Em 2021, Marco Pigossi se declarou gay depois de quase duas décadas escondendo este aspecto de sua vida. Na ocasião, ele revelou o namoro com o diretor italiano Marco Calvani. Agora, em entrevista ao jornal O Globo, o ator contou o motivo de ter esperado anos para falar sobre o assunto, como usa seu trabalho para dar voz à causa LGBTQIA+ e como foi crescer sabendo que era gay.
“Eu rezava, pedia a Deus para me consertar. A homofobia é tão enraizada que, por mais que a gente assuma, ainda vai lidar com o preconceito interno. Vesti a máscara heterossexual, sempre fui observado pela beleza. Fiz esse personagem hétero para me esconder, o que deixou minha vida mais confortável“, relembrou, em conversa publicada hoje (12). Ele acrescentou que se escondia nos intervalos do colégio, e não foi viajar com a turma na época da formatura para manter essa persona.
Tudo mudou, no entanto, quando Pigossi entrou para o teatro. “Conheci corpos gays ali. Era um alívio deixar de ser eu. O que era uma fuga, mas carregada de carga cultural, do despertar como pessoa“, afirmou. “A pessoa que se aceita e está feliz com o que é conhece uma força enorme. Se sente com poder para ocupar espaços. E o encontro com a comunidade é uma corrente bonita, a gente se sente fortalecido, cria um senso comunitário. Porque, no fundo, o que a gente mais quer é pertencer. Como homossexual, sentia que não pertencia a nenhum grupo. Todos esses corpos passam por isso. E quando passam a pertencer… É do car*lho!“, refletiu.
Ainda assim, levou alguns anos para que ele revelasse publicamente sua homossexualidade e a integrasse ao trabalho. “Me desenvolvi tentando manter um corpo masculinizado. E acho que isso veio do trauma de não poder me assumir, foi uma maneira de me proteger. Mas, hoje, aquela sombra de ‘não desliza’ desapareceu“, contou. Em outro momento, complementou: “A vida inteira meu trabalho e minha vida pessoal eram separados, tinha medo de que descobrissem… Pela primeira vez, esses mundos existiram juntos, e foi emocionante“.
Boa parte das razões que o fizeram falar abertamente sobre sua sexualidade estão em seu novo projeto, o documentário “Corpolítica”. O longa de Pedro Henrique França segue a campanha para vereador de quatro candidatos LGBTQIA+: Erika Hilton (Psol) e William de Lucca (PT) em São Paulo; e Mônica Benício (Psol) e Andréa Bak (Psol) no Rio.
“Era a eleição seguinte à de Bolsonaro, período tenso para os LGBTQIAP+ por causa da legitimação do discurso de ódio, da campanha difamatória. Queríamos entender se o recorde de candidaturas era uma resposta a esse movimento. Porque em mim foi. O Bolsonaro e a corrente de fake news causaram em mim uma reação a essa opressão, um momento de ruptura, uma tentativa de liberdade de existir“, desabafou.
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A política, inclusive, influencia a relação com sua família. Com seu pai, eleitor do atual presidente, ele ainda sente um certo clima de tensão. “Com meu pai, é sempre tenso, não há naturalidade. É distante do universo dele, que é eleitor do Bolsonaro. Não que ele ache que ser gay é falta de porrada, mas se vota num candidato desse… Existe um ideal político que distancia a gente. Ele nunca vai me pegar pelo braço e se unir nessa causa. Diferentemente do amor incondicional da minha mãe“, opinou. Mesmo assim, ele apresentou seu namorado para os dois: “Eles se deram superbem. Meu pai até arriscou um italiano, porque meu avô era italiano“.