O padre Patrick Fernandes viralizou na web recentemente após postar uma foto sem camisa. De lá pra cá, muita coisa mudou – inclusive seu público, que já reúne quase 4 milhões de seguidores apenas no Instagram. Em entrevista ao Splash, do UOL, o religioso falou sobre o burburinho que a imagem causou, comentou sobre o “BBB” e Juliette, e revelou como reage aos nudes e cantadas que recebe.
Foto sem camisa
Durante o papo, o padre de Parauapebas (PA) assumiu que não esperava tamanha repercussão com sua foto sem camisa. “Acho que aquela foto que me deu de verdade a real dimensão do quanto sou conhecido”, afirmou. Segundo ele, não é tão incomum que religiosos posem assim. “Já tinha postado fotos sem camisa outras vezes, só que era uma conta com dois mil seguidores no Instagram. E outros padres postam fotos sem camisa, não é um tabu”, declarou.
Mesmo assim, Patrick ficou em choque ao reativar as notificações e se deparar com as mais de 200 mil curtidas. “Decidi apagar no susto”, contou ele, que se define como uma pessoa tímida. Mas não surgiram apenas comentários sobre seu corpo, como também montagens e edições das imagens. “Apareceu que eu estava de sunga, mas estava de shorts!”, divertiu-se ele, sobre o rumo inusitado da situação.
Após o post, um bispo lhe deu um toque de que talvez fosse melhor dar uma maneirada nas imagens do corpo. “Depois de dois dias, o Bispo me mandou mensagem porque tinham mandado uma versão editada para ele. E, claro que era montagem, não estou com aquele corpão todo não. E ele disse de forma carinhosa: ‘Não posta foto sem camisa não, as pessoas acham ruim'”, comentou Patrick, que se disse arrependido. E se ele faria outro post desses? “Eu só posto uma outra foto daquela se eu souber o dia que Jesus irá voltar de verdade. Eu posto umas duas horas antes, porque aí já posso ser arrebatado e não vou precisar ver mais nada”, deixou claro.
Nudes e cantadas
Com toda a exposição, o padre começou a receber mais mensagens “ousadas”, como de cantadas e nudes – mas ele garante não prestar atenção nisso. “Sempre recebi muitas cantadas. No dia das fotos, muito mais, nudes, tudo isso. Às vezes, as pessoas esquecem que tantas pessoas têm acesso ao meu Instagram, e não sou só eu que tô vendo, não”, afirmou. “Sempre recebi e sempre fingi demência. Quem manda nude geralmente não mostra cara. Eu não vejo muitas mensagens no Instagram. Não tenho tempo pra isso, são milhares de mensagens, de vez em quando a gente abre uma mensagem sem intenção e acaba vendo”, pontuou.
Patrick também deu sua opinião sobre essa “cultura” do envio de nudes. “Pra mim, não existem nudes bonitos. É difícil falar dessas coisas. A gente precisa ver o corpo como algo bom. O nosso corpo é morada de Deus, a gente precisa cuidar do nosso corpo e tudo mais. Eu olho as pessoas e eu acho as pessoas bonitas – o todo, o corpo. Não uma parte isolada dela. O nude pra mim é algo muito pobre. Você tentar convencer alguém, uma pessoa, de uma parte do seu corpo, que é teu órgão genital”, ponderou.
O religioso acredita que isso seja um sinal da brevidade das relações de hoje em dia: “Acho que você precisa convencer do todo que você é, o que você tem pra oferecer. Eu tenho essa sensação de que as pessoas estão perdendo esse interesse, o encanto, de mostrar uma verdade. Parece que as coisas são muito passageiras. De que adianta você se interessar por um homem todo definido, uma mulher toda definida, se ela não tem nada pra te oferecer? Não tem encanto, interesse nisso“.
O sacerdote ainda falou sua própria relação com o corpo. “Eu acho que é uma loucura mandar pra qualquer pessoa, às vezes eu fico surpreso que alguém é capaz de mandar um nude, gente, de verdade. Às vezes, eu vou tomar banho, passo na frente do espelho correndo, porque meu Deus, acho tão feio! Mas sei lá, acho tão estranho mandar nude, pelo amor de Deus”, observou.
É pecado ver “BBB” ou “A Fazenda”?
Patrick mostrou-se a favor de que as pessoas vivam e curtam a vida, desde que tenham responsabilidade, ao invés de considerar que tudo seria algo pecaminoso. Para ele, isso vale também para os realities. “Tem muitos que podem falar que é pecado, mas assistem, né? Eu não vejo como pecado. É uma tentativa de demonizar tudo: tudo é pecado, tudo é demônio”, disse ele.
“Às vezes, a gente se esquece dos pecados de verdade. As pessoas tão preocupadas com a Priscilla [Alcântara] cantando música secular [que não é do gênero religioso], fazendo tatuagem, enquanto tem crianças passando fome, guerra, tanta coisa ruim acontecendo. Às vezes a gente tá assim também, voltado pra coisas pequenas e esquecendo do ser humano, de ter mais hombridade com as pessoas, empatia, amar ao próximo”, opinou o padre. “É muito triste quando se imprime um medo nos fiéis pra eles acreditarem e terem medo”, acrescentou.
Neste ano, inclusive, Patrick acompanhou o “Big Brother Brasil” pela primeira vez na vida, graças à Juliette – que tornou-se uma de suas seguidoras fiéis. “Já falei o quanto eu admirava ela porque ela transmitiu essa bondade, que eu acho que no mundo tá escasso hoje. A gente tá normalizando o mal, e o bem tá sendo algo extraordinário, quando não deveria ser. Eu sempre vi isso nela. Eu nunca tinha assistido ao programa até a edição que ela esteve presente, mas ela despertou a vontade de assistir e é até bom, que é um laboratório com gente de todos os tipos ali, a gente até aprende”, assumiu.
Redes sociais e aproximação com jovens
Como fica claro, Patrick tem uma mentalidade e linguagem que o torna mais acessível aos jovens, e isso é algo que ele tem como objetivo. “Para eu conquistar o mundo dos jovens, eu precisava entrar no mundo deles. Se os jovens de hoje escutam Zé Vaqueiro e João Gomes, eu não posso falar que é pecado escutar. Eu escuto também, escuto esses cantores, até pra falar a linguagem deles”, explicou o padre, que bateu na tecla de que não se pode “demonizar” tudo. “A gente se esquece de mostrar o rosto alegre da igreja, que vale a pena acreditar, dar um passo a mais, sem que isso vá nos tirar a vida”, completou.
Além de Zé Vaqueiro e João Gomes, pelo visto, o religioso também gosta de algumas músicas de Marília Mendonça, como citou ao falar de um namorico que teve antes dos tempos de padre. “Quando eu fui fazer um retiro, eu tinha uma namoradinha na escola, e ela terminou comigo por mensagem, e eu lá no encontro, no retiro. Fiquei tão desiludido, já que nada dá certo, vou ser padre… [Dez anos depois] eu senti tanta vergonha quando encontrei ela, queria cavar um buraco pra me enterrar. Não é bom não, ser largado. Pena que aquela época não tinha Marília Mendonça pra gente ouvir, né?”, brincou.
Patrick ainda foi sincero sobre ter lutado contra a depressão e o tratamento pelo qual teve de passar. Além disso, o religioso disse ter absorvido lições com o processo. “A depressão transformou a minha vida e me tornou um ser humano mais compassivo com a dor e com o sofrimento do outro”, declarou. Contudo, ele entende que apesar de estar ali para ouvir os fiéis, às vezes é necessário recomendar ajudar profissional. “Padre não é terapeuta, não é psicólogo. Teu vizinho, teu pai, teu irmão, não são psicólogos. Eu sou muito honesto de dizer: você precisa muito mais de um psicólogo do que de mim”, refletiu.
Assista ao vídeo na íntegra abaixo: