Nesta quarta-feira (25), a juíza Alessandra de Araújo Bilac Moreira Pinto, da 40ª Vara Criminal do Estado do Rio de Janeiro, condenou Igor Martins Pinheiro, de 22 anos, a um ano e quatro meses de reclusão e dez dias de multa por furto qualificado, segundo informações do UOL. “Loirão”, como é conhecido, foi condenado por roubar a bicicleta elétrica de Mariana Spinelli e Tomás Oliveira em junho deste ano, em frente ao Shopping Leblon. Inicialmente ele cumprirá a pena em regime semiaberto.
O caso tomou grandes proporções após Spinelli e Oliveira acusarem, injustamente, o jovem Matheus Ribeiro pelo furto. Matheus, que é negro, foi obrigado a provar que a bicicleta em que estava era mesmo sua, e os dois só recuaram quando descobriram, por conta própria, que estavam enganados. Ao postar um vídeo do momento nas redes sociais, o instrutor de surfe denunciou o racismo que sofreu. “Isso não foi um desespero de quem foi furtado, isso é o desespero do racista quando vê a gente perto. […] Ela não tem ideia de quem levou sua bicicleta, mas a primeira coisa que vem à sua cabeça é que algum neguinho levou”, desabafou em sua conta no Instagram.
Igor Pinheiro estava preso preventivamente desde o dia 17 de junho, quando foi surpreendido pelos policiais em casa, em um prédio em Botafogo, na Zona Sul do Rio, após ter sido reconhecido por um dos seguranças do Shopping. Imagens de câmeras de segurança também auxiliaram os agentes na investigação e filmaram a ação do autor, que levou cerca de 40 segundos. Agora ele será transferido para uma unidade de segurança compatível com o regime semiaberto. Assista ao momento do furto:
Ainda de acordo com o UOL, no julgamento, o acusado permaneceu calado durante todo o seu interrogatório. Mariana Spinelli, dona da bicicleta furtada, o namorado Tomás Oliveira e o policial civil Thomas Jardim também foram ouvidos. No apartamento de Igor, foram apreendidos a bermuda que ele usava no momento do crime e um alicate de pressão de 18 polegadas, geralmente usado para romper cadeados. Igor já tinha sido preso outras 7 vezes e possuía 28 passagens pela polícia, 14 delas por furto a bicicletas.
Relembre o caso
No dia 12 de junho, o instrutor de surfe Matheus Ribeiro foi acusado por um casal de furtar uma bicicleta. Apesar de ter explicado que aquela bike elétrica era dele, os dois não desistiram. Matheus registrou o desfecho da cena, denunciou o racismo que sofreu, e o vídeo causou muita indignação pela web. Com a repercussão, o casal foi desligado de suas funções em seus respectivos empregos.
O caso aconteceu em frente ao Shopping Leblon, no Rio de Janeiro. Matheus, que é morador da Maré, aguardava sua namorada em pleno Dia dos Namorados, até que foi surpreendido pelo casal. De acordo com o instrutor de surfe, o homem teria lhe perguntado: “Você pegou essa bicicleta ali agora, não foi?”. A moça, por sua vez, teria afirmado com certeza: “É sim! Essa bicicleta é minha!”.
Segue o vídeo do ocorrido. Matheus estava apenas esperado a namorada dele. Além de passar por isso, Ele teve que provar para esses babacas que a bike era dele, mostrando fotos etc.
Continuem expondo a foto desses racistas. Tem que se ferrar e muito!pic.twitter.com/iU4qhQgsn5
— laerte (@brenolaerte) June 14, 2021
Diante das acusações, Matheus relatou que mostrou a chave do cadeado da bicicleta, abriu fotos antigas dela em seu celular e provou que era dono da bike. Nada adiantou e eles continuaram insistindo na versão do furto. O casal só desistiu quando o homem branco tentou abrir o cadeado e viu que realmente não funcionava. “Eu só consegui provar que a bicicleta é minha quando, sem minha autorização, o lindo rapaz pega o cadeado da minha bicicleta e tenta abrir. Frustrado com sua tentativa, ele diz que não me acusou, afinal, o rapaz só estava perguntando…”, escreveu Ribeiro.
Em entrevista ao jornal “O Globo”, o instrutor de surfe afirmou que, em sua opinião, a abordagem dos jovens não ocorreria da mesma maneira se ele não fosse negro. “Se eu fosse branco não seria abordado de tal forma”, disse. “Minha intenção com essa denúncia não é ter um ganho pessoal, direcionado aos dois. É uma questão de racismo na sociedade inteira. Minha intenção é fazer com que as pessoas entendam que acusar um negro sem que ele tenha feito nada é grave precisa ser levado a sério”, finalizou.
Justiça arquiva denúncia
Segundo informações do G1, no início deste mês, a Justiça do Rio de Janeiro concluiu que não houve crime contra Matheus Ribeiro. O juiz Rudi Baldi Loewenkron, da 16ª Vara Criminal do Rio, decidiu que o inquérito que apurava a calúnia será arquivado. “Como bem colocou o Ministério Público, faltou o elemento constitutivo do tipo ‘falsamente’ para configuração de calúnia, vez que a semelhança da bicicleta, do cadeado, o local e o lapsto temporal entre os eventos levaram os indiciados a acreditar que poderiam estar diante da bicicleta de propriedade da indiciada”, informou o juiz.
Ainda assim, o magistrado deixou claro que o casal Mariana Spinelli e Tomás Oliveira ainda pode ser punido. “O crime de calúnia só se ultima a partir do dolo, que ora não se vislumbra para configuração do crime imputado, o que, por certo, não afasta a possibilidade de responsabilidade civil pela acusação imprudente”, explicou Rudi Baldi Loewenkron.