[Alerta gatilho: estupro e transfobia] A Polícia Civil do Mato Grosso do Sul iniciou as investigações da denúncia de um caso de sequestro, estupro coletivo e injúria racial contra uma mulher trans. Camila, de 54 anos, foi violentada e abandonada em uma das vias urbanas de Campo Grande. Além de tudo isso, a vítima ainda foi obrigada a ter relações sexuais com um cachorro. O caso absurdo e lamentável é tratado pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) da capital como crime de LGBTfobia.
Segundo informações das autoridades, Camila foi sequestrada por dois homens no bairro Vila Sobrinho, na capital, e levada para uma residência, onde ocorreu o estupro. O caso aconteceu em 18 de junho, mas só se tornou público uma semana depois, quando a vítima precisou pedir ajuda para pessoas próximas, sem conseguir andar e com um lado do corpo paralisado. A Polícia Civil disse que a violência foi motivada “pelo preconceito por sua condição de mulher transsexual”. Contudo, a defesa de Camila já informou que vai pedir que o caso seja considerado tentativa de homicídio.
O jornal Folha de São Paulo apurou que a mulher ainda está internada no Hospital Universitário de Campo Grande. A assessoria de comunicação do centro médico informou que a paciente “foi submetida a uma cirurgia de reconstrução do reto e ainda passa por exames para doenças infecciosas”, e segue sem previsão de alta. A unidade revelou que Camila está fazendo o uso de um dreno, alimentando-se totalmente com dieta líquida e tomando algumas medicações necessárias.
A delegada responsável pela Deam, Barbara Camargo Alves, afirmou que os policiais estão “trabalhado incansavelmente” para esclarecer o crime. À Folha, ela explicou por que o caso é tratado como injúria racial com motivação homofóbica, um tipo de injúria qualificada. “A gente faz com base no relato da vítima e ela narra estupro coletivo, instigado por mais de uma pessoa e, no momento do ato, sendo insultada por sua condição de identidade de gênero, por ser mulher trans”, disse. Ainda segundo Barbara, a tipificação do crime pode ser alterada ao longo das investigações.
A mulher já foi ouvida pela Polícia Civil mais de uma vez, no entanto, os detalhes da apuração não serão divulgados, para que as investigações não sejam prejudicadas. A advogada que representa Camila, Adriane Cardoso, esteve no hospital e disse que a vítima está bem abatida. “Isso vai marcar a vida dela. Ela é uma pessoa muito simples, já sofreu muita discriminação”, contou.
Camila vive em um anexo de uma academia de ginástica, em troca de prestação de serviços gerais. A mulher também trabalha como diarista e como carnavalesca de escolas de samba locais. Mas, com a pandemia, viu sua renda cair consideravelmente. Agora, a família está recorrendo às redes sociais para pedir ajuda à população, com a intenção de que colaborem com recursos financeiros e ajuda psicológica para a vítima.
Passado o mês do Orgulho, essas atrocidades ainda nos assombram. O Brasil segue sendo o país que mais mata pessoas da comunidade LGBTQIA+ no mundo, com transexuais e travestis como os principais alvos. Em 2020, 175 pessoas foram assassinadas aqui, simplesmente por serem quem são. Recentemente, outro caso absurdo aconteceu em Recife, quando uma mulher trans foi queimada viva e precisou amputar o braço. Revoltante! Saiba os detalhes, clicando aqui.