Sérias consequências! No último sábado (30), em meio aos protestos do movimento “Black Lives Matter” em Atlanta, policiais causaram revolta ao arrombar um veículo de estudantes negros, arrancá-los de dentro, e agredi-los com armas de choque. Nesta terça-feira (02), seis dos envolvidos foram acusados por terem usado força excessiva na abordagem do casal.
De acordo com o BuzzFeed News, a investigação das imagens (registradas por câmeras no uniforme da polícia), levou à acusação de quatro policiais por tentativa de lesão corporal qualificada, e outro por lesão corporal grave. O material também provou que alguns oficiais mentiram sobre a ocorrência. Um deles havia dito que o casal teria apontado uma arma para os policiais, enquanto outro inventou que os estudantes pretendiam fugir de ré.
Mas esse não foi o caso. Os jovens Taniyah Pilgrim e Messiah Young – alunos de colégios historicamente voltados para pretos em Atlanta – foram mesmo vítimas da brutalidade policial. “Ambos eram extremante inocentes. Eles eram tão inocentes a ponto de serem ingênuos”, afirmou Paul Howard, procurador público do condado de Fulton, na Geórgia.
Numa coletiva de imprensa nesta terça, Howard lamentou a ação policial. “É muito difícil assistir àquela fita e não ser afetado por isso”, disse. O procurador ainda afirmou que as agressões não representariam o que a cidade de Atlanta defende. “A conduta envolvendo esse incidente não é um indicativo da maneira que nós tratamos as pessoas aqui em Atlanta”, defendeu.
Os seis policiais têm até o dia 5 de junho para se entregarem. Segundo Howard, a fiança para cada um deles é de 10 mil dólares – cerca de 52 mil reais.
Novos detalhes
Na coletiva, o procurador explicou que Messiah e Taniyah estavam andando com o carro numa área de protestos, quando um oficial lhes pediu para saírem de lá, ou então seriam presos. Na sequência, os dois deixaram a rua. Contudo, pouco depois, os policiais os abordaram novamente, no momento em que arrombaram o veículo e usaram suas tasers para atacá-los – cena que viralizou nas redes sociais.
“[O choque] durou por algum tempo, enquanto ela estava tremendo e gritando de dor. Depois que o choque aconteceu, ela foi tirada de dentro do carro e jogada na calçada”, citou Howard. Messiah tentou proteger Taniyah e arrancar os fios da arma de choque. Entretanto, ele mesmo acabou atacado com a taser e, na sequência, jogado para fora do veículo – o que o fez fraturar o pulso e levar 24 pontos num corte. Confira um trecho das imagens registradas pela câmera dos policiais.
Video from one of the APD body cameras that led to the firing of two Atlanta police officers. Police tried repeatedly to stop a car during Saturday’s protests, before ultimately using a taser to remove two college students from the vehicle. @wsbtv pic.twitter.com/PFNWFiDGFp
— Justin Wilfon (@Justin_Wilfon) June 1, 2020
“Como você pode ver, quando Young estava no carro, ele passou a maior parte do tempo tentando repelir os disparos elétricos que eram jogados no corpo dele… Não é possível ver um momento em que qualquer tentativa de atropelar um oficial tenha sido feita”, declarou o procurador. Segundo Howard, nenhuma arma foi encontrada no veículo, o que comprova que ninguém apontou uma arma para os policiais.
Relembre o caso
Em meio aos crescentes protestos após a morte de George Floyd, o caso gerou revolta no último sábado (30). A repórter da CBS Brittany Miller estava no local e filmou a brutal ação policial. “A janela deles foi quebrada, seus pneus foram furados. Eu assisti a tudo isso se desdobrar em questão de segundos”, disse ela. A jornalista reportou que “os jovens foram arrancados de fora do carro e foram atacados com uma taser [arma de choque]“. Nas imagens, é possível observar o semblante de dor do rapaz ao receber o disparo elétrico, ainda no carro.
“Os policiais parecem ter vindo do nada. Por quê? Eu conseguia ouvir ela gritando, se questionando sobre a mesma pergunta. Havia vários carros ao redor e dezenas de manifestantes. Por que esse carro?”, questionou Miller, sobre a motivação omissa da polícia. Pelo Twitter, o vídeo atingiu mais de 20 milhões de visualizações e gerou muita indignação. Assista à íntegra aqui:
https://www.instagram.com/p/CA27quMhqJA/
Sobre o motivo da abordagem, algumas fontes disseram que a razão teria sido a violação do toque de recolher nas ruas de Atlanta. Outros relatos pontuam que o casal teria tentado contornar os policiais, quando foram pedidos para parar. Mas não há uma explicação oficial sobre qual teria sido o objetivo da ação policial.
A repórter posteriormente descobriu que os dois jovens agredidos no carro eram estudantes do Spelman College e do Morehouse College – instituições historicamente voltadas para mulheres negras, e para homens negros, respectivamente.
Policiais demitidos
De acordo com o The New York Post, neste domingo (31), dois policiais foram demitidos e outros três foram impossibilitados de trabalhar nas ruas, após o uso de força excessiva na ocasião. Durante uma coletiva de imprensa, a prefeita de Atlanta, Keisha Lance Bottoms, e a chefe da polícia, Erika Shields, anunciaram a decisão após revisarem o material em vídeo da cena.
“O uso de força excessiva nunca é aceitável”, declarou Bottoms durante a coletiva. A prefeita também classificou as cenas como “realmente chocantes de se assistir”. A chefe da polícia explicou ter tentado entender a situação. “Eu realmente queria acreditar que a gravação da câmera dos policiais daria uma visão ampla que pudesse racionalizar por que chegamos a esse ponto”, afirmou Shields.
Entretanto, Erika não conseguiu chegar a nenhuma explicação. Portanto, só coube a ela tomar a decisão final. “Passando boa parte desta tarde com a prefeita, assistindo exaustivamente às filmagens, eu soube que eu só tinha uma opção, que era despedir os funcionários”, completou a oficial.
No sábado, após a abordagem, os dois jovens negros foram levados pelos policiais. Inicialmente, o rapaz chegou até mesmo a ser detido. Contudo, segundo o TMZ, a prefeita explicou que os estudantes não enfrentarão nenhuma acusação. Ela ainda pediu ao departamento de polícia de Atlanta que abandonasse o caso completamente.