Entrevista: Elenco de “A Viagem” se ‘reúne’ após 26 anos, e fala a Hugo Gloss sobre sucesso e reprise da novela; assista

Prontos para matarem a saudade? Nessa segunda-feira (21), às 15h, retorna às telinhas do canal VIVA, a novela “A Viagem”, escrita por Ivani Ribeiro. Baseada na Doutrina Espírita de Allan Kardec, a produção, bastante querida pelo público, tem como mote, a vida após a morte. Exibida pela primeira vez em 1994, na TV Globo, a história já foi reprisada duas vezes no “Vale a Pena Ver de Novo”, em 1997 e 2006, e uma vez no VIVA, em 2014.

Na trama, Alexandre (Guilherme Fontes) é um jovem rico, rebelde e delinquente, que mata o tesoureiro da empresa de sua família, após ser pego roubando o cofre para pagar uma dívida. Diná (Christiane Torloni), sua irmã, tenta protegê-lo de ir preso e recorre ao advogado Otávio Jordão (Antônio Fagundes), amigo da vítima, que não apenas se nega a defender o assassino, como promete fazer de tudo para que ele pague pelo crime. Condenado, Alexandre se mata e jura vingança a todos que acredita serem responsáveis por seu trágico fim.

A produção se tornou uma das recordistas em audiência na faixa das 19h e será novamente apresentada, inclusive, graças aos muitos pedidos do público. O sucesso foi tanto que levou a um aumento de 50% na venda de livros espíritas na época, segundo livrarias especializadas. Para celebrar a reprise, o elenco de “A Viagem” se “reuniu” com Hugo Gloss, e durante um bate-papo leve, avaliou o êxito da trama, assim como revelou algumas curiosidades dos bastidores.

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Segundo Fagundes, a doutrina de Allan Kardec consegue conquistar até mesmo pessoas não-religiosas. “É a quinta vez que a novela vai ao ar. Isso prova realmente a perenidade dessa novela, ela resiste a todas as épocas, porque em 26 anos [desde a estreia], já passamos por tudo nesse Brasil. A novela continua tocando o coração das pessoas e acho que grande parte disso se deve a teoria espírita de Allan Kardec. É uma doutrina extremamente reconfortante e moderna, porque foi escrita no século 19, então diz muito pra nós ainda hoje. Acho que a base que a Ivani pegou pra fazer essa novela, que foi basicamente ‘O Livro dos Espíritos’, é uma doutrina muito bonita, mesmo para aquelas pessoas que não acreditam”, analisou.

“Guilherme falou que é agnóstico, eu também sou, e a gente estava brincando que o agnóstico é um ateu covarde, né? (risos) Deixa sempre uma pontinha de ‘pode ser que exista’. Mas a doutrina é linda! Mesmo pra quem não acredita em nada”, acrescentou.

“A novela continua tocando o coração das pessoas e acho que grande parte disso se deve a teoria espírita de Allan Kardec”. (Foto: Acervo TV Globo)

A repercussão do vilão Alexandre

O espírito obsessor Alexandre foi um dos papeis mais marcantes da carreira de Guilherme, que na época, assustou muita gente pelo Brasil. “Olha, eu vivi muitas coisas tenebrosas e usaram muito desse personagem contra mim, eu não tenho dúvida disso. (risos). A maioria do que se falou sobre mim nos últimos 15 anos foi sempre com uma foto do Alexandre estampada na página. Então, eu e o mal estivemos muito próximos por muitos anos, pelo menos na ficção (risos)”, brincou.

O ator disse que jamais imaginou que o personagem ficasse tão conhecido e gerasse tanta repercussão. “A gente nunca espera um resultado desses… Só a título de curiosidade: Uma vez eu estava num voo, tinha uma criança tocando o terror no avião. Aí, de repente, ela veio correndo e pá! Deu uma cacetada na porta da cabine do piloto. Quando ela virou pra trás, ela me viu. Quando ela me viu, meu Deus do céu! Ela começou a chorar e fugir, com medo de mim! Depois ela ficou muda lá atrás!”, lembrou ele, aos risos. Apesar dos pesares, Fontes se mostra muito grato pelo papel: “Enquanto ator, foi um presente dos deuses”.

“Eu e o mal estivemos muito próximos por muitos anos, pelo menos na ficção”. (Foto: Acervo TV Globo)

Wolf Maia omitiu detalhes da trama para conquistar Torloni

A atriz estava morando em Portugal, quando recebeu o convite de Wolf Maia para participar da produção. O diretor, entretanto, só revelou alguns detalhes da trama quando Christiane já estava no Brasil, pronta para gravar. “Foi um convite irrecusável. Wolf me mandou uma parte da sinopse, não me mandou a sinopse completa. O começo da novela tem uma parte que é meio engraçada entre a Diná e o marido dela, que na época era o Maurício (Mattar) que fazia. Era engraçado, porque ela era uma personagem muito chata, ciumenta, uma mulher que nenhum marido quer ter, porque ela não dá paz pra ele, nem no banheiro da própria casa. E eu a achei engraçada! Mas toda a parte religiosa, espírita, mística, não estava no roteiro”, recordou.

Graças ao truquezinho, Torloni adentrou o mundo da atuação mais uma vez. “Quando voltei pro Brasil e comecei a ler [o roteiro], falei para o Wolf: ‘Cara, cê mentiu pra mim?’. E ele falou: ‘Sim. Se eu contasse pra você o que era, você não ia aceitar nunca’. Mas foi bonito, porque foi um truque interessante. Meu filho Leonardo já tinha voltado pro Brasil e eu tinha muita dúvida se eu inclusive ia voltar a atuar. Eu já tinha encaminhado minha carreira para um outro caminho, mais de direção, estava fazendo coaching de atores de fora… Foi incrível!”, afirmou.

“Falei para o Wolf: ‘Cara, cê mentiu pra mim?’. E ele falou: ‘Sim. Se eu contasse pra você o que era, você não ia aceitar nunca'”. (Foto: Acervo TV Globo)

Fagundes diz que elenco o convenceu a participar da trama

Além de fatores, como o tema da novela e o horário de exibição da mesma, às 19h, Antônio explicou que decidiu aceitar o papel de Otávio após saber com quem contracenaria. “Eu tinha acabado de fazer uma novela e estava muito cansado na época, me lembro que queria descansar, queria parar. Quando o Wolf me chamou pra fazer ‘A Viagem’ e me contou qual era o elenco – porque também tem isso né? Quando você fica sabendo quem vai fazer, você fala: ‘Vai ser bom o negócio’!”, animou-se.

“Era um horário que eu nunca tinha feito ainda, que era das 19h. As minhas novelas eram sempre das 20h ou das 22h. Isso tudo junto com o tema – que era uma coisa que sempre me interessou, embora na época eu conhecesse menos do que eu conheço hoje – tinha essa coisa do elenco, que era algo muito gostoso e que se provou certo, porque foi uma delícia a gravação dessa novela! Não me lembro de um incidente desagradável, sempre foi muito legal fazer. E aquela brincadeira que eu gosto de fazer: Foi a única novela que o público torcia pra mocinha morrer!”, comentou em seguida.

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De fato, a produção conta com diversos outros nomes de peso, como Laura Cardoso (Guiomar), Miguel Falabella (Raul), Ary Fontoura (Tibério) e Claudio Cavalcanti (Dr. Alberto). A intérprete de Guiomar, por sua vez, se lembra com bastante carinho dos muitos ensaios necessários para viver a personagem e fazer cenas delicadas com Guilherme Fontes. “A gente sempre tem muito ensaio antes de fazer uma cena. Eu sou meia ‘de ferro’, sou adepta sempre de muito ensaio, de conhecer realmente a cena e quem você vai contracenar. Sempre dá um bom trabalho”, declarou.

“Sou adepta sempre de muito ensaio, de conhecer realmente a cena e quem você vai contracenar. Sempre dá um bom trabalho”. (Foto: Acervo TV Globo)

Os perrengues por trás das câmeras

Pensam que o mundo da atuação são só flores, é?! Não se esqueçam dos espinhos! Kkkk Fagundes se divertiu ao lembrar das dificuldades ao gravar as cenas do “céu”, vulgo ‘Nosso Lar’, colônia espiritual onde Otávio e Diná se reencontram. “Nossa, aquele céu era um campo de golfe em Petrópolis. Aquilo era um inferno! Era um campo de golfe e aquela grama tinha uns espinhos, você lembra disso, Cris? E a gente ficava descalço, porque no céu não tem sapato, né?! (risos) Era um sofrimento aquilo ali, viu?!”, admitiu.

Guilherme, por sua vez, também passou por poucas e boas na locação que serviu de cenário para o “Vale dos Suicidas”, lugar para onde vai o espírito de Alexandre. “O vale dos suicidas era tenebroso (risos). Era uma pedreira muito calorenta em Niterói. Colocavam fogo pra cac*te, era um lamaçal, um lugar cheio de mosquito, era tenebroso filmar lá. Graças a Deus a gente fez aquilo em poucos dias!”, declarou.

Medo de falar com autores?

Por incrível que pareça, Antônio Fagundes conversou apenas uma vez, por telefone, com Ivani Ribeiro, que ao longo das filmagens enfrentou problemas de saúde. Já Guilherme e Christiane nunca tiveram contato com a autora. “Eu tinha medo de falar com os autores. (risos) Até hoje eu tenho, sabia? Eu fico mandando mensagens só pelo ar. Eu sempre respeitei muito essa ‘hierarquia’ também, do diretor se relacionar com o autor. Os diretores são muito orgulhosos de poderem dizer o que o autor está querendo dizer pra você. ‘Nossa, falou que está gostando e tal’. Enfim… sempre tive muito pudor de entrar em contato com o autor. A menos que ele entre em contato comigo, eu fico muito na minha”, justificou Torloni.

Sobre a reprise de “A Viagem” e de “Fina Estampa”

Recentemente, muitos telespectadores criticaram a reexibição de “Fina Estampa”, novela estrelada por Christiane, devido ao teor das narrativas da mesma. A atriz, por sua vez, saiu em defesa da produção. Questionada, Torloni ponderou se “A Viagem” envelheceu bem ou mal. “A novela não envelheceu!”, opinou Fagundes.

“Está respondido! Acho que é muito interessante isso – como o tempo pede a novela de novo. Todas as vezes que essa novela foi reprisada, se você olhar o panorama, o que que estava acontecendo no Brasil quando a novela foi pro ar pela primeira vez e em todas as reprises, você vai ver que tem alguma crise, alguma dor, alguma coisa que está atacando… E vem como aquilo que eu falei né, parece que é um antídoto, que as pessoas dizem assim: ‘Eu tô precisando desse remédio'”, concordou ela.

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Já sobre a novela de Aguinaldo Silva, ela destacou: “‘Fina Estampa’ entra nesse universo como a arte, através do riso, principalmente porque a novela é uma farsa, né, ela traz essa possibilidade das pessoas descansarem, principalmente no começo da pandemia, onde nós estávamos absolutamente pasmos com a possibilidade de ter, como agora, 600 pessoas morrendo por dia. Então assim, eu acredito que ‘Fina Estampa’ foi reprisada, [pois] ela devia estar lá na lista do ‘Vale A Pena Ver De Novo’, e foi uma grande jogada. Foi uma grande jogada porque na verdade assim, eu não tenho nenhum trabalho que eu me arrependa de ter feito.”.

“Acho muito estranho a gente se arrepender de um trabalho. Tem trabalhos que são complexos, tem outros que você vê dificuldades, esse mesmo, ‘A Viagem’, deu muito trabalho pra ser feito, mas assim… Eu não me arrependo. Eu acho que se você pegar uma personagem como, [risos], a Tereza Cristina… o Brasil tá cheio de Terezas Cristinas. É impressionante. Eu não só não me arrependo, como faria de novo. Todos os personagens, entendeu?”, concluiu.

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Artistas gostam de se ver nas reprises

Além do lado ator, os artistas de “A Viagem” exercem o lado telespectador também, e avaliam as próprias performances! “Eu gosto de ver, até porque depois de 26 anos, aquele cara lá não sou eu mais, né? É um cara lá que tá falando, o cara que faz o Otávio Jordão e eu posso até me dar o luxo de dizer: ‘Pô, tá bem esse cara, hein?'”, comentou Fagundes. “Na hora, você fica meio com vergonha”, acrescentou.

Laura Cardoso faz questão de não perder as reprises dos projetos que participou. “Assisto sempre! Adoro ver reprise, porque aí eu vejo onde eu errei, onde eu acertei, o que eu gostei… vejo sim, vejo sim! Gosto muito do meu trabalho. Eu digo, trabalho não o meu, o trabalho que foi feito pelos colegas, gosto sim e vejo”, afirmou. Fofa!

Confira o bate-papo na íntegra, abaixo: