Após ter sido identificado em imagens de câmeras de segurança, o empresário Eduardo Fauzi Richard Cerquise assumiu a autoria ao atentado à produtora do grupo de humor Porta dos Fundos. Depois de ter embarcado para a Rússia na último domingo (29), ele contou que pedirá asilo político ao país e detalhou suas motivações para o crime.
Fauzi revelou uma questão preocupante: ele teria recebido informações privilegiadas sobre seu mandado de prisão no Brasil. “Achavam que fui muito estúpido pra não cobrir o rosto e não alterar a voz, mas fui conectado o suficiente pra ser avisado do mandado a tempo de viajar pra fora do país”, mencionou ele, em entrevista ao Projeto Colabora nesta sexta (03).
Eduardo também confirmou que agiu por conta do Especial de Natal do Porta dos Fundos. “O ato não foi motivado por qualquer razão eleitoral ou financeira, como resta evidente. O que mobilizou o ato foram as energias de todo o povo acumuladas pela tensão que as ofensas bárbaras contra Deus e o sentimento popular mobilizaram. Era inevitável que algo ocorresse. Alguém tinha que tomar alguma atitude”, explicou ele, que é filiado ao PSL.
“Para um cristão… uma ofensa medonha contra o nome de Cristo e, por extensão, contra o nome de todo o cristão e de tudo aquilo que ele representa é uma violência muito maior do que um foguinho de m*rda numa parede de vidro, sem qualquer material inflamável que pudesse propagar o fogo que foi apagado em 12 segundos e não gerou qualquer estrago ou prejuízo material”, adicionou. Meu Deus…
Agora procurado não só pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, como também pela Interpol, ele espera ter seu asilo político confirmado. “Eu sou o candidato típico [ao asilo]. Mas a decisão é política. Se não houver interesse político eles não me não me asilam”, adicionou Eduardo, que esteve envolvido em trâmites para seu pedido às autoridades russas.
O empresário também negou a participação de um suposto grupo “integralista” no ataque – que já havia reivindicado o atentado. “‘Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira’ não existe enquanto grupo organizado. É apenas uma estratégia de marketing, uma peça midiática, uma roupagem que abusa de elementos pastiche e de uma estética agressiva e simbólica para gerar impacto, polarizar atenções e causar discussão”, comentou.
Segundo o jornal O Globo, Fauzi soma 20 passagens anteriores em sua ficha criminal. A polícia acredita que ele dirigia o veículo utilizado na ação que envolveu pelo menos outras quatro pessoas, quando o grupo atirou bombas e coquetéis molotov no edifício da produtora. Em imagens de segurança, o economista aparece andando pelas ruas de Botafogo, enquanto desembarca e retira uma fita que protegia a placa do carro utilizado no atentado.
A publicação afirma que o Ministério da Justiça aguarda uma solicitação do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) para encaminhar o pedido de extradição do brasileiro à Rússia. De qualquer modo, Eduardo tem uma passagem de volta comprada para o Brasil e marcada para o dia 29 de janeiro.
Relembre o caso
Na madrugada de 24 de dezembro, a produtora responsável pelos conteúdos do Porta dos Fundos foi alvo de um ataque a bombas no Rio de Janeiro! De acordo com o G1, a assessoria de imprensa do grupo contou que dois coquetéis molotov foram atirados na fachada do imóvel.
Após os danos materiais causados no quintal e na recepção do local, o ataque foi registrado como crime de explosão na 10ª DP (Botafogo). Um funcionário que estava no prédio no momento – por volta das 4h – conseguiu conter o fogo e impedir um incêndio ainda maior. O segurança afirma ter visto também uma moto na contramão e uma picape na rua, assim que os coquetéis foram atirados.
Com o ocorrido, o grupo vencedor do “Emmy Internacional 2019” se manifestou. “O Porta dos Fundos condena qualquer ato de ódio e violência e, por isso, já disponibilizou as imagens das câmeras de segurança para as autoridades, para o Secretário de Segurança, e espera que os responsáveis pelos ataques sejam encontrados e punidos”, disse sua assessoria em nota. Eles também reforçaram que seguirão “mais unidos, mais fortes e mais inspirados pela liberdade de expressão”.
Desde o início de dezembro, o grupo humorístico tem sido alvo de diversos ataques por conta de seu “Especial de Natal”, veiculado na Netflix. Pelo fato de ter feito seu Jesus da ficção viver uma experiência gay, a produtora tem sido alvo de críticas de diversos grupos religiosos. Pelas redes sociais, foram várias as queixas e protestos contra a produção, sob a justificativa de que ela seria ofensiva à crença de tais pessoas.
Mesmo com abaixo-assinados e todos os ataques virtuais, o especial “A Primeira Tentação de Cristo” teve o melhor desempenho de audiência entre originais nacionais do catálogo do streaming, segundo uma fonte revelou ao “O Globo”. Com isso, a Netflix já renovou seu contrato com o Porta dos Fundos, garantindo um novo especial de Natal em 2020.
Ao Uol, a Polícia Civil contou que pretende dar respostas assim que possível: “A perícia foi realizada no local e a equipe do Esquadrão Antibombas arrecadou fragmentos dos artefatos para análise. Diligências estão em andamento para esclarecer o caso“.
Confira o comunicado na íntegra:
“Na madrugada do dia 24 de dezembro, véspera de Natal, a sede do Porta dos Fundos foi vítima de um atentado. Foram atirados coquetéis molotov contra nosso edifício. Um dos seguranças conseguiu controlar o princípio de incêndio e não houve feridos apesar da ação ter colocado em risco várias vidas inocentes na empresa e na rua.
O Porta dos Fundos condena qualquer ato de violência e, por isso, já disponibilizou as imagens das câmeras de segurança para as autoridades, para o Secretário de Segurança e espera que os responsáveis pelos ataques sejam encontrados e punidos. Contudo, nossa prioridade, neste momento, é a segurança de toda a equipe que trabalha conosco.
Assim que tivermos mais detalhes, voltaremos a nos manifestar. Mas, por enquanto, adiantamos que seguiremos em frente, mais unidos, mais fortes, mais inspirados e confiantes que o país sobreviverá a essa tormenta de ódio e o amor prevalecerá junto com a liberdade de expressão”.