Jovem baleado por bombeiro em rede de fast-food fala pela primeira vez e detalha discussão: “Levei um tiro por causa de R$ 4”; assista

Mateus Domingues Carvalho levou um tiro na madrugada de 9 de maio, enquanto trabalhava no caixa da lanchonete

Jovem baleado no MC

Neste domingo (22), o jovem Mateus Domingues Carvalho, de 21 anos, baleado por um sargento do Corpo de Bombeiros em uma rede de fast-food no Rio de Janeiro, falou pela primeira vez sobre o caso. Ao “Fantástico”, ele revelou detalhes do que aconteceu na noite fatídica e o que motivou o disparo. “Minha vida mudou literalmente da noite pro dia”, afirmou.

Segundo Mateus, Paulo César Albuquerque já estava nervoso na fila de espera do drive-thru, antes mesmo de ser atendido. “Quando chegou por volta das duas da manhã tinha um carro na frente, antes dele. Estava muito cheio de gente e nisso ele já estava bem alterado lá atrás. Buzinando muito, muito, muito”, relembrou.

No relato, o jovem contou que o bombeiro fez o pedido, mas só no fim do atendimento disse que gostaria de usar um “cupom de desconto”. O atendente, então, explicou que era preciso informar sobre isso no início. Paulo teria ficado revoltado e saltou do carro, em direção ao funcionário. “Falei: ‘Vou tratar ele bem, dar um bom dia como eu faço com todo mundo, botar um sorriso no rosto pra amenizar a situação’. Aí ele: ‘A promoção do Big Mac.’ Depois que eu finalizei a compra, ele mostrou o cupom. Foi uma coisa muito fútil, cara”, continuou.

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As imagens do circuito interno do estabelecimento mostram que, após agredir Mateus, o militar invadiu a cozinha do restaurante, já com a arma em punho, e seguiu na direção do atendente. Outros funcionários e clientes surgem no vídeo quando o disparo acontece. Neste momento, o jovem de 21 anos cai no chão, já ferido, e é ajudado por um colega de trabalho. Paulo, por sua vez, deixa o estabelecimento, enquanto guarda o armamento na cintura.

“Se ele esperasse um minuto eu ia chamar o gerente, ele ia bater o cupom. Ele ia levar o que ele queria. Se eu não me engano o cupom dá uma diferença de R$ 4. Eu levei um tiro por causa de R$ 4. Ainda está difícil aceitar que em poucos segundos, e por um motivo tão banal, a vida inteira tenha mudado assim. Não machucou só o meu corpo, então vai doer durante muito tempo. O estrago foi feito, isso é uma coisa que leva tempo pra curar”, desabafou Mateus.

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Momento exato em que Paulo e Mateus trocam socos na cabine do drive-thru da lanchonete. (Foto: Reprodução/UOL)

“Eu não tenho mais condições de viver sozinho. Eu não consigo deitar, não consigo ir no banheiro, eu não consigo nem enxugar minhas pernas sozinho. Meu sonho é ser veterinário, então eu estava trabalhando, juntando dinheiro para fazer uma faculdade mais pra frente, e eu achei que estava perto. Essa empolgação toda virou medo”, acrescentou. Assista:

Após o disparo, o rapaz foi levado para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. O jovem precisou remover o rim esquerdo e parte do intestino grosso. Ele ainda está usando uma bolsa de colostomia e, nos próximos dois meses, deve passar por uma nova cirurgia para retirá-la. “É um paciente jovem, teve uma boa recuperação e vai fazer uma reconstrução intestinal, para que volte a ter uma vida normal”, disse o doutor Edson Pires, diretor do hospital.

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Mateus Domingues Carvalho, de 21 anos, levou um tiro na barriga na madrugada de segunda (9). (Foto: Arquivo Pessoal)

O único pedido de Mateus, é que ele não fique na mesma loja onde foi baleado. “A empresa deve deslocar para um outro local, que seja de fácil acesso para ele. Mas tão cedo ele não consegue exercer qualquer atividade, em razão das lesões que ele tem”, afirmou o advogado João Tancredo.

Em nota, o McDonald’s lamentou o ocorrido e disse que rapidamente prestou socorro ao funcionário. “A empresa está acompanhando e dando todo o suporte para seus familiares e já está colaborando com as investigações sobre o caso“, afirmou. Ainda, segundo o comunicado, o McDonald’s “vai fazer com que Mateus se sinta o mais confortável possível quando voltar ao trabalho”.

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Paulo César Albuquerque se apresentou à delegacia responsável pelo caso, depois das imagens circularem nas redes sociais. Ele foi preso preventivamente na sexta-feira (20) e, em depoimento, alegou que o disparo foi acidental. Já a defesa do militar afirma que não há os requisitos para a prisão preventiva e que vai tentar revogá-la o quanto antes.

Na noite do crime, Paulo César dirigia uma Mercedes sem placa. “A gente vai abrir uma nova investigação pra tentar entender a origem desse patrimônio, que aparentemente é incompatível com o cargo que ele exerce. Ele é sargento do Corpo de Bombeiros”, disse o delegado Ângelo Lages. Ao “Fantástico”, o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro informou que o suspeito está afastado da corporação e pode ser expulso.