Hugo Gloss

TV Globo e Drauzio Varella são condenados a pagar indenização por entrevista com detenta Suzy; saiba detalhes

Drauzio Suzy

A TV Globo e o Dr. Drauzio Varella foram condenados a pagar uma indenização após a reportagem com a detenta trans Suzy Oliveira. (Fotos: Reprodução/TV Globo)

No ano passado, uma reportagem do “Fantástico” com a detenta Suzy Oliveira, uma mulher transexual, comoveu o país. Mas pouco tempo depois, a entrevista causou revolta, quando veio à tona que ela era condenada pelo homicídio de uma criança de apenas nove anos. Agora, a TV Globo e o dr. Drauzio Varella foram condenados a pagar uma indenização de R$ 150 mil ao pai da vítima por danos morais.

A decisão foi tomada ainda em primeira instância, pela juíza Regina de Oliveira Marques, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Segundo ela, o pai do menino “sofreu novo abalo psicológico ao reviver os fatos”. Isso porque, além de reviver a trágica morte do garoto pela repercussão da entrevista, o homem foi procurado pela imprensa e teve de voltar a falar do assunto. O autor do processo também lamentou que Suzy tenha recebido a “piedade social” do público, enquanto ele sofreu novamente a dor da perda.

O abraço sensível entre Drauzio e Suzy deu o que falar. (Foto: Reprodução/TV Globo)

“Por todo o exposto, julgo parcialmente procedente o pedido inicial para condenar solidariamente os requeridos ao pagamento ao autor de indenização por danos morais no importe de R$ 150.000,00 devidamente corrigido e acrescido de juros de 1% ao mês, ambos desde a data da sentença até o efetivo pagamento”, disse a sentença.

O UOL entrou em contato sobre o caso com a TV Globo, no entanto, o departamento de comunicação da emissora mencionou que eles não se manifestam sobre casos em julgamento. Tanto Drauzio quanto o canal ainda podem recorrer da decisão do TJ-SP.

Relembre o caso

Em 1º de março de 2020, uma reportagem veiculada pelo ‘Fantástico’, conduzida pelo médico Dráuzio Varella, movimentou as redes ao mostrar a vida de preconceito e abandono de detentas transexuais alocadas em unidades prisionais masculinas. Uma das histórias mostradas, a de Suzy Oliveira, emocionou telespectadores com destaque para um abraço sensível do profissional – que há décadas atua como voluntário em penitenciárias.

Durante a conversa, Suzy relatou que estava sem receber qualquer visita no local há mais de oito anos. “Muita solidão, né minha filha?“, reagiu Dráuzio, abraçando a interna. A matéria viralizou, até virou meme e causou muita comoção. Suzy chegou a receber 324 cartas e presentes, como livros e chocolates, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária. Um novo fato, entretanto, balançou a opinião pública uma semana depois: a descoberta do porquê de a transexual estar presa.

https://twitter.com/whatwouldlbdo/status/1407500771281747969?s=20

Em maio de 2010, Suzy estuprou e matou, por estrangulamento, uma criança de 9 anos. De acordo com o processo contra a presidiária, ela ainda teria deixado o corpo da vítima apodrecer em sua sala por 48 horas. Oliveira depois relatou ao pai da criança que o corpo teria sido encontrado na porta de sua casa. Em depoimento à justiça, uma tia declarou que Suzy sempre foi uma criança problemática.

Suzy foi condenada pelo homicídio de um garotinho de 9 anos. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Roubava, mentia, não ia para a escola. Até os 12 anos, coisas de criança. Mas depois dos 12, começou a roubar com arma“, contou. Ela mencionou, por fim, que a sobrinha já havia sido acusada de abusar de uma criança de três anos. Ao R7, a Secretaria da Administração Penitenciária confirmou que a detenta cumpre pena por homicídio triplamente qualificado e estupro de vulnerável (menor de 14 anos).

A notícia veio à tona na tarde de 8 de março e deixou as redes sociais em polvorosa. Poucas horas depois, o próprio Drauzio Varella, divulgou uma nota de esclarecimento. De acordo com o médico, ele não sabia do crime, pois não perguntou nada sobre os delitos às reeducandas retratadas na reportagem. Esse, aliás, é o comportamento padrão de Varella para evitar que um julgamento pessoal possa interferir na execução do seu ofício na medicina.

Há mais de 30 anos, frequento presídios, onde trato da saúde de detentos e detentas. Em todos os lugares em que pratico a medicina, seja no meio consultório ou nas penitenciárias, não pergunto sobre o que meus pacientes possam ter feito de errado. Sigo essa conduta para que meu julgamento pessoal não me impeça de cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico“, declarou. “No meu trabalho na televisão, sigo os mesmos princípios. No caso da reportagem, veiculada pelo Fantástico na semana passada (1º/3), não perguntei nada a respeito dos delitos cometidos pelas entrevistadas. Sou médico, não juiz“, concluiu. O médico também gravou um vídeo a respeito.

Na mesma noite, o ‘Fantástico’ também se manifestou sobre o caso. “O quadro do Dr. Drauzio Varella foi sobre uma situação que o Estado brasileiro precisa enfrentar: mulheres trans cumprem as penas pelos crimes que cometeram em meio a presos homens, o que gera toda sorte de problemas. O crime das entrevistadas não foi mencionado, porque este não era o objetivo da reportagem. Foi divulgada apenas uma estatística geral sobre eles. O quadro gerou muita empatia no público mas também críticas exatamente por não mencionar os crimes“, pontuou o jornalístico.

Sobre as críticas, o Dr. Drauzio Varella divulgou a seguinte nota, que o Fantástico apoia integralmente: ‘Cuido da saúde de criminosos condenados há 30 anos. E por razões éticas não busco saber o que de errado fizeram. Sigo Sigo essa atitude para cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico. E para não cair na tentação de traí-lo atendendo apenas aqueles que cometeram crimes leves. No quadro do Fantástico, segui os mesmos princípios'”, encerrou.

https://youtu.be/n7MDenvgbjM

A mãe da vítima falou com o programa “Alerta Nacional” sobre o caso e expressou sua indignação ao assistir à cena. Passado o episódio, a TV Globo fez um pedido de desculpas oficial, lido ao vivo por William Bonner, no “Jornal Nacional”. A própria Suzy se manifestou sobre o caso, pediu perdão pelos seus graves erros, e mencionou que a reportagem realmente não sabia de toda sua história.

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