóxicas, venenosas, que inventavam coisas. Desafio ela e qualquer pessoa a falar de assédio sexual ou moral, de provar qualquer coisa, porque não é o meu perfil isso”, concluiu.
Confira comunicado divulgado por Castro na íntegra:
“Para fins de esclarecimento a respeito da criminosa campanha difamatória desencadeada por Ellen Ferreira é necessário fazer algumas considerações. Tenho mais de 30 anos de história no jornalismo e tive o dissabor de acompanhar o emblemático caso ‘Escola Base’, onde inocentes tiveram a vida dilacerada pela cobertura precipitada e parcial de um jornalismo de emboscada e sensacionalista que, aliás, nunca pratiquei.
Os meus mais de 30 anos de jornalismo se pautam na honestidade, retidão de caráter e principalmente ética. Testemunhos de colegas a respeito de minha honestidade não faltam e têm sido de extrema importância, pois me confortam nesse verdadeiro linchamento a que estou sendo submetido. Tivessem os sites e portais de notícias que replicam matéria produzida de forma unilateral algum senso ético e de que estão sujeitos a reparar os danos, teriam tido a preocupação de respeitar a primeira regra do jornalismo: escutar o outro lado. Mas não! Na competição da atenção do público transformam em entretenimento o linchamento moral, como algo divertido a ser consumido.
Há quem viva disso e são aqueles tipos que não se surpreendem diante de ‘Oficiais de Justiça’ e ‘Citações Judiciais’, que o público sabe muito bem identificar.
Quando fui indicado pela Rede Globo, em agosto do ano passado, para trabalhar na sua afiliada Rede Amazônica Roraima, recebi a missão de identificar e corrigir problemas. Quanto a Ellen Ferreira, seu comportamento era notório em toda a redação. Não fui o único colega a sofrer suas ameaças e a ida à bancada do ‘Jornal Nacional’, no ano passado, potencializou sua arrogância e agressividade, que culminaram, recentemente, em sua demissão.
Buscarei a reparação civil e responsabilidade criminal na medida da culpabilidade de cada um dos responsáveis e meios de comunicação que estão promovendo esta verdadeira execução pública do meu caráter. Tenho plena convicção de que a verdade vai prevalecer, a mesma que me convence de que esta nota de esclarecimento não receberá de sites irresponsáveis a mesma atenção que recebeu a matéria a meu respeito. Lamentavelmente!”.
Ellen faz novo desabafo e rebate acusações do ex-diretor
Nesse domingo (26), a ex-apresentadora do Bom Dia Amazônia compartilhou em suas redes prints da chamada de uma entrevista de Edison ao site Portal Roraima. Na matéria, Castro a acusou de ter começado uma “campanha difamatória” contra ele, além de apontar comportamento “arrogante e agressivo” da ex-colega, após apresentar o “Jornal Nacional” em 2019, durante um rodízio de profissionais feito em comemoração dos 50 anos do telejornal.
“Gostaria de encerrar todo esse caso com essa matéria. Vejam que ele diz que sou arrogante e que pelo ‘JN’ mudei minha postura. Eu nunca mudei. Eu sempre fui simples e longe de ego e vaidades. Sempre reforcei que fui lá, mas na emissora tem pessoas que teriam competência de sobra pra apresentar. Sempre incentivei pessoas porque eu vim e sou de família muito humilde. E não tenho vergonha disso”, ressaltou ela.
Desafiada pelo próprio diretor a fundamentar sua versão da história, Ferreira disse ter provas a seu favor. “Ele me adoeceu. Tudo isso, o Sindicato dos Jornalistas e Ministério Público do Trabalho já tem ciência e há provas e testemunhas. Tenho mais relatos de outros estados onde ele passou. Muito triste o que esse homem fez na minha vida. Mas eu vou vencer. Deus na frente. Sempre”, concluiu. O Ministério Público do Trabalho confirmou ao UOL que “há inquérito em curso a fim de averiguar supostas ocorrências de assédio moral e sexual”.
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À coluna de Leo Dias, Maysa Ferreira, Savick Brenna e Shirley Barroso – outras três profissionais que trabalharam com Castro entre 2008 e 2018, em emissoras de Tocantins e Minas Gerais – também denunciaram o diretor por assédio moral e gordofobia. Confira abaixo:
Denúncia de Maysa Ferreira
Funcionária da TV Anhanguera, afiliada da TV Globo no Tocantins, Maysa relatou situações desagradáveis no ambiente de trabalho, desde o dia em que começou a atuar na redação. Na formatura de faculdade de Ferreira, os pais dela levaram uma faixa com a seguinte frase escrita “Não era o que nós queríamos, mas formou”, e a história repercutiu na empresa. “O Edison achava isso muito engraçado, só me chamava de menina da faixa, dizia que eu tinha futuro. Mas aí meu trabalho foi virando um pesadelo”, declarou.
Ainda em seu relato, a ex-contratada da TV Anhanguera contou que o comportamento de Edison lhe causou problemas psicológicos. “Passava uma repórter, ele chamava de gorda e mal vestida. Passava outra repórter, ele falava: ‘Nossa, se você não fosse casada, hein’. O tratamento com a equipe do interior era ainda pior do que com a de Palmas. Eu comecei a surtar mesmo, chorava dia e noite, não queria ir trabalhar. Tinha crises diárias de ansiedade”, desabafou.
Por fim, a repórter disse ter sido ameaçada por Castro na frente dos demais colegas de trabalho. “Ele gritou na frente de todos que os meus dias lá estavam contados”, contou. Mesmo com os abusos, Maysa tinha medo de denunciar o diretor para não sofrer retaliações. “Ninguém queria se arriscar a ficar queimado pelo todo poderoso da afiliada da Globo”, justificou ela, que foi demitida pelo ex-diretor em 2018.
Denúncia de Savick Brenna
Savick Brenna, outra funcionária da TV Anhanguera, já fazia parte da equipe quando Edison entrou na empresa em 2016. “A primeira impressão que tivemos foi de que ele era uma pessoa com bastante experiência. Porém, em algumas semanas, comecei a perceber a diferença do tratamento dele comigo nas reuniões de pauta. A gente tinha duas reuniões por dia e eu percebia que ele estava sempre brincando com outras pessoas, mas quando eu falava, ele nem olhava na minha cara e fazia piadas de mau gosto”, recordou.
De acordo com Brenna, o diretor a descriminava por conta de seu peso, e isso a causou danos psicológicos. “Eu ouvia comentários dele em relação ao peso das pessoas, e como eu sou gordinha, percebi que esse era o problema. Ele me olhava com desprezo. Eu ia trabalhar aterrorizada. Já não tinha mais disposição e alegria para ir trabalhar. Fiquei muito mal com isso. Mas nunca cheguei a enfrentá-lo por medo”, confessou.
Denúncia de Shirley Barroso
Antes de entrar para o time da TV Anhanguera, Edison atuou na Record Minas, local onde trabalhou com Shirley Barroso, em 2008. Segundo a experiente repórter, Castro desrespeitava os funcionários com frequência. “Ele não tinha receio de humilhar quem quer que fosse, a qualquer hora, em qualquer lugar. Colocava uns contra os outros, falava mal de todo mundo”, comentou.
Shirley disse ainda que o ex-diretor oferecia remédios, corroborando com as acusações feitas por Ellen. “Uma vez, ele chamou uma repórter na sala dele e ofereceu sibutramina [medicamento para tratar a obesidade] para ela. Em outro caso, durante a cobertura do sequestro da Eloá, em São Paulo, o Edison tomou a transmissão de uma repórter e passou a fazer a narração dando informações inverídicas. Ficamos horrorizados, mas ele era o chefe”, lembrou.
Edison foi afastado da filial de Belo Horizonte após denúncias feitas para o presidente de jornalismo da Record da época, Douglas Tavolaro. “Fizemos uma festa para comemorar a saída dele. Não entendo como ele ainda consegue se manter no jornalismo com tamanha prepotência e arrogância”, lamentou.
Entenda o caso
Após 20 dias afastada da Rede Amazônica, afiliada da TV Globo em Roraima, por contrair o coronavírus, a jornalista Ellen Ferreira retornou ao trabalho na última quinta-feira (23), mas foi recepcionada com más notícias. Sob alegação de reestruturações na empresa, a direção avisou que a profissional estava desligada.
Entretanto, Ellen acredita que o motivo por trás da demissão seria outro, e suspeita estar sendo vítima de perseguição, por ter denunciado um ex-chefe de jornalismo do canal, Edison Castro, por assédio. Em entrevista ao UOL, a apresentadora deu mais detalhes do caso.
“Óbvio que o que aconteceu foi uma perseguição. Eu estava havia uns três meses, junto com outros funcionários, levando para o Sindicato dos Jornalistas do estado e para o Ministério Público do Trabalho situações graves de assédio sexual e moral que enfrentamos lá dentro. Situações vexatórias, de racismo, homofobia, gordofobia. Ele é um psicopata”, disparou.
Ferreira também disse que o comportamento de Edison não era novidade para muitos funcionários. “Teve uma apresentadora em Tocantins que tentou se matar pelo assédio que sofreu. Ele obrigava uma outra funcionária a tomar remédios tarja preta, porque ela era gorda. Ele não era profissional. Tinha gente que queria bater nele na rua! Resolvemos ir atrás dos nossos direitos”, explicou.
A profissional ainda declarou não ter recebido nenhum tipo de suporte de outros chefes dentro da Rede Amazônica, não vendo outra saída a não ser procurar o próprio Ali Kamel, diretor geral de jornalismo da TV Globo, para relatar os casos. Segundo ela, nem assim conseguiu uma resolução e somente no dia 29 de junho, graças às denúncias feitas no Ministério Público do Trabalho e no Sindicato dos Jornalistas, Castro foi desligado do cargo.
Ela não imaginava, entretanto, que também diria adeus ao emprego. “Ainda estou muito magoada. Não sei quais os próximos passos que vou dar. A realidade é que hoje estou desempregada. Eu sou renda dos meus pais e dos meus irmãos. Como vai ser daqui para a frente? Não quero nunca mais olhar para ele (Edison). Quando falo dele, ainda tremo. Ele acabou com a minha carreira”, desabafou.
A jornalista ainda pondera sobre abrir algum processo na Justiça contra Edison. “Assédio é grave, as pessoas não podem se calar. Precisava lutar por mim. Minha autoestima e vontade de viver estavam acabando. A Globo achou que eu era um peso, mas eu faria tudo de novo. Como alguém tão doente é líder do jornalismo? Só queríamos que ele saísse para sentir paz. Seguir adiante com essas denúncias é um caso a se pensar”, afirmou.
Em nota, a TV Globo se manifestou e repudiou o caso: “As afiliadas da Globo comungam dos mesmos princípios editoriais, mas são empresas independentes. O diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, ao receber e-mail da jornalista Ellen Ferreira, entrou imediatamente em contato com o setor de afiliadas para que a queixa fosse transmitida à Rede Amazônica. A Globo reitera que o respeito é um valor fundamental do seu Código de Ética. A empresa repudia qualquer tipo de assédio ou preconceito, que não são tolerados no ambiente de trabalho em nenhuma hipótese. Os esclarecimentos sobre o que ocorreu depois devem ser dados pela afiliada”.
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Dossiê foi apresentado ao Sindicato dos Jornalistas
Em conversa com a coluna de Leo Dias, Ellen fez mais acusações contra o ex-diretor de jornalismo. “Ele debochava de um repórter que era gay. Chamou o cabelo de uma repórter negra de ‘moita feia’. Ele dizia que eu era repugnante, gorda, que me vestia mal. Me ameaçava de demissão constantemente. A fama dele era de ‘João de Deus da redação'”, comentou.
Com a ajuda de outros funcionários afetados pelos atos de Edison, um dossiê foi montado, e enviado ao Sindicato dos Jornalistas de Roraima (Sinjoper). Ferreira ainda mencionou que mesmo após o desligamento, o ex-diretor ainda tinha influência na empresa, e por isso ela foi demitida.
“Meu sonho foi interrompido. Eu estava escalada para apresentar o ‘Jornal Nacional’ mais duas vezes esse ano, mas foi adiado por conta da pandemia. Agora, estou demitida”, lamentou. A apresentadora, por outro lado, não se arrepende de ter feito as denúncias. “Eu lutei por uma equipe. Fiz o que foi necessário para acabar com aquela palhaçada e faria de novo. Acabaram com meu sonho, mas eu tenho saúde e vou conseguir me recuperar“, concluiu.
Confira o relato de Ellen enviado à Globo na íntegra:
“Essa mensagem é um desabafo. Apenas um breve relato do que a praça de Roraima tem vivido. Eu ainda estou de luto em família. Estamos no limite com a situação de coronavírus e estamos trabalhando com muita garra diante de um fade grande, no meu caso, de 1h20 minutos.
Com tantas coisas acontecendo, o Edison, chefe de Roraima, ameaça, cria briga entre funcionários, deturpa as coisas e situações e estamos exaustos de tanta pressão psicológica. Ele repete que vai me demitir (também ameaça a outras pessoas) e, no meu plantão de sábado passado, repetiu todo tempo que ia me demitir e que minha situação ‘estava complicada’. Não sou de faltar, cumpro minhas obrigações, produzo, apresento, faço reportagens, e nunca me vi como agora com pavor e mandando mensagens de ajuda. E me sinto sozinha e oprimida.
Se ouvissem os funcionários, mas não nos ouvem, saberiam que estamos no limite. Reforço que estamos dando o nosso máximo na cobertura jornalística. Mas viver com medo e sensação de que vamos perder emprego é algo sufocante e ruim.
Ele faz fofocas, intrigas, joga um contra o outro. Estou esgotada. Quando ele chegou a Roraima, pensávamos que seria uma nova era e estamos frustrados com tanta humilhação. Comigo fez uma fofoca e sou a bola da vez, onde me trata um dia bem, outro não, vira a cara e faz ameaças. Para os chefes maiores, é o cara, lúcido, visionário e persuasivo. Pra nós, meros funcionários, perseguidor, e eu estou à base de remédios.
De fato, ele entende de TV. Mas com as pessoas tem criado clima insustentável e não podemos falar, fazer nada, porque somos oprimidos. Ele afirma às pessoas: ‘A empresa tá do meu lado’, e a gente engole seco. Quando me deu aumento de 500 reais, fiquei feliz demais, mas repetidas vezes jogou na minha cara o aumento e pensei em ir no RH pra voltar meu salário antigo.
Ele reverte tudo. Ele faz uma artimanha de humilhar, bater na pessoa e, no dia seguinte, dar flores, elogiar. Isso é desgastante. Doentio. É acusado de assédio sexual também, a moça levou pro RH de Manaus, mas acabou desistindo por medo dele. E eu só quero trabalhar em paz, sem pressão e humilhação, assim como os funcionários desta emissora que vivem com medo.
Na quinta-feira, durante uma entrevista pela internet, ele que cria situações pra me desestabilizar no ‘JRR1’, mandou eu repetir o sobrenome do entrevistado que eu tinha dito certo. Pois ele atrapalhou duas vezes a minha entrevista indo ao estúdio dizer que quem manda é ele.
Eu apresentei por 1h20 querendo chorar. Angustiada e pedindo força pra Deus. Quem vê, não mexe, porque ele disse que a empresa está do lado dele. Por fim, pedi ajuda de Manaus, daqui de Roraima, e só me sugeriram demissão. E segunda-feira eu terei a resposta. Jamais imaginei enfrentar tudo isso e me sentir só, mesmo sabendo que não sou errada e estou sendo assediada, mas não tenho voz. Estou em pânico. Não sei mais o que fazer. Obrigada”.