Nesta quinta-feira (30), na abertura da sessão da CPI da Covid, o senador Fabiano Contarato (Rede-AP) fez um discurso impactante sobre uma frase do empresário Otávio Fakhoury, publicada nas redes sociais recentemente. Após o forte depoimento, Contarato, que é homossexual, então pediu que a Polícia Legislativa do Senado apure se Fakhoury cometeu o crime de homofobia.
Tudo começou quando, no Twitter, o apoiador de Jair Bolsonaro se aproveitou de um erro de ortografia cometido pelo senador na mesma rede social, para fazer um comentário considerado homofóbico por Contarato. Na ocasião, Fabiano falava sobre o depoimento do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, um dos primeiros a depor na CPI. Ele escreveu que Wajngarten deveria ser preso e que, em seu depoimento, se configurou “estado fragancial (sic)”.
A palavra correta seria “flagrancial” e o erro foi utilizado por Otávio na tentativa de debochar do senador. “O delegado [Contarato], homossexual assumido, talvez estivesse pensando no perfume de alguma pessoa ali daquele plenário… Quem seria o ‘perfumado’ que lhe cativou?”, escreveu ele. O comentário veio pouco depois que Fakhoury teve seu depoimento agendado pela CPI, na semana passada.
Contarato passando o maior sabão no empresário Fakhoury após ele atacar o senador com homofobia. Canalhas! Sempre se escondem atrás da "moral", "bons costumes", de apenas uma forma de família para atacar pessoas. #CPIdaCovid pic.twitter.com/r8WysXRvmi
— Mídia NINJA (@MidiaNINJA) September 30, 2021
A resposta do senador, por sua vez, aconteceu hoje (30). Com a voz embargada, Contarato subiu na cadeira da presidência da CPI, após ter o espaço cedido a ele pelo presidente Omar Aziz (PSD-AM) e dirigiu-se ao empresário. “O senhor pegou um tuíte meu e por um erro de grafia de rede social, o senhor fala isso. O senhor não é um adolescente. O senhor é casado, tem filhos. A sua família não é melhor que a minha”, afirmou Fabiano. “E o senhor diz o seguinte: ‘O delegado, homossexual assumido, talvez estivesse pensando no perfume de alguma pessoa ali daquele plenário… Quem seria o ‘perfumado’ que lhe cativou?’. Eu não consigo entender o que leva o senhor, que tem maioridade… O que leva o senhor [a isso]? O senhor tem filhos… Qual imagem enquanto pai, enquanto esposo, enquanto cidadão, o senhor vai passar para os seus filhos?”, questionou.
“‘Quem seria o ‘perfumado’ que lhe cativou?’. Porque o Supremo Tribunal Federal, tardiamente, o mesmo Supremo que o senhor defende para extinguir, criminalizou a homofobia equiparando ao crime de racismo. Aliás, um dos poucos crimes que são considerados inafiançáveis e imprescritíveis. O senhor está obedecendo o princípio da moralidade? Qual o conceito de moralidade do senhor? Qual o conceito de legalidade? Qual imagem que você vai deixar para os seus filhos?”, continuou o senador.
Na sequência, muito emocionado, o parlamentar discursou sobre o ostracismo vivido pela comunidade LGBTQIA+ no país. “O senhor pode ter todo o dinheiro do mundo. Eu tenho a minha vida modesta e com muito orgulho, cuidando da minha família, um orgulho com o meu esposo e os meus filhos, Gabriel e Mariana. E eu quero que eles tenham a certeza de que eu lutei e vou continuar lutando para reduzir essa desigualdade que há no Brasil”, afirmou Contarato. “Porque se o senhor obedecesse o princípio da legalidade, o senhor saberia que no artigo 3º, inciso quatro da Constituição Federal, está expresso que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é promover o bem-estar de todos e abolir toda e qualquer forma de discriminação. O senhor não é um adolescente, então eu não poderia deixar de me pronunciar”, pontuou.
Após receber o apoio de membros da CPI, Fabiano então prosseguiu com o desabafo direcionado a Fakhoury. “Eu aprendi que a orientação sexual não define caráter, a cor da pele não define o caráter, poder aquisitivo não define caráter. E eu fico muito triste, sabe por quê? Porque eu fico me colocando no lugar dos seus filhos. Isso vai ficar no Senado Federal para o infinito. E o senhor não sabe como é difícil para mim expor a mim e a minha família, os meus filhos, num momento tão delicado como esse. Mas é necessário isso, para que outros não sofram o que eu estou sofrendo. Porque se o senhor faz isso comigo, como senador da República, imagine num Brasil que mais mata a população LGBTQIA+? Então o mínimo que o senhor deveria fazer é pedir desculpa não só a mim, mas a toda a população LGBTQIA+”, reforçou Fabiano.
Na sequência, o senador concluiu seu discurso com uma fala impactante. “Assim como Martin Luther King teve um sonho, eu também tenho um sonho. Eu sonho um dia em que eu não vou ser julgado pela minha orientação sexual. Eu sonho um dia em que meus filhos não serão julgados por serem negros”, pontuou ele, antes de disparar críticas ao atual presidente Jair Bolsonaro, a quem Fakhoury apoia. “O senhor é o tipo da pessoa que retrata muito bem esse presidente, que fala na família tradicional. Mas a minha família não é pior que a sua. A mesma certidão de casamento que o senhor tem eu tenho. O senhor é o principal violador dessa moralidade e legalidade”, finalizou.
Expus minha família e minha vida para que outras famílias LGBT não sofram o que sofremos. Fiz esse desabafo na CPI hoje diante do depoente que me agrediu. Homofobia é crime! Aprendi com meus pais a respeitar as pessoas. Orientação sexual não define caráter. https://t.co/7Tes6I39sZ
— Fabiano Contarato (@ContaratoSenado) September 30, 2021
Após o fim do desabafo do senador, Otávio Fakhoury pediu desculpas e disse que “não teve a intenção de ofender”. O depoente alegou, também, que sua postagem foi infeliz. No entanto, o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), determinou a autuação do empresário por crime de homofobia e requisitou, ainda, que a denúncia seja encaminhada para o Ministério Público Federal (MPF).