Polícia Civil conclui que não houve motivação política em morte do tesoureiro do PT, e família reage

Guaranho foi indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe

No sábado (9), Jorge José Guaranho matou, a tiros, o tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda. O crime aconteceu na festa de aniversário de Arruda, com temática do Partido dos Trabalhadores e do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Dias após o ocorrido, a Polícia Civil do Paraná concluiu que não houve motivação política no assassinato.

Segundo a delegada Camila Cecconello, chefe da DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa), que comandou as diligências, o atirador foi indiciado por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e, também, por causar perigo comum. Ela reforçou que o embate não foi provocado por motivo político, pois compreendeu que os disparos foram feitos apenas após uma escalada na discussão entre o tesoureiro petista e o agente federal bolsonarista. “É difícil nós falarmos que é um crime de ódio, que ele matou pelo fato de a vítima ser petista”, explicou.

A policial afirmou que, embora tenha recebido a informação de que a festa tinha temática do PT e tenha ido provocar o aniversariante com música em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, Guaranho não premeditou o crime. “Segundo os depoimentos, que é o que temos nos autos, ele voltou porque se sentiu ofendido com essa escalada da discussão, com esse acirramento da discussão entre os dois”, disse Camila. “Para você enquadrar em crime político, tem que enquadrar em alguns requisitos. É complicado a gente dizer que esse homicídio ocorreu porque o autor queria impedir os direitos políticos da vítima. Parece mais uma coisa que se tornou pessoal”, avaliou.

Desde o ocorrido, a Polícia Civil abriu um segundo inquérito para apurar as agressões sofridas por Jorge Guaranho após atirar contra Arruda. Até o momento, três pessoas estão sendo investigadas. As autoridades também aguardam um laudo pericial, que determinará a gravidade dos ferimentos do agente federal.

Marcelo faleceu no local, após ser atingido duas vezes. (Foto: Reprodução/BAND)

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Como tudo aconteceu, segundo a polícia

A polícia concluiu que a confusão começou quando Jorge, que estava em um churrasco, descobriu que a festa de aniversário de Marcelo ocorria na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu (Aresfi). Ele foi informado por outra pessoa, que teve acesso às câmeras de segurança do local. Sem fazer comentários sobre o evento do petista, Guaranho abandonou o churrasco e se dirigiu até a comemoração de Marcelo, que celebrava seus 50 anos.

“O autor dos fatos estava comemorando e ingerindo bebidas alcoólicas. [Ao saber da festa alusiva ao PT] o autor não comenta nada. Apenas pergunta onde está acontecendo a festa”, relatou a delegada. “Ele foi lá realmente no intuito de provocar a vítima. Fica muito clara que houve uma provocação e uma discussão em razão de políticas”, completou.

Testemunhas afirmaram que ele chegou em um carro acompanhado pela esposa e um bebê, enquanto tocava uma música de apoio ao atual presidente da República. Foi neste momento que a discussão entre Jorge e Marcelo começou.

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Pessoas presentes na festa disseram que Arruda jogou um punhado de terra contra o veículo de Guaranho, que depois disso, deixou a associação. Com base no depoimento da própria esposa do atirador, a Polícia concluiu que Jorge voltou logo em seguida ao local do crime. “Ele teria dito [à esposa]: ‘Isso não vai ficar assim, nós fomos humilhados. Eu vou retornar”, explicou Camila. Quando Jorge chegou, o porteiro do estabelecimento tentou impedi-lo de entrar, a pedido dos participantes da festa.

Após análise das imagens, foi possível ver que Jorge abriu o portão sozinho e Marcelo foi avisado de sua chegada. O petista carregou sua arma e a colocou na cintura, enquanto o bolsonarista estacionava o carro. Arruda empunhou a arma ao mesmo tempo que Guaranho sacou o próprio revolver. Pâmela, mulher do aniversariante, tentou intervir na discussão, enquanto eles ordenavam um ao outro para que abaixasse a pistola. O primeiro a disparar foi o agente federal.

Cecconello confirmou que Guaranho fez quatro disparos, dois dos quais atingiram o tesoureiro. O petista, por sua vez, atirou 10 vezes, acertando Jorge quatro vezes. “A vítima pega a sua arma de fogo como proteção de um eventual retorno do autor. E a vítima aponta a arma de fogo quando vê a volta do autor, porque já sabia que o autor estava armado. Então, é uma atitude natural da vítima querer se defender”, concluiu a delegada.

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Os representantes legais da família de Arruda criticam o que entenderam ter sido uma “conclusão apressada” do inquérito, sem que ao menos fosse analisado o conteúdo do celular do atirador. No entendimento de Ian Vargas, advogado da família do petista morto, é necessário investigar se há a eventual participação de terceiros no crime.

“A defesa entende que houve motivação política, crime de ódio. Até os familiares do acusado relataram que ele chegou gritando [contra Lula e a favor de Bolsonaro]. A defesa vai reafirmar que foi motivação política e vamos levantar quem é a pessoa que informou Guaranho sobre a festa temática do PT”, disse Vargas para o blog de Andréia Sadi.

“Tivemos a informação de que a perícia do celular do Jorge foi encaminhada ontem [quinta-feira (14)], e agora já apresentam relatório? Não estamos alegando que a polícia não tem competência, mas até semana que vem poderiam apurar mais, dar oportunidade para a família fornecer mais informações, realizar mais diligências”, concluiu o advogado.