Mais detalhes sobre o trágico acidente que tirou a vida de Marília Mendonça vão se revelando… O episódio desta sexta-feira (5), está sendo investigado pela CENIPA, Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) afirmou neste sábado (6), que a linha de distribuição que foi atingida pelo avião fica fora da zona de proteção do aeroporto da cidade, seguindo os termos da portaria do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
A zona de proteção é equivalente à área em volta ao aeroporto que está sujeita a restrições para que as aeronaves operem com segurança. A Cemig afirmou, segundo o G1, que “segue rigorosamente as Normas Técnicas Brasileiras e regulamentação em vigor em todos os seus projetos” e que “as investigações das autoridades competentes irão esclarecer as causas do acidente“. Pilotos que sobrevoaram a região da queda e testemunhas relataram que a aeronave “rasgou” os fios de alta tensão.
Reclamações de pilotos
Dois pilotos já haviam feito notificações no sistema oficial da Aeronáutica falando sobre os riscos da antena e da torre de energia, sem iluminação, ao redor do aeródromo de Caratinga. Os relatos ocorreram nos últimos três meses e constam no sistema público do DECEA (Departamento de Controle Espaço Aéreo). As reclamações dos pilotos foram registradas no quadro de avisos aos aeronavegantes, o chamado Notam (documento para divulgar informações sobre segurança, regularidade e eficiência da navegação).
No dia 6 de julho, aconteceu a primeira notificação. Ela dava conta de um obstáculo (antena), que era um objeto de forma não autorizada e não iluminada. Isso violaria, segundo o relato, o plano básico da zona de proteção. A segunda notificação veio no dia 13 de setembro, e também cita “obstáculo montado (torre)“, falando sobre os mesmos termos.
Segundo o UOL, uma fonte da área aeronáutica afirmou que essas notificações seriam suficientes para justificar uma interdição no aeroporto em que o avião de Marília pousaria. “Todo piloto deve olhar esses alertas antes de qualquer voo, para saber detalhes, por exemplo, se um número de telefone mudou“, disse a pessoa, que não quis ser identificada.
Ainda segundo a reportagem, o avião em que estava a cantora se aproximou do aeródromo pelo lado oeste, quando o indicado seria pelo setor sul. Outro ponto questionável é que, para acertar os fios, a aeronave tinha que estar voando mais baixo que o indicado. As causas da queda, entretanto, ainda serão investigadas.
Piloto dá detalhes sobre área
O piloto Rafael Lacerda, que trabalha há 10 anos sobrevoando a região de Caratinga, Minas Gerais, disse em entrevista sobre como o local é visto como perigoso pelos profissionais do ramo. “Aquela é uma área que todos os pilotos evitam voar. A gente não sabe por que ele decidiu ir por ali“, falou ele ao Correio 24 horas. A cantora se dirigia à cidade mineira para realizar um show por lá na noite de sexta. Lacerda usava uma frequência de rádio aberta antes de chegar em Caratinga e afirma que pôde ouvir o piloto responsável pelo voo de Marília passando instruções para o pouso.
“Ele reportou duas vezes que tinha ingressado na perna do vento, um procedimento que a gente usa para pousar. Só ouvi isso e, depois, mais nada. Aparentemente, o avião não estava em pane“, relatou ele. Ainda ontem, a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) confirmou que a aeronave atingiu um cabo de torre de distribuição da companhia antes de cair, mas não esclareceu qual seria o papel do choque para a queda.
Rafael esclareceu que esses fios realmente seriam motivo de preocupação aos profissionais, suficiente para que eles evitassem a rota. “Para nós que estamos acostumados, os fios não chegam a atrapalhar. Mas eles estão em um setor de muita aproximação e com o relevo muito alto, então é uma área que todos os pilotos evitam. Quando eu pousei, passei por cima do local do acidente e não percebi o avião ali“, contou.
Neste sábado (6), uma equipe da CENIPA saiu do Rio de Janeiro com destino a Caratinga para iniciar as investigações sobre o acidente. O trabalho consistirá em identificar os indícios do episódio, fotografando a área e o avião. Eles terão que retirar partes da aeronave, coletar destroços e outros materiais para fazer uma análise. O investigadores ainda devem ouvir testemunhas da queda.
Segundo o tenente-coronel Oziel Silveira, chefe do Cenipa III, pode ser que não exista caixa-preta da aeronave, já que elas não são exigidas em aviões daquele modelo. Entretanto, ele explicou que as gravações de possíveis conversas entre o piloto e torres de controle já foram solicitadas para a Anac. Além de Marília, também perderam a vida na tragédia o tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho, o produtor Henrique Ribeiro, o piloto Geraldo Martins de Medeiros e o copiloto da aeronave Tarciso Pessoa Viana.