Comunidade indígena é incendiada após denúncia de estupro e morte de menina yanomami de 12 anos

A Polícia Federal encontrou um cenário de destruição em Aracaçá, com a comunidade vazia dias após as denúncias virem à tona

Yanomami Comunidade

A Polícia Federal encontrou um cenário de destruição em Aracaçá, numa região que pertence à Terra Indígena Yanomami. Segundo o G1, a comunidade indígena estava completamente vazia. Onde antes havia uma cabana, restavam apenas os restos de madeira recém-queimada. A ocorrência se deu dias após a denúncia de que uma menina ianomâmi morreu aos 12 anos, após ser vítima de um estupro.

A denúncia da morte veio à tona na última segunda-feira (25), divulgada por Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY). Segundo ele, indígenas locais foram os que relataram o caso. Garimpeiros que exploram a região ilegalmente supostamente teriam cometido o crime sexual contra a criança.

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Dois dias depois, representantes do Ministério Público Federal (MPF) e da Funai se juntaram à Polícia Federal e foram até a comunidade para investigar o caso. Em Waikás, um dos locais em que pousaram, alguns dos indígenas não queriam falar sobre o assunto. “Eles [indígenas] estavam com medo. Acho que foram orientados pelos garimpeiros para não falar nada”, contou Hekurari, que também estava na comitiva. Eles teriam dito que estavam apenas preocupados em “recolher o material dos garimpeiros para que não fossem queimados pela PF”.

Mas a situação foi diferente no outro dia, quando chegaram a Aracaçá. Lá eles se depararam com uma das casas queimada, e notaram a ausência dos indígenas que estavam ali antes. “A comunidade estava queimada e não tinha ninguém. Ninguém”, afirmou Hekurari. Até então, não se sabe ao certo quem queimou a comunidade. Contudo, o presidente da Condisi-YY pontuou uma outra possibilidade, “conforme costume e tradições que após a morte de um ente querido a comunidade em que residia é queimada e todos evacuam para outro local”.

Polícia, MPF e Funai se manifestam

Depois do que viram por lá, os órgãos envolvidos nessa operação emitiram uma nota conjunta na quinta-feira (28) e disseram não ter encontrado nenhum vestígio de homicídio e estupro. Os agentes também não encontraram indícios da morte de outra criança, que teria desaparecido no rio Uraricoera. Por outro lado, os representantes afirmaram que as apurações não vão parar aí porque “diligências demonstraram a necessidade de aprofundamento da investigação, para melhor esclarecimento dos fatos”.

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Suspeitas do que teria acontecido

Com a visita e o posicionamento dos representantes dos órgãos, a Condisi-YY falou sobre o assunto em um comunicado na manhã de sexta-feira (29). Apesar da opinião das autoridades, o presidente da instituição voltou a expressar a suspeita de que garimpeiros teriam instruído indígenas. “Percebe-se através dos vídeos que esses indígenas foram coagidos e instruídos a não relatar qualquer ocorrência que tenha acontecido na Região, dificultando a investigação da Policia Federal e Ministério Público Federal que acabaram relatando não haver qualquer indício de estupro ou desaparecimento de criança”, disse o texto.

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A comunidade nas terras Yanomami ficou em chamas. (Foto: Condisi-YY/Divulgação)

Outra hipótese é a de que indígenas teriam recebido para não falar nada. “Após insistência, alguns indígenas relataram que não poderiam falar, pois teriam recebido 05g de ouro dos garimpeiros para manter o silêncio”, pontuou outro trecho do comunicado. Por conta disso, Hekurari defende que as investigações devem continuar: “Ianomâmi foram bem orientados [possivelmente pelos garimpeiros]”. 

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Garimpo ilegal x presença indígena

Aracaçá é uma pequena comunidade que conta com cerca de 30 moradores, em Roraima, no coração da Floresta Amazônica. No entanto, o relatório “Yanomami Sob Ataque” da Hutukara Associação Yanomami (HAY), divulgado semanas atrás, já havia alertado que a comunidade corria risco de desaparecimento por conta da forte presença dos garimpeiros ilegais.

A associação também já havia citado situações de estupro de crianças e mulheres da região no relatório. Segundo a HAY, a denúncia sobre a menina de 12 anos “não é um caso isolado”, caso seja confirmada. A instituição acompanha a apuração do caso e tem contribuído como pode, conforme a própria Condisy-YY deixou claro: “[HAY] tem auxiliado nas investigações das informações prestadas pelos Yanomami”.

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Na Câmara dos Deputados, o deputado Orlando Silva, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, encaminhou um pedido para que providências sejam tomadas acerca do caso da menina yanomami. “Chega de barbárie! A Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara encaminhou solicitação de providências sobre o caso da morte da menina Yanomami. Como presidente da Comissão, acionei o MPF, a Polícia Federal e a FUNAI. Tamanha crueldade não pode ficar impune!”, afirmou.