Em cartaz em alguns cinemas brasileiros, “Imperdoável” chega à Netflix no dia 10 de dezembro e vai mostrar Sandra Bullock de volta à atuação após o sucesso de “Bird Box”, de 2018, também na plataforma. Em entrevista ao hugogloss.com, a atriz se juntou ao seu colega de elenco, Rob Morgan, para dar detalhes sobre sua preparação para o filme e também comentar o que acha da possível sequência de “Bird Box” que estaria sendo desenvolvida.
“Eu não sei nada sobre! Eu nem li o livro!”, adiantou Bullock sobre a continuação que seria baseada na segunda obra da saga de Josh Malerman, “Malorie”. “Aparentemente, a Malorie está nele, se passa um pouco depois, eu não sei se é Bird Box 2…”, brincou.
Sincerona, Sandra foi enfática ao dizer que não sente necessidade da sequência. “Olha, a gente precisa dele? Provavelmente não. Se algo surgir que valha a pena ser contado e feito, então ótimo, mas eu estou feliz com o que eu tenho. Estou feliz com o desconhecido, estou feliz de não saber, eu não li o livro, então eu não sei”, concluiu.
Em entrevista à revista “Inverse”, ainda no ano passado, Josh Malerman, responsável pela obra literária de 2014, afirmou que a sequência do filme já estaria sendo preparada. “Eu não posso falar muito, mas eu posso dizer que está em desenvolvimento. Às vezes, é estranho, todo esse segredo, mas tenho conseguido lidar bem com isso“, afirmou.
O novo enredo se inicia oito anos após o fim da história anterior, se aprofundando na personalidade da protagonista. “O mundo de ‘Bird Box’ é a história de Malorie e eu queria conhecer melhor sobre ela. Queria conhecê-la ainda mais. No fim do filme, virei para minha filha Allison e disse: ‘Eu quero saber o que acontece em seguida!’. E ela disse: ‘Bom, você sabe, você poderia fazer isso acontecer’, e foi um sentimento bom”, contou Josh, que veio a publicar o novo livro, “Malorie”, em julho de 2020.
Imperdoável, o novo longa de Sandra para a Netflix
Em “Imperdoável”, Bullock interpreta Ruth Slater, uma mulher que volta ao convívio da sociedade após cumprir pena de 20 anos por assassinato, e busca com afinco reencontrar a irmã, que não pôde ver durante todo esse tempo. A ressocialização e o reencontro, no entanto, não são nada fáceis já que ela é discriminada pelo seu passado e julgada por onde passa.
No papo com Hugo Gloss, Sandra contou ter se reunido com mulheres que estão, ou estiveram na prisão, para tentar dar conta das dores da personagem, e os relatos a impactaram. “Meu trabalho era ouvir as histórias delas e, infelizmente, eu ouvia muitas histórias se repetindo e [o ponto em comum entre elas] era a pobreza. Elas estavam em um sistema em que não eram destinadas ao sucesso a partir do minuto em que nasciam. Assim como as mães delas, as mães das mães delas… e isso me deixou com vergonha, triste, e até agora muito mais determinada a mostrar os sacrifícios delas que nunca são reconhecidos”, lamentou.
“Não era um lugar divertido de se estar, mas as mulheres historicamente não recebem permissão para sentir qualquer coisa que não seja bonita. Não recebemos permissão para ficar bravas, não recebemos permissão para ter raiva. E por que será? Olhe o nosso sistema prisional. Das mulheres, cerca de 75% está lá porque estavam se defendendo. Elas estavam em uma situação terrível em que tinham que se defender para sobreviver. E nós não podemos ter raiva? Algo está muito quebrado aí”, apontou.
Já Rob Morgan vive Vince Cross, o oficial da condicional de Ruth no filme. Para a preparação, ele revelou que se inspirou, e quis homenagear, Bass Reeves, o primeiro delegado negro dos Estados Unidos, a oeste do rio Mississippi. “O Bass Reeves tem o melhor histórico de justiça criminal até hoje na aplicação da lei, então eu pensei que o Vince Cross teria o melhor histórico de não-reincidência na aplicação da lei. Aí, eu levei essa honra enquanto estava lidando com a Ruth Slater e meu objetivo era impedi-la de voltar para a prisão. Acho que meu personagem era mais sobre seguir o livro à risca, mas ao mesmo tempo deixar o caminho traçado para o que ela precisava fazer”, explicou.
Ainda no elenco está Viola Davis, responsável por uma das cenas mais poderosas do filme ao lado de Bullock. Segundo a estrela de “Miss Simpatia”, Viola entrou no longa após o retorno das gravações no meio da pandemia. “Quer dizer, você implora para a Viola Davis para fazer um papel coadjuvante porque ninguém além da Viola Davis poderia trazer o poder emocional que ela traz, por muitas razões”, destacou. “A gente teve que interromper na primeira metade, então eu e ela estávamos sempre distantes com máscaras e face shields”, recordou ela.
De acordo com Sandra, a conexão entre as duas na cena foi tão forte porque envolveu o sentimento de ser mãe. “O que foi tão poderoso para mim foi que eu e ela nos identificamos porque nós duas somos apaixonadas por ser mães. Nós duas adotamos, nós duas amamos nossas famílias”, detalhou, acrescentando ainda uma tática de Viola para dar ainda mais força para a atuação naquele momento.
“Quando essa cena acontece, que nós duas estamos fora da casa, os dois meninos que interpretam os filhos dela não estavam por perto porque nós estávamos distanciando todo mundo e ela falou: ‘Não, eu preciso dessas duas crianças aqui, passando por mim, enquanto eles entram na casa e eu saio’. E eu assisti ao que ela fez. Ela precisava daquelas crianças ali para acender a “mamãe urso” dentro dela. Então, no minuto que trouxeram os meninos de volta e ela saiu da casa, foi imediatamente poder. Você ouve poder. Você respeita poder”, analisou a atriz.
Nem mesmo, a porção de protocolos de combate à pandemia impediu uma performance visceral das estrelas. “Muito precisou acontecer em um período curto de tempo, com máscaras e face shields. Nós nunca estávamos em cena ao mesmo tempo em que a outra não estivesse de máscara ou face shield. Era bizarro, era muito bizarro. [Mas] ela entrou com poder e tudo que eu tive que fazer foi reagir”, pontuou a intérprete de Ruth.
Por fim, Sandra e Rob falaram sobre o debate, que voltou à tona recentemente, sobre filmes que precisam ser assistidos em uma tela de cinema para conservar a experiência. Ambos já lançaram longas exclusivos para o streaming, mas “Imperdoável” teve duas semanas em cartaz antes de chegar à Netflix. “Eu acho que se você está fazendo conteúdo necessário, o conteúdo necessário vai ser bom seja no cinema ou no streaming”, resumiu Morgan.
“É verdade. Pense nas histórias que foram contadas agora que temos streaming que nunca teriam visto a luz do dia se só os cinemas estivessem disponíveis. Pense em todas as culturas que foram mal representadas nas telas de cinema. Pense em todas as jornadas nas quais podemos embarcar que nunca teriam sido feitas se não fosse o streaming”, concordou Bullock. Os atores ainda afirmaram que não estariam trabalhando hoje em dia se não fosse pelo streaming.
“Eu não estaria nas telas se isso não fosse algo que existe, mas existe. Existia antes da pandemia e agora que a pandemia está aqui, graças a Deus, o streaming existe. Graças a Deus temos a habilidade de contar histórias. Eu apenas gosto de trabalhar com pessoas, eu não ligo onde você assiste”, afirmou a estrela. “Sim, o cinema seria ótimo e seria legal estar com vizinhos e amigos e a comunidade, mas eu também gosto de estar em casa com meus filhos, segura. Então eu digo graças a Deus que ambos existem”, finalizou ela.
Nada como ter as duas opções disponíveis, né? Confira abaixo a entrevista com Sandra Bullock e Rob Morgan na íntegra: