PF confirma que restos mortais são de Bruno Pereira e Dom Phillips, e revela as causas das mortes

Um terceiro suspeito também foi preso neste sábado, acusado de envolvimento nos assassinatos

Bruno Pereira E Dom Phillips

A Polícia Federal confirmou, neste sábado (18), que os restos mortais encontrados na Amazônia são do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. A identificação se deu através de um exame das arcadas dentárias no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília.

De acordo com a nota da PF, as vítimas foram atingidas com tiros. Bruno foi baleado três vezes, na cabeça e no tórax, já o jornalista, uma vez, no tórax. O exame médico-legal feito pelos peritos aponta que “a morte do Sr. Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica (1 tiro)“.

Já a morte do indigenista “foi causada por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, que ocasionaram lesões sediadas no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)“. Os corpos foram esquartejados, incendiados e enterrados.

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Partes dos corpos de Dom Phillips e Bruno Pereira chegam em Brasília para investigação (Fotos: Getty)

Bruno e Dom estavam desaparecidos desde 5 de junho, quando faziam uma viagem pelo Vale do Javari (AM). Os restos mortais foram encontrados na quarta-feira (15), após Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”, confessar participação nos assassinatos e apontar onde estavam os corpos. Na ocasião, Amarildo, e o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, foram presos por envolvimento nos crimes. Um terceiro suspeito foi identificado como Jeferson da Silva Lima, o “Pelado da Dinha”, e preso hoje (18).

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Amarildo é preso no AM (Foto: Reprodução)

Segundo a Polícia Federal, as investigações sugerem que não houve mandante ou organização criminosa por trás dos assassinatos. As autoridades afirmam que novas prisões ainda podem acontecer, mas que até o momento, entende-se “que os executores agiram sozinhos“. A motivação do crime também segue alvo de apuração. As principais hipóteses apontam para uma relação com a atividade de pesca ilegal e tráfico de drogas na região.

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Confira a íntegra da nota da Polícia Federal, divulgada neste sábado (18):

“A Polícia Federal confirma que os remanescentes do Sr. Bruno Pereira fazem parte do material que passa por perícia no Instituto Nacional de Criminalística (INC). A confirmação foi feita com base no exame de Odontologia Legal (arcada dentária).

Na noite de ontem, 18/06/2022, foi confirmada a identificação de remanescentes do Sr. Dom Phillips por exame papiloscópico (impressões digitais), em complementação a identificação prévia por odontologia legal, combinada com antropologia aorense.

Não existem indicativos da presença de outros indivíduos em meio ao material que passa por exames.

O exame médico-legal, realizado pelos peritos da PF, indica que a morte do Sr. Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica (1 tiro).

A morte do Sr. Bruno Pereira foi causada por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, que ocasionaram lesões sediadas no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro).

Os trabalhos dos peritos do Instituto Nacional de Criminalística, nos próximos dias, serão concentrados nos exames de Genética Forense, Antropologia Forense e métodos complementares de Medicina Legal, para identificação completa dos remanescentes e compreensão da dinâmica dos eventos.”

A busca pelos corpos

Na sexta-feira (11), a Polícia Federal já havia apontado que foram encontrados “materiais orgânicos aparentemente humanos” no Rio Itaquaí, próximo ao porto de Atalaia do Norte. Os dois sumiram na região do Vale do Javari, no estado do Amazonas.

As buscas pelos desaparecidos estavam concentradas em uma área abaixo da “Comunidade Cachoeira”, em Atalaia do Norte. Para reforçar a procura, o governo do Amazonas enviou bombeiros, policiais civis e militares. Voluntários falaram para as equipes de busca que encontraram sinais de escavação às margens do Rio Itaquaí, local em que Pereira e Philips foram vistos navegando.

Bruno Araújo e Dom Phillips estavam desaparecidos desde 5 de junho. (Foto: Reprodução)

O desaparecimento

Além de indigenista, Bruno Araújo Pereira era servidor federal licenciado da Funai. Ele também dava suporte à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) em projetos e ações específicas. Em 2018, se tornou o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém-contratados da Fundação Nacional do Índio, mas foi exonerado em 2019, após pressão de setores ruralistas ligados ao governo Bolsonaro.

Dom Phillips morava em Salvador com a família e fazia reportagens sobre o Brasil para veículos como Washington Post, New York Times, Financial Times e The Guardian. Em seu trabalho, ele investigava e denunciava o garimpo ilegal, e tratava da defesa ambiental.

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Os dois sumiram durante visita à equipe de Vigilância Indígena, localizada próxima ao Lago do Jaburu. O objetivo do jornalista era realizar algumas entrevistas com os indígenas. Defensor dos povos originários, Bruno recebia ameaças constantes de madeireiros, garimpeiros e pescadores.

As buscas começaram no domingo por integrantes da Univaja. Sem sucesso, eles acionaram as autoridades no dia seguinte. Agentes da Polícia Federal, da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), da Marinha e do Exército participaram da operação. Phillips estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson.