Hugo Gloss

Jornalista do “The Wall Street Journal” acusa Renato Kalil de violência obstétrica após desabafo de Shantal Verdelho: “Nada daquilo era normal”

Após Shantal relatar violência obstétrica, outra paciente do mesmo médico afirma também ter sofrido assédio moral. (Reprodução; YouTube/ Instagram)

Após Shantal relatar violência obstétrica, outra paciente do mesmo médico afirma também ter sofrido assédio moral. (Reprodução; YouTube/ Instagram)

Após o desabafo de Shantal Verdelho sobre a conduta do ginecologista e obstetra Renato Kalil, responsável por conduzir o parto de Domênica, sua segunda filha com Mateus Verdelho, mais uma acusação contra o médico veio à tona. Em entrevista exclusiva ao jornal O Globo nesta terça-feira (14), Samantha Pearson, jornalista britânica e correspondente do “The Wall Street Journal” no Brasil, decidiu contar detalhes do episódio que viveu com o mesmo médico em 2019.

Segundo Samantha, ela já havia se sentido desconfortável em sua primeira gravidez, lá em 2015, quando o procurou e demonstrou seu desejo de ter um parto normal. A jornalista escolheu não ser anestesiada e diz ter ouvido Kalil dizer a seu marido que tinha “feito um ponto ali, mas que ele não ficasse preocupado, porque estava tudo bem”.

“Ele falava da minha vagina como se eu não estivesse ali. Passei semanas chorando sozinha em casa, sem saber se ele tinha dado mais pontos do que o necessário, com medo de transar, de sentir dor. Fui a outros médicos para saber se isso podia ser checado, mas não podia. Foi horrível”, disse ela na entrevista.

Mesmo após o ocorrido, Pearson voltou quando engravidou de seu segundo filho. Durante uma consulta no oitavo mês de gestação, Kalil teria feito um comentário classificado por ela como machista e agressivo: “Samantha, você vai ter de emagrecer porque senão seu marido vai trair você”. A correspondente contou que, depois da consulta, foi trocar de roupas e começou a chorar. No mesmo dia, ela decidiu que o segundo parto não seria com o médico.

Jornalista alega ter sofrido com o mesmo médico. (Foto: Reprodução)

“Hoje percebo que eu não era a gringa maluca, eu estava certa, nada daquilo era normal. Ele disse aquilo na frente de sua equipe, eu estava quase nua, totalmente exposta. Meu marido estava lá e sempre percebi que o que ele queria o tempo todo era agradar meu marido, como se eu, a paciente, não estivesse lá”, contou.

E não parou por aí… Samantha ainda revelou que o profissional teria dito que “as mulheres no Brasil estão desesperadas porque tem cada vez mais veados” o que, segundo ele, “contribuiria para a traição do marido”. Além disso, ele tentou entrar em contato com ela, após notar seu sumiço repentino do consultório. Em suas palavras, ela disse que o médico “quis fazer uma brincadeira porque ele está todo sarado, bonitão, cuidando dele e do corpo dele, era um elogio pra ele”.

Para “justificar” sua volta ao médico, mesmo após o primeiro “trauma”, Samantha disse que ficou com medo e que, naquela época, ele era referência em parto normal: “Na minha segunda gravidez voltei a ele por isso, tive medo de procurar outro médico e alguma coisa dar errado. Mas em cada consulta vivia coisas muito ruins. Ele me contava intimidades de outras pacientes e de sua própria mulher. Muitas vezes, as pacientes das quais ele falava estavam na sala de espera”.

Sobre o momento, a jornalista afirmou que queria esquecer tudo o que viveu, mas após o desabafo de Shantal Verdelho, sentiu vontade de se abrir e “incentivar que outras mulheres falem”. “Sempre estou do outro lado, defendendo que as pessoas falem. Agora é a minha vez e estou disposta a colaborar com tudo o que for necessário para que seja feita justiça. Ele não me xingou, nem me rasgou, mas a parte psicológica me afetou muito, e ele estragou um momento que deve ser um dos mais bonitos da vida de uma mulher. Se existem outras mulheres assediadas moralmente, gostaria de transmitir confiança para que também falem”, concluiu.

Em áudios vazados, Shantal detalha violência obstétrica. (Fotos: Reprodução)

Relembre o caso

Em setembro, Shantal Verdelho deu à luz Domênica, sua segunda filha com Mateus Verdelho. Na sexta-feira (10), áudios e vídeos passaram a circular na internet, nos quais a influenciadora desabafa sobre a conduta do ginecologista e obstetra Renato Kalil, responsável por conduzir o parto.

Entre as acusações feitas ao médico, que deletou seus perfis nas redes sociais diante da polêmica, está a de que ele teria revelado o sexo da criança nas redes sociais, antes que Shantal pudesse contar à própria família. A influenciadora escolheu não saber se esperava um menino ou uma menina antes do momento do parto. Ainda de acordo com o relato, Renato teria constrangido e exposto Shantal para o marido dela e também para outras pacientes.

O caso teria tomado esse rumo depois que a influencer escolheu por não fazer uma episiotomia — incisão na região do períneo para facilitar a passagem do bebê, recomendada apenas em partos de risco. Descobri que ele falou da minha vagina para outras pessoas. Tipo: ‘Ah, ela ficou arregaçada, se você não fizer episotomia, você vai ficar igual’. Mais uma vez quebrando sigilo médico”, observou, em outro trecho dos áudios.

“Ele chamou meu marido e falou: ‘Olha aqui, toda arrebentada, vou ter que dar um monte de pontos na perereca dela’. Ele falava de um jeito tipo: ‘Olha aí, onde você faz sexo, tá tudo f*dido’ porque ela não quis episiotomia. Ele não tinha que fazer isso. Ele nem sabe se eu tenho tamanha intimidade com meu marido. Tem gente que não tem. Foram várias posturas dele muito ruins. Foi horrível”, lamentou.

Por fim, Verdelho diz que não consegue assistir ao vídeo do parto gravado pelo marido, pois teria sido xingada por Kalil a todo o momento. “Simplesmente, quando a gente assistia ao vídeo, ele (Kalil) me xinga o trabalho de parto inteiro. Fala: ‘P*rra, faz força. Filha da mãe, ela não faz força direito. Viadinha. Que ódio. Não se mexe, p*rra’… É muito palavrão e xingamento. Depois que vi tudo, foi horrível”, desabafou. Confira todos os detalhes do caso, clicando aqui.

Como denunciar?

Para denunciar violência obstétrica, o registro pode ser feito no próprio hospital, clínica ou maternidade onde ocorreu o atendimento. Também é possível prestar queixas pelo disque 180, disque 136 ou para 08007019656 da Agência Nacional de Saúde Suplementar sobre reclamações do atendimento do plano de saúde.

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