O quarto suspeito pela morte de Bruno Pereira e Dom Phillips foi preso nesta quinta-feira (23), em São Paulo. De acordo com a Rádio Bandeirantes, Gabriel Pereira Dantas havia fugido do Amazonas para a capital paulista. A informação foi revelada pelo delegado Roberto Monteiro, da Seccional do Centro, a José Luiz Datena.
Segundo a Polícia, Gabriel teria sido o responsável por ocultar os pertences de Bruno e Dom. “Ele estava junto na lancha voadora de onde foram disparados os tiros contra o ambientalista e o jornalista inglês, e depois ele ficou responsável por esconder os pertences das vítimas no meio da mata. Ele fugiu primeiro para Roraima e depois para São Paulo”, afirmou o delegado.
Outras três pessoas também já haviam sido presas, suspeitas de envolvimento no caso do indigenista e do jornalista britânico. Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”, foi quem confessou o crime e indicou o local da ocultação dos corpos. Posteriormente, ele voltou atrás em seu depoimento e negou ter assassinado a dupla. Seu irmão, Oseney da Costa, teria ajudado a esconder os restos mortais e foi preso na semana passada. Jeferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, se entregou à polícia no último sábado (18). Amarildo teve de ser transferido para Manaus (AM), enquanto os outros estão detidos temporariamente em Atalaia do Norte (AM).
Liberação dos corpos de Dom e Bruno
A Polícia Federal informou que os restos mortais de Dom e Bruno seriam entregues ainda hoje para seus familiares. De acordo com a corporação, as perícias foram concluídas e confirmaram que os materiais encontrados no Vale do Javari eram mesmo dos dois desaparecidos. “As amostras biológicas apontaram a presença de 02 (dois) Perfis Genéticos distintos nos remanescentes humanos encontrados pela Perícia da Polícia Federal. Os resultados encontrados estão em consonância com as análises de Odontologia Legal, da Antropologia Forense e da Papiloscopia que apontaram tratar-se dos remanescentes de Dom Phillips e Bruno Pereira”, disse um comunicado.
No final de semana, a PF revelou que as vítimas foram atingidas com tiros. Bruno foi baleado três vezes, na cabeça e no tórax, já o jornalista, uma vez, no tórax. O exame médico-legal feito pelos peritos aponta que “a morte do Sr. Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica (1 tiro)“.
Já a morte do indigenista “foi causada por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, que ocasionaram lesões sediadas no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)“. Os corpos foram esquartejados, incendiados e enterrados.
Na sexta-feira (17), a Polícia Federal afirmou que, até o momento, não há mandante no duplo assassinato. A motivação do crime também segue alvo de apuração. As principais hipóteses apontam para uma relação com a atividade de pesca ilegal e tráfico de drogas na região.
O desaparecimento
Além de indigenista, Bruno Araújo Pereira era servidor federal licenciado da Funai. Ele também dava suporte à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) em projetos e ações específicas. Em 2018, se tornou o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém-contratados da Fundação Nacional do Índio, mas foi exonerado em 2019, após pressão de setores ruralistas ligados ao governo Bolsonaro.
Dom Phillips morava em Salvador com a família e fazia reportagens sobre o Brasil para veículos como Washington Post, New York Times, Financial Times e The Guardian. Em seu trabalho, ele investigava e denunciava o garimpo ilegal, e tratava da defesa ambiental.
Os dois sumiram durante visita à equipe de Vigilância Indígena, localizada próxima ao Lago do Jaburu, no dia 5 de junho. O objetivo do jornalista era realizar algumas entrevistas com os indígenas. Defensor dos povos originários, Bruno recebia ameaças constantes de madeireiros, garimpeiros e pescadores.
As buscas começaram no dia 5 de junho por integrantes da Univaja. Sem sucesso, eles acionaram as autoridades no dia seguinte. Agentes da Polícia Federal, da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), da Marinha e do Exército participaram da operação. Phillips estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson.
No dia 11 de junho, a Polícia Federal já havia apontado que foram encontrados “materiais orgânicos aparentemente humanos” no Rio Itaquaí, próximo ao porto de Atalaia do Norte. As buscas pelos desaparecidos estavam concentradas em uma área abaixo da “Comunidade Cachoeira”, em Atalaia do Norte. Para reforçar a procura, o governo do Amazonas enviou bombeiros, policiais civis e militares. Voluntários também revelaram os sinais de escavação às margens daquele rio, local em que Pereira e Philips foram vistos navegando.