[Alerta de spoilers!] A 2ª temporada de “Euphoria” tem mostrado a personagem Rue, interpretada por Zendaya, se afundando cada vez mais no seu vício em drogas. Por conta disso, a produção foi criticada pela organização “Drug Abuse Resistance Education (D.A.R.E)” [“Educação para a Resistência às Drogas e ao Álcool”, em tradução livre], dos Estados Unidos. Em entrevista ao site Entertainment Weekly, divulgada neste domingo (6), a atriz respondeu as acusações sobre a atração “romantizar” o uso de drogas por adolescentes.
Ao TMZ, a organização alegou que a série incentiva comportamentos destrutivos, quando deveria apoiar os pais a alertarem os filhos das consequências do vício. “Em vez de incentivar o desejo de cada pai de manter os filhos a salvo das consequências potencialmente horríveis do abuso de drogas e outros comportamentos de alto risco, o drama televisivo da HBO, “Euphoria”, opta por glorificar e retratar erroneamente o uso de drogas por estudantes do ensino médio, vício, sexo anônimo, violência e outros comportamentos destrutivos tão comuns e difundidos no mundo de hoje”, afirmou.
“É lamentável que a HBO, redes sociais, críticos de programas de televisão e a publicidade paga tenham escolhido definir o programa como ‘inovador,’ em vez de reconhecer as possíveis consequências negativas para jovens em idade escolar, que hoje enfrentam riscos e desafios de saúde mental sem precedentes” concluiu o comunicado.
Zendaya, no entanto, enxerga a abordagem da série de uma outra maneira. “Nossa atração não é de forma alguma um conto com o intuito de ensinar as pessoas a como viverem suas vidas ou o que elas deveriam fazer. O que sempre tentamos fazer com isso é ajudar as pessoas a se sentirem um pouco menos sozinhas em sua experiência e em sua dor. E talvez sentir que não são os únicos passando ou lidando com o que estão lidar“, explicou a atriz.
Indo contra as acusações, a protagonista ainda apontou que a história de Rue tem um grande significado para as pessoas familiarizadas com o vício e a perda, garantindo que isso vai moldar a personagem nos próximos episódios. “Não podemos deixá-la assim. É muito importante que haja uma luz no fim do túnel para ela, porque eu acho que ela tem muita beleza por dentro. Se ela vê ou não isso ainda, é coisa dela“, afirmou.
É essa conexão que ela espera que as pessoas tenham com a personagem. “Minha maior esperança é de que as pessoas sejam capazes de se conectar a ela, e a aqueles que precisam se curar e crescer como Rue, espero que, até o final desta temporada, sintam essa esperança e sintam essa mudança em sua vida“, disse. Zendaya continuou: “Muitas pessoas chegaram e encontraram tantos paralelos de todas as idades, todas as esferas da vida. Tantos paralelos com Rue e sua história e Rue significa muito para elas de uma maneira que posso entender, mas também talvez de uma maneira que eu nunca poderia entender, e isso significa muito para todos nós.”
A vencedora do Emmy ainda contou que, a partir do 5° episódio, haverá uma reviravolta na trama. “Nós nunca deixamos Rue com o que ela está lidando. Estamos com ela o tempo todo. Não há muito diálogo interno e, ao contrário dos outros episódios em que sempre há uma abertura, essa metade [da temporada] começa imediatamente com violência. Nós apenas nos jogamos direto nisso“, disse Zendaya. “E eu acho que sempre soubemos que isso levaria um episódio inteiro e, assim, uma vez que você chega a esse ponto, você tem que, depois disso, pegar os pedaços do que acontece lá, e onde Rue vai“, acrescentou.
Ela ainda tenta manter o otimismo para a protagonista. “Acho que se ainda podemos nos importar com ela depois disso, espero que outras pessoas possam estender isso para personagens não fictícios, para pessoas reais, ou apenas sermos um pouco mais compreensivos e empáticos com a experiência do vício e o que isso faz com as pessoas, o que faz com suas famílias“, ressaltou.
A intervenção
Zendaya também comentou sobre toda dificuldade que teve para gravar o 5° episódio da 2ª temporada, onde a “paz” de Rue dos primeiros capítulos foi por água abaixo. Ela é confrontada pela mãe, Leslie (Nika King), por ter voltado a usar drogas, e se envolve em uma grande briga ao perceber que a mala de narcóticos negociada com a traficante não estava onde havia guardado. Essa sequência, segundo Zendaya, “foi uma situação muito difícil”. “Quero dizer, eu me machuquei. Ainda tenho algumas cicatrizes nas minhas pernas, e algumas contusões“, contou.
A atriz já estava ciente que chegaria este momento de “intervenção”, alertado pelo diretor e criador da série, Sam Levinson, mas ela admitiu que não foi fácil se preparar. “Acho que desde a primeira temporada, sabíamos que Sam tinha uma visão de ter um episódio como esse, onde tudo estaria em jogo, e nós apenas iríamos tentar dizer a ela que precisa de ajuda, mas foi um desafio filmar“, apontou.
Zendaya explicou que todo planejamento inicial dessas cenas foi se transformando com o tempo, mas que “sempre foi um episódio muito intenso”. “A ideia geral foi sempre a mesma: cortamos direto para uma intervenção e depois é Rue apenas destruindo e incendiando sua vida para basicamente chegar ao que parece ser o fundo do poço para ela“, afirmou.
Apesar da adrenalina do episódio, com Rue fugindo da família, de policiais e traficantes pela cidade, Zendaya conta que foi nas cenas da intervenção que ela realmente teve mais dificuldade. “Foi tão intenso e assustador de enfrentar, e obviamente algo que seria incrivelmente desgastante emocionalmente, foi também fisicamente”, disse. “Além disso, eu me preocupo com Rue e odeio quando ela está sofrendo” acrescentou.
A atriz ainda descreveu como sua personagem foi envolvida neste caos: “Ela está no meio de uma doença degenerativa e está tomando o controle de sua vida. E de muitas maneiras, ela se sente fora de controle. Ela não tem a capacidade de controlar suas emoções, seu corpo. E como eu disse, ela está com muita dor e acho que realmente queríamos ver isso visceralmente e sentir essa dor e o quanto isso inflige outras pessoas que também têm que amar as pessoas que passam por essas coisas“.
Um dos “segredos” para fazer essas cenas, especialmente durante a intervenção, segundo Zendaya, foi “nunca saber realmente o que Rue está prestes a fazer”. “Porque eu não acho que ela saiba o que vai acontecer a seguir. Ela vai bater em alguém? Ela vai chorar? Não temos ideia da imprevisibilidade de seu cérebro e de onde ela está“, revelou a atriz.
“Rue perdeu todo o controle de quem ela é“, observou. “E você pode ver que há um pequeno momento depois disso em que tudo se torna arrependimento. Você pode ver ela fazendo isso e imediatamente se arrependendo e se perguntando por que ela está fazendo isso. E então ela faz de novo, como se fosse apenas um ciclo realmente doloroso para vê-la passar. E eu particularmente não gostei de ver ela lidar com isso“, admitiu.
Zendaya continuou: “Assumo a dor, o estresse, medos e ansiedades de outras pessoas, assim como os meus, e eu acho que [a cena da intervenção] apenas me permitiu liberar tudo isso”. A atriz ainda agradeceu o apoio que recebeu no set. “Estou muito grata por estar em um espaço onde me sinto confortável e segura, e com atores e atrizes que obviamente sou muito próxima. Depois de cada cena, estamos nos abraçando, conversando, nos abraçando, checando, porque obviamente é como uma zona de guerra“, destacou.
Essa proximidade com os colegas de elenco, principalmente Nika King, a ajudou na cena em que Rue discute com a mãe, e ela admite: “Definitivamente não é nada bonito [a filha brigar com a mãe], mas Sam percebeu que isso precisa ser visto. Precisamos ver a família Bennett passando por isso, porque é a única maneira que o público e as pessoas que também estão passando por isso na vida real entendem. E eles ficam tipo: ‘Uau, isso é autêntico. Isso é real’.“
Por fim, ela também comentou sobre a decepção de parte dos fãs que esperavam um destaque para a recaída de Rue na 2ª temporada. “Foi importante [destacar outros] personagens que não conseguimos ver muito na temporada passada, ter mais tempo para conhecê-los e explorar [suas características]. Mas também é Rue como uma narradora não confiável, no sentido de que ela está apenas tentando patinar sem que as pessoas percebam o que ela está fazendo, e tentando não ser pega”, concluiu.