João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, foi preso novamente nesta quinta-feira (26), na cidade de Anápolis (GO). O médium cumpria pena em regime domiciliar, após ser acusado por uma série de abusos sexuais contra mulheres, cometidos durante atendimentos espirituais. A decisão de encarcerá-lo outra vez atendeu ao pedido do Ministério Público.
De acordo com o G1, a prisão é relativa à 15ª denúncia do MP contra o réu, acusado por estupro de vulnerável. Segundo o órgão, o novo pedido de prisão se deu porque as vítimas se sentiram inseguras pelo fato de João estar cumprindo sua pena em regime domiciliar. Os promotores relataram que a Justiça aceitou a denúncia e, com isso, o idoso foi considerado réu e teve sua prisão decretada.
Depois de detido, João de Deus foi levado para Central de Flagrantes de Anápolis. Ainda hoje, ele deve ser encaminhado para o Núcleo de Custódia de Aparecida de Goiânia. Em março de 2020, o réu foi autorizado a ficar em prisão domiciliar, por conta da pandemia da Covid-19. Contudo, desde dezembro de 2018 até o início do ano passado, ele já estava atrás das grades no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, que fica na região metropolitana de Goiânia (GO). Veja o registro da prisão:
Procurada pelo G1, a defesa do médium afirmou que “recebeu a notícia com espanto e se mostra estarrecida diante da flagrante ilegalidade da nova prisão”. O advogado de defesa do acusado questionou a decisão da nova prisão, e afirmou que recorrerá: “Especialmente por tratar-se de idoso com mais de 80 anos idade e reconhecidamente doente”.
Confira a nota na íntegra abaixo:
“Concernente à concessão prisão do médium João Teixeira de Faria ocorrida na data de hoje (26/08/2021), a defesa recebeu a notícia com espanto e se mostra estarrecida diante da flagrante ilegalidade da nova prisão, pois a decisão advinda da Comarca de Abadiânia atropelou conscientemente a outra decisão proferida anteriormente pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás que havia concedido prisão domiciliar humanitária ao Requerente em 11 de maio de 2021, à unanimidade de votos, lastreada nas diversas doenças que médium possui e também por ter mais de 80 anos.
A despeito disso, a defesa irá recorrer, mas considera temerária a decisão que determinou o retorno do Requerente para a prisão, especialmente por tratar-se de idoso com mais de 80 anos idade e reconhecidamente doente, situação que se agrava porque estamos em meio a uma pandemia da COVID-19, onde todos sabem que idosos, mesmo completando o processo vacinal, fazem parte do grupo de risco. Joao Teixeira de Faria aguarda os tramites legais e após será recolhido no cárcere. Durante o período em que esteve sob as condições da prisão domiciliar cumpriu com todas as determinações da Justiça, não havendo motivação para que medida tão extrema fosse aplicada nesse momento”.
Relembre o caso
No início de dezembro de 2018, as denúncias contra João de Deus começaram a vir à tona. Mulheres relataram que haviam sido abusadas sexualmente enquanto faziam atendimentos espirituais com o médium, na movimentada casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO). Os crimes foram investigados por uma força-tarefa e, em questão de dias, mais de 600 denúncias similares e horripilantes foram recebidas.
Até o momento, João Teixeira de Faria foi condenado por posse ilegal de arma de fogo, estupro de vulneráveis, violação sexual mediante fraude, e crimes sexuais cometidos contra dez mulheres. Apenas esses delitos somados já resultam numa pena de 65 anos. No entanto, ainda há outros dez processos a serem analisados pela Justiça, que podem aumentar ainda mais a pena contra o idoso, que tem 79 anos.
Quando as centenas de casos vieram à tona, várias famosas se manifestaram e expressaram sua dor pelo que havia acontecido a tantas mulheres. Na série documental “Em Nome de Deus”, por exemplo, Xuxa Meneghel foi uma das entrevistadas e lamentou ter desenvolvido qualquer afeição pelo médium, nos tempos em que buscava uma cura para sua mãe.
Nesta semana, a polêmica trajetória do criminoso também tornou-se assunto de uma minissérie da Netflix. A produção expôs um lado “gângster” do religioso, com relatos chocantes em paralelo com suas promessas milagrosas.