A partida precoce de Paulo Gustavo, aos 42 anos, vítima da Covid-19, ainda entristece milhares de brasileiros em todo o país. Grande parte disso se deve ao fato que o ator ainda tinha tanto para fazer, pessoalmente e profissionalmente. Nesta sexta-feira (2), o hugogloss.com teve acesso exclusivo ao próximo episódio do podcast “Isso Está Acontecendo”, do jornalista Chico Felliti, e descobriu que o artista planejava protagonizar um filme de drama pela primeira vez.
Conhecido por lotar cinemas no país inteiro com seus personagens hilários, Paulo Gustavo tinha a ideia de dar vida a Ricardo Correa da Silva, – o “Fofão da Augusta”, como era chamado em São Paulo. A história real do paulista foi retratada no livro “Ricardo & Vânia”, escrito por Chico Felitti.
No podcast da TV Globo, o jornalista relata como seu caminho cruzou com o do ator, após ele manifestar sua vontade de levar a obra para as telonas. “No finalzinho de 2019, meu telefone tocou. E do outro lado da linha vinha uma notícia: ‘A gente talvez já tenha um protagonista para ‘Ricardo & Vânia’. A pergunta que fizeram no telefone era: ‘O que você acha do Paulo Gustavo ser o Ricardo?’. E eu gelei. Ele queria interpretar o Ricardo no cinema, tinha lido o livro e queria ser o personagem principal de um filme que não era uma comédia. Que era o oposto de uma comédia”, lembra o autor.
Chico explicou que a iniciativa partiu toda de Paulo Gustavo, que via no projeto um desafio profissional muito grande. “Eu soube naquela ligação que, numa reunião, ele disse que já fazia o país inteiro rir, agora queria mostrar que era capaz de fazer um país inteiro chorar. E o gelo foi se desfazendo dentro de mim e virando uma corrente quente de adrenalina, de ânimo. Se aquele homem, que tinha chegado ao posto de maior humorista no Brasil, queria fazer um filme, ele tinha que fazer o filme”, diz Felitti.
No entanto, a pandemia do coronavírus deixou a produção suspensa e o desfecho da vida real não poderia ser mais triste. “Um ano e meio depois de dizer, numa sala de reunião, que queria fazer o Brasil inteiro chorar, Paulo Gustavo fez o Brasil inteiro chorar, mas pelo motivo errado. Eu conto essa história só pra ilustrar o tanto de coisas que uma das maiores estrelas do Brasil ainda tinha pra fazer. A gente nunca vai conseguir contar quantos ‘quase’ ele deixou pra trás com uma morte que poderia ser evitada”, encerra Chico Felitti.
A sensível história de Ricardo
E, definitivamente, Paulo Gustavo surpreenderia muito o público com o projeto. Em 2017, Felitti escreveu para o Buzzfeed a reportagem especial sobre a vida de Ricardo Correa da Silva, ou Fofão da Augusta, como era conhecido na famosa rua da capital paulista. Aos 18 anos, Silva deixou sua casa, no interior de São Paulo, porque era incompreendido pela sua família, por ser um homem gay. Na “cidade grande”, teve uma carreira muito bem-sucedida como cabeleireiro. Entre paixões e desilusões amorosas, ele começou a fazer suas primeiras cirurgias plásticas.
Em certo ponto de sua história, Ricardo começa a injetar tanto silicone líquido no rosto, que acaba ficando disforme. Com o tempo, seu quadro de esquizofrenia se agrava e ele acaba em situação de rua, tendo que distribuir panfletos e virando alvo do apelido maldoso com sua aparência. Morador de São Paulo, Chico Felitti acabou cruzando com Silva diversas vezes, e seu olhar curioso e jornalístico o fez entrar na vida do cabeleireiro de vez. Além de ajudar no resgate das lembranças, fotos e até documentos de Silva, Chico o acompanhou entre altos e baixos. Em dezembro de 2017, Ricardo faleceu vítima de uma parada cardíaca, aos 60 anos.
O episódio “Paulo Gustavo Vive”, do podcast “Isso está Acontecendo”, vai ao ar neste sábado (3), disponível no Globoplay, G1 e nas plataformas de áudio. Chico Felliti também entrevistou o EsseMenino, hit na web após o vídeo viral debochando dos e-mails ignorados por Jair Bolsonaro enviados pela Pfizer; o ator Maurício Goltz, responsável por dar vida a personagem Dona Hermídia; e a drag queen Duda Dello Russo. No bate-papo, os três convidados refletem sobre o quanto foram impactados pelo trabalho de Paulo Gustavo, e a importância dele para a comunidade LGBTQIA+.