Isabel Teixeira, a Maria Bruaca, de ‘Pantanal’ se abre: ‘Fiz dois abortos’

A atriz é filha de Alexandra Corrêa, um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro

Isabel Teixeira

Com quase 40 anos de carreira, Isabel Teixeira mergulhou apenas recentemente no mundo das novelas. À Marie Claire, a atriz abriu o coração sobre a sua trajetória no mundo das artes. Na conversa, a intérprete de Maria Bruaca em “Pantanal” também compartilhou lembranças de sua família – repleta de artistas do teatro – e momentos de sua vida íntima.

Para a revista, a atriz contou que já passou por alguns abortos durante a juventude. “Fiz dois abortos. Aconteceu. Meus filhos vieram na hora que escolhi“, disse. Ela relembrou como decidiu fazer o primeiro procedimento: “Éramos muito jovens (Teixeira e o namorado). Então, todos nos reunimos na sala e decidi abortar. Foi difícil, mas tive apoio“. “Minha bisavó fez aborto com agulha de tricô porque era viúva e gostava de namorar”, lamentou ao refletir sobre a hipocrisia social e o controle sobre o corpo feminino.

Isabel, hoje, é mãe de dois jovens: Diego, de 18 anos, e Flora, de 11. Flora, inclusive, foi introduzida ainda muito pequena ao universo artístico. “Minha filha já nasceu em um sling, embarcando comigo para a Alemanha (para uma temporada de teatro)”, recordou a atriz.

A própria Isabel começou cedo no teatro: aos dez anos, quando participou de uma montagem sobre ecologia e desigualdade social. Isabel – que é filha da atriz Alexandra Correa e do cantor Renato Teixeira, autor de “Romaria” – recebeu o apoio da mãe antes da estreia. “Então, m*rda (expressão equivalente ao ‘boa sorte’ no teatro)”, disse a matriarca após ter certeza que a garota não queria desistir do papel. Na ocasião, ganhou, também, um padrinho dos palcos: Umberto Magnani, que morreu em 2016. “Um dia antes da estreia, eu estava péssima, e o Umberto falou: ‘Eu dou sua galharufa, você é minha afilhada no teatro’. Até ele partir para o outro plano, sempre que o via dizia: ‘Bênção, padrinho’“, compartilhou.

Desde então, foram-se mais de 30 nos palcos, com o reconhecimento da crítica. Em 2008, ela recebeu o Prêmio Shell – o Oscar do teatro brasileiro – pela atuação na peça “Rainha[(s)]”. A obra – adaptação de um texto de Friedrich Schiller – conta a história do encontro entre duas intérpretes da Rainha Elizabeth I e sua prima Mary Stuart, decapitada sob ordem da monarca.

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Acostumada a viajar para se apresentar em diversos países, foi depois de uma temporada na França, que Isabel se viu desiludida com sua terra natal. “Até holerite eu tinha“, rememora sobre sua longa estadia em Paris com a companhia Théâtre de l’Odéon. “O ano de 2019 foi uma fenda na minha vida. Parecia que tudo em que acreditava havia desmoronado“, admitiu sobre o retorno ao Brasil.

Nesta época, ela – que estudou na Escola de Arte Dramática e, depois, cursou Letras, ambas da USP – cogitou mudar de profissão. Não deu tempo. Sua veia artística foi salva por um convite para participar da série “Desalma”, da Globoplay. Depois dali, Isabel participou de “Amor de Mãe” e, agora, “Pantanal”, ambas da TV Globo. “Nunca falei para um público tão grande, a telenovela tem sido essa chance de alcançar multidões com o meu trabalho. Tem algo interessante aí“, reflete ela, um fenômeno na pele de Maria Bruaca.

Sobre a esposa de Tenório (Murilo Benício), Teixeira percebe na reação do público um sinal das mudanças do mundo. “O curioso é que na versão de 1990, a Angela (Leal), que fez a Bruaca, era atacada nas ruas. Eu, em 2022, ouço só elogios. Me dizem que a Bruaca presta um serviço de redenção às mulheres. Sinais dos tempos, não?“, questiona.

Em “Pantanal”, Isabel Teixeira interpreta Maria Bruaca.  (Foto: Reprodução/TV Globo)

Nascida e criada em São Paulo, a artista relembra seu primeiro contato com o pantanal, quando, ao lado de Juliano Cazarré, percorreu o Rio Negro em uma pequena lancha. “Tivemos que esperar para gravar, e o Juliano desligou o motor. Olhando o Pantanal, percebi num átimo de segundo que estava emocionada não só com a natureza, mas também com a segunda natureza, que é arte da ficção. Vi que todos estavam juntos, que aquilo era um equilíbrio entre três barcos para fazer a mágica acontecer“, observa. Imersa no silêncio da região, Teixeira conta que caiu em prantos.

Apesar da longa e aclamada carreira, Isabel se mantém simples sobre o próprio talento. “Se tiver que resumir em uma única coisa, diria escritora de diários“, brinca. Quem já trabalhou com ela, no entanto, não poupa elogios. “É uma das maiores atrizes que já conheci“, define Adriana Esteves, que contracenou com Isabel em “Amor de Mãe”. Murilo Benício endossa a fala sobre sua esposa da ficção: “É um sonho contracenar com a Isabel. Ela torna o meu trabalho real. Ela acredita o tempo todo“.

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