Em cartaz em alguns cinemas brasileiros, “Imperdoável” chega à Netflix no dia 10 de dezembro e vai mostrar Sandra Bullock de volta à atuação após o sucesso de “Bird Box”, de 2018, também na plataforma. Em entrevista ao hugogloss.com, a atriz se juntou ao seu colega de elenco, Rob Morgan, para dar detalhes sobre a preparação para o filme, e para falar também da atuação com Viola Davis, que divide uma das cenas mais poderosas do longa com ela.
Segundo a estrela de “Miss Simpatia”, Viola entrou no filme após o retorno das gravações no meio da pandemia. “Quer dizer, você implora para a Viola Davis para fazer um papel coadjuvante porque ninguém além da Viola Davis poderia trazer o poder emocional que ela traz, por muitas razões”, destacou. “A gente teve que interromper na primeira metade, então eu e ela estávamos sempre distantes com máscaras e face shields”, explicou ela.
Sandra contou ter sentido uma conexão imediata com Viola e apontou algumas semelhanças entre as duas que ajudaram a garantir isso. Ambas são mães adotivas e amam a maternidade. “O que foi tão poderoso para mim foi que eu e ela nos identificamos porque nós duas somos apaixonadas por ser mães. Nós duas adotamos, nós duas amamos nossas famílias”, detalhou, acrescentando ainda uma tática interessante de Viola para dar ainda mais força para a atuação naquele momento. A atriz pediu que seus filhos na produção estivessem por perto dela, na cena de um rompante, direcionado à Bullock.
“Quando essa cena acontece, que nós duas estamos fora da casa, os dois meninos que interpretam os filhos dela não estavam por perto porque nós estávamos distanciando todo mundo e ela falou: ‘Não, eu preciso dessas duas crianças aqui, passando por mim, enquanto eles entram na casa e eu saio’. E eu assisti ao que ela fez. Ela precisava daquelas crianças ali para acender a “mamãe urso” dentro dela. Então, no minuto que trouxeram os meninos de volta e ela saiu da casa, foi imediatamente poder. Você ouve poder. Você respeita poder”, analisou a atriz.
Nem mesmo, a porção de protocolos de combate à pandemia impediu uma performance visceral das estrelas. “Muito precisou acontecer em um período curto de tempo, com máscaras e face shields. Nós nunca estávamos em cena ao mesmo tempo em que a outra não estivesse de máscara ou face shield. Era bizarro, era muito bizarro. [Mas] ela entrou com poder e tudo que eu tive que fazer foi reagir”, pontuou a intérprete de Ruth.
Em “Imperdoável”, Bullock interpreta Ruth Slater, uma mulher que volta ao convívio da sociedade após cumprir pena de 20 anos por assassinato, e busca com afinco reencontrar a irmã, que não pôde ver durante todo esse tempo. A ressocialização e o reencontro, no entanto, não são nada fáceis já que ela é discriminada pelo seu passado e julgada por onde passa.
No papo com Hugo Gloss, Sandra contou ter se reunido com mulheres que estão, ou estiveram na prisão, para tentar dar conta das dores da personagem, e os relatos a impactaram. “Meu trabalho era ouvir as histórias delas e, infelizmente, eu ouvia muitas histórias se repetindo e [o ponto em comum entre elas] era a pobreza. Elas estavam em um sistema em que não eram destinadas ao sucesso a partir do minuto em que nasciam. Assim como as mães delas, as mães das mães delas… e isso me deixou com vergonha, triste, e até agora muito mais determinada a mostrar os sacrifícios delas que nunca são reconhecidos”, lamentou.
“Não era um lugar divertido de se estar, mas as mulheres historicamente não recebem permissão para sentir qualquer coisa que não seja bonita. Não recebemos permissão para ficar bravas, não recebemos permissão para ter raiva. E por que será? Olhe o nosso sistema prisional. Das mulheres, cerca de 75% está lá porque estavam se defendendo. Elas estavam em uma situação terrível em que tinham que se defender para sobreviver. E nós não podemos ter raiva? Algo está muito quebrado aí”, apontou.
Já Rob Morgan vive Vince Cross, o oficial da condicional de Ruth no filme. Para a preparação, ele revelou que se inspirou, e quis homenagear, Bass Reeves, o primeiro delegado negro dos Estados Unidos, a oeste do rio Mississippi. “O Bass Reeves tem o melhor histórico de justiça criminal até hoje na aplicação da lei, então eu pensei que o Vince Cross teria o melhor histórico de não-reincidência na aplicação da lei. Aí, eu levei essa honra enquanto estava lidando com a Ruth Slater e meu objetivo era impedi-la de voltar para a prisão. Acho que meu personagem era mais sobre seguir o livro à risca, mas ao mesmo tempo deixar o caminho traçado para o que ela precisava fazer”, explicou.
Sandra e Rob falaram sobre o debate, que voltou à tona recentemente, sobre filmes que precisam ser assistidos em uma tela de cinema para conservar a experiência. Ambos já lançaram longas exclusivos para o streaming, mas “Imperdoável” teve duas semanas em cartaz antes de chegar à Netflix. “Eu acho que se você está fazendo conteúdo necessário, o conteúdo necessário vai ser bom seja no cinema ou no streaming”, resumiu Morgan.
“É verdade. Pense nas histórias que foram contadas agora que temos streaming que nunca teriam visto a luz do dia se só os cinemas estivessem disponíveis. Pense em todas as culturas que foram mal representadas nas telas de cinema. Pense em todas as jornadas nas quais podemos embarcar que nunca teriam sido feitas se não fosse o streaming”, concordou Bullock. Os atores ainda afirmaram que não estariam trabalhando hoje em dia se não fosse pelo streaming.
“Eu não estaria nas telas se isso não fosse algo que existe, mas existe. Existia antes da pandemia e agora que a pandemia está aqui, graças a Deus, o streaming existe. Graças a Deus temos a habilidade de contar histórias. Eu apenas gosto de trabalhar com pessoas, eu não ligo onde você assiste”, afirmou a estrela. “Sim, o cinema seria ótimo e seria legal estar com vizinhos e amigos e a comunidade, mas eu também gosto de estar em casa com meus filhos, segura. Então eu digo graças a Deus que ambos existem”, finalizou ela.
Nada como ter as duas opções disponíveis, né? Confira abaixo a entrevista com Sandra Bullock e Rob Morgan na íntegra: