Polícia Civil conclui que namorada cortou barriga de jovem em praia do ES, e aponta detalhe crucial para resolução do caso

Coletiva de imprensa feita pelas autoridades deu mais detalhes sobre o episódio ocorrido em janeiro e que viralizou na web

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A Polícia Civil do Espírito Santo concedeu uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira (27), e deu detalhes sobre o inquérito que denunciou Lívia Lima Simões Paiva Pedra, de 20 anos, ao Ministério Público, por fazer um corte profundo na barriga do próprio namorado. De acordo com informações obtidas pelo G1, as investigações apontaram que um ferimento na mão da suspeita foi um dos principais fatores para concluir o que de fato aconteceu naquela fatídica madrugada do dia 16 de janeiro, na praia do Ermitão, Guarapari (ES).

Os documentos contrariaram a versão apresentada inicialmente pelo advogado das famílias do casal, alegando que os dois tinham sido vítimas de uma “ação criminosa e violenta praticada por terceiros” depois de terem participado de um luau. “Uma investigação difícil para a Polícia Civil. Tratava-se de um casal, um local ermo, de madrugada, não tinha testemunha, outras informações, a não ser o casal. Foi dificultada em relação a isso, mas o delegado reuniu informações para indiciar a moça por ela apresentar lesões nas mãos e o rapaz ter tido um corte grotesco”, explicou o delegado-geral da Polícia Civil, José Darcy Santos Arruda.

“Chega à conclusão que possivelmente foi a moça, utilizando de elemento cortante, que retirou o intestino do rapaz”, reforçou o oficial, destacando que só havia os dois no local. Franco Malini, delegado responsável pelo caso, apontou que Lívia teria utilizado um caco de vidro para fazer o corte que deixou exposto o intestino do namorado. O rapaz segue com a identidade preservada. Uma ligação entre a suspeita e a mãe quando tudo aconteceu também ajudou a completar o “quebra-cabeça” da investigação.

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“Um dos elementos que nos levaram a concluir é uma ligação que ela fez com a própria mãe. Tinha combinado um horário, porém não retornou. A partir de então a família começou a procurá-la. Somente 2h20 da manhã a mãe conseguiu contato com ela, ela atendeu, e foi quando a mãe relata que escutou a voz da filha, apenas, durante 50 minutos de ligação, e em alguns momentos escuta o rapaz falar ‘Praia do Ermitão’ e deduziu onde estavam”, detalhou Malini.

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Câmeras de segurança registraram chegada do casal na praia e resgate do rapaz. Foto: Reprodução

O delegado revelou que não há testemunhas para serem interrogadas, logo, tudo deve se basear nos depoimentos dos dois envolvidos. O casal, porém, declarou que não se lembra de nada do que aconteceu. “De acordo com a legislação, eles devem colaborar com as investigações. Ambos dizem não se lembrar do que ocorreu. A nossa conclusão foi que só estavam eles. O segundo ponto são as lesões que a menina apresenta na mão, lesões típicas de corte. Ela possivelmente deu soco no rosto do rapaz e fez o corte na barriga, por conta do corte que tem na mão”, afirmou Franco, acrescentando que a dupla confirmou ter usado o “quadradinho”, espécie de droga semelhante ao LSD.

O perito Fabrício Pelição, chefe do Departamento de Laboratório Forense, explicou que o rapaz não passou por nenhum exame toxicológico por conta da gravidade dos ferimentos. Lívia teve uma mecha de cabelo analisada, mas o tempo entre o ocorrido e a coleta se tornou uma variante para a precisão dos resultados. “A moça veio fazer exame, e teve amostra de cabelo coletada, mas ainda há pendência de resultado. As amostras devem ser coletadas no menor tempo possível, mas existem algumas possibilidades de análise”, disse.

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“Se formos analisar sangue, estaremos sempre falando de algumas poucas horas da coleta, urina mais horas e até dias, e cabelo traz possibilidade de ser detectado de tempo maior, mas é difícil como nesse caso se foi em um único uso [de utilização de droga]. Depois de várias semanas, foi necessário coletarmos essa amostra de cabelo”, completou Pelição.

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Autoridades chegaram a encontrar pedaços do intestino do rapaz no local do incidente. Foto: Reprodução/TV Gazeta

Relembre o caso

O jovem de 21 anos foi encontrado com um corte profundo na barriga e parte do intestino exposto, na Praia do Ermitão, em Guarapari (ES). O caso ocorreu na madrugada do dia 16 de janeiro, mas somente veio a público no dia 30, após vazamento de informações nas redes sociais. Segundo a Polícia Civil, o jovem teria ido até o local com a namorada para celebrar uma viagem de estudos que faria para fora do país.

De acordo com as imagens de câmeras de segurança, obtidas pelo G1, a dupla chegou à praia, por volta das 20h do dia 15 de janeiro. Em outro vídeo, é possível ver o estudante sendo resgatado já ferido, às 6h do dia seguinte. O estudante foi socorrido pelo Samu e levado, em estado grave, ao Hospital Estadual de Urgência e Emergência, em Vitória, onde passou por cirurgia. Em depoimento prestado à polícia, a namorada da vítima revelou que ambos “apagaram” após uso de droga e álcool. Ela declarou não lembrar do que ocorreu depois disso. Familiares dos jovens alegam que a dupla foi atacada, ferida e roubada por terceiros durante o “luau a dois”.

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Jovem segue internado. (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Em fevereiro, o prontuário médico, obtido pelo G1 e pela TV Gazeta, apontou vestígios de dosagem alta de fentanil no sangue da vítima. A substância – um anestésico e analgésico opioide de uso controlado – é 50 vezes mais potente que a heroína e 100 vezes mais forte que a morfina. [O fentanil] Pode gerar uma sedação, passa mesmo uma euforia seguida de relaxamento muscular intenso. Numa única dose, ela pode matar”, alertou a psiquiatra Carolina Coser, à reportagem.

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No início de abril, Lívia Lima Simões Paiva Pedra foi denunciada pelo Ministério Público como autora da agressão. No processo, que inclui o indiciamento feito pela Polícia Civil, a acusação diz que ela agiu “por motivação desconhecida e impulsionada pelo uso de drogas”. Lívia foi denunciada por lesão corporal grave, no entanto, as autoridades não pediram sua prisão e orientaram que ela responda à ação em liberdade. Caso seja considerada culpada, a pena é de dois a oito anos de prisão.

“A denunciada, utilizando objeto cortante, golpeou a barriga do réu e o rosto dele, causando-lhe as lesões gravíssimas estampadas nas fotos e vídeos juntadas aos autos, bem como no prontuário médico, que determinaram a debilidade permanente do intestino delgado da vítima, deformidade permanente e fratura da cavidade nasal e seio maxilar”, descreve um trecho do processo.