Mais uma para a conta de Sikêra Jr. Nesta quarta-feira (7), o Ministério Público Federal (MPF) protocolou, em Porto Alegre (RS), uma nova ação contra o apresentador do “Alerta Nacional”, da Rede TV!. O processo veio após ele se referir à comunidade LGBTQIA+ como “corja desgraçada” e relacionar pessoas da comunidade com pedofilia. A ação pede uma indenização de R$ 10 milhões por danos morais.
As falas foram feitas no programa exibido em 26 de novembro. Na ocasião, o apresentador comentava sobre a edição da HQ em que o novo Superman, filho de Clark Kent, se descobriu bissexual. A publicação, lançada em 16 de novembro nos Estados Unidos, trazia o super-herói beijando um outro personagem.
Sikêra reuniu os assistentes e tocou uma música que associava gays com pedofilia, afirmando que uma união homoafetiva tiraria a inocência das crianças. A letra também falava de mulheres trans em banheiros femininos. Um absurdo atrás do outro!
“O mundo tá bagunçado, tá de cabeça pra baixo. No banheiro da menina pode entrar macho. Agora o Super-Homem tá derretendo anel e quem também entrou na onda foi papai noel. Mas a intenção dessa corja desgraçada é tirar a inocência da nossa criançada. Não vem com esse papo de ideologia, vai se lascar pra lá com a sua pedofilia. A cura pra pedofilia onde é que tá? Tá no presídio, tá no presídio. Remédio pra pedófilo, onde é que tá? Tá no presídio, tá no presídio”, cantou o apresentador. Assista ao vídeo:
Além de Sikêra, a ação também colocou a RedeTV! como igualmente responsável pelo fato, já que conta com 44 estações afiliadas e 600 retransmissoras em todo o território brasileiro. Desta forma, o alcance da mensagem preconceituosa foi ampliado, sem falar nos lucros obtidos com anúncios por conta da programação.
O processo, assinado pelos procuradores da República Enrico Rodrigues de Freitas e Fabiano de Moraes, também inclui a União Federal. A entidade é acusada de fazer vista grossa para as atitudes do apresentador, quando deveria fiscalizar o uso da concessão pública – que jamais deveria servir de espaço para a propagação de mensagens de ódio.
Retratações
Fora a indenização de R$ 10 milhões, o MPF exige que a emissora retire o programa das redes sociais e do site oficial. Além disso, a ação pede que o apresentador faça uma retratação sobre o caso. Ele deve usar o mesmo tempo no ar para pedir desculpas pelo erro.
Por fim, o Ministério Público também solicita que a RedeTV! e a União Federal implementem medidas e mecanismos de prevenção e fiscalização dos direitos e princípios constitucionais. A proposta visa impedir que se façam novas ofensas à comunidade LGBTQIA+. Assim, a emissora deve promover campanhas contra a discriminação racial e contra os membros da minoria afetada pelo apresentador, a serem exibidas no mesmo horário do programa “Alerta Nacional”.
Outras ações
Esta não foi a primeira ou a segunda vez que o apresentador utilizou o programa para disseminar mensagens de ódio contra a comunidade LGBTQIA+. Em junho deste ano, o MPF já havia entrado com uma ação civil pública contra a emissora e contra o apresentador. Na ocasião, Sikêra Jr. criticava uma campanha do Burger King, em que crianças de diferentes idades explicam que é normal ver casais do mesmo sexo juntos.
“A criançada está sendo usada. Um povo lacrador que não convence mais os adultos e agora vão usar as crianças. É uma lição de comunismo: vamos atacar a base, a base familiar, é isso que eles querem. Nós não vamos deixar“, disse ele.
E fica pior! O apresentador ainda chamou os membros da comunidade de “raça desgraçada”, o que fez com que ele virasse alvo de muitas queixas nas redes sociais. No programa, Jr até mesmo associou a prática de crimes, uso de drogas e pedofilia a pessoas homossexuais.
Diante disso, o Ministério Público assinou a ação em conjunto com a associação Nuances – Grupo Pela Livre Expressão Sexual. Juntos, eles pedem que a Rede TV! e Sikêra Jr. sejam condenados a pagar R$ 10 milhões de indenização por danos morais coletivos.
Na época, grandes empresas anunciantes cancelaram os contratos de patrocínio após o episódio. MRV, Tim, HapVida, e Magazine Luiza foram alguns dos que se posicionaram.
Em 2020, já houve um outro caso. Sikêra Jr. foi condenado a pagar R$ 30 mil de indenização à modelo transexual Viviany Beleboni. Ele exibiu uma imagem dela no programa durante a Parada LGBTQIA+ de 2015. Na ocasião, ela representava Jesus Cristo crucificado como uma forma de protesto contra a homofobia. O âncora disparou uma série de xingamentos contra Beleboni.