No ano passado, a polonesa Julia Wandelt movimentou as autoridades ao afirmar ser Madeleine McCann, desaparecida desde 2007. Já nesta quarta-feira (31), em entrevista para a BBC, a jovem disse se arrepender das publicações e mandou um recado para a família McCann, garantindo que “nunca teve a intenção de magoar ninguém”. Na época, ela viralizou após iniciar uma campanha para provar que era menina inglesa do caso que comoveu o mundo.
Julia, de 22 anos, participou do podcast da BBC Radio 4, na série “Por que você me odeia?”. “Nunca tive a intenção de machucar ninguém, incluindo os McCann. Eu realmente queria saber quem eu sou”, declarou ela, acrescentando que, se pudesse voltar no tempo, nunca teria aberto a conta.
“Eu nunca teria entrado nas redes sociais. Isso pode destruir você. Pedi desculpas aos McCann porque não os conheço pessoalmente. Não sei se eles estavam acompanhando essa jornada, se estavam tristes ou algo assim e talvez isso tenha trazido mais tristeza para eles”, explicou. O perfil no Instagram aparece como inativo atualmente.
Desde o início do caso, que atraiu atenção mundial, a família da polonesa sustentou que a alegação de Julia não era verdade. Uma análise biométrica das características físicas também concluiu que não se tratava de Madeleine. As idades de Julia Wandelt e Madeleine McCann, que teria cerca de 19 anos, não batem, sendo a britânica três anos mais nova. Uma sarda na perna e uma rara condição no olho estariam entre as evidências apontadas pela polonesa de que seria ela, a garota desaparecida.
A jovem ganhou notoriedade e acumulou um milhão de seguidores. “Eu sabia que haveria pessoas que não acreditariam em mim ou me odiariam, mas não esperava receber ameaças de morte, por exemplo. Foi algo que não entendo. As pessoas sabiam que eu sofri abuso e todos sabiam que eu lido com depressão. Eu estava tentando ser forte mesmo quando as pessoas diziam: ‘você deveria morrer’, ‘você deveria ser estuprada’, ‘você deveria ser morta’, ‘você deveria ser assassinada’, ‘você não deveria existir neste mundo’, ‘você é uma idiota'”, relatou a polonesa.
Julia revelou, ainda, que uma pessoa ofereceu uma recompensa de 30 mil euros (cerca de 160 mil reais) por sua cabeça. Com a ameaça, a jovem foi levada pela milionária norte-americana Fia Johansson, detetive particular que a representou, para viver em Los Angeles, na Califórnia.
Na entrevista, a polonesa contou que estava em terapia, aos 20 anos, e começou a perceber que suas lembranças de infância eram irregulares. A falta de memória a fez cogitar que poderia ter sido adotada. Julia passou a questionar os parentes. “Por exemplo: ‘você pode me mostrar algumas fotos da infância? Você pode me mostrar suas fotos de gravidez?'”, lembrou. Segundo a jovem, os familiares ignoraram suas especulações em relação ao próprio passado.
Com isso, ela começou a procurar casos de crianças desaparecidas. Wandelt também afirmou ter sofrido abuso sexual quando era criança. “Eu sei como é a aparência do meu agressor. E eu sei que é muito, muito semelhante aos suspeitos do caso de Madeleine McCann”, disse. O principal suspeito do desaparecimento de Madeleine é o alemão Christian Brueckner.
De acordo com a entrevista, Julia nunca tinha ouvido falar do desaparecimento da inglesa. Ela afirmou que o caso não teria repercutido na Polônia. A jovem, então, entrou em contato com a polícia na Polônia e no Reino Unido: “Liguei para eles tantas vezes e disse as mesmas coisas diariamente, muitas vezes. Mas ninguém me levou a sério”. Por esse motivo, ela optou por tornar o caso público.
Julia decidiu fazer um teste de DNA, mesmo que nem seus pais ou os McCann concordassem em fornecer amostras para comparação. Os resultados mostraram que a moça tem ascendência lituana e romena, e não poderia ser Madeleine, o que a deixou “muito chateada”. Wandelt regressou para a Polônia desde então.
Madeleine McCann
A pequena Madeleine McCann desapareceu aos três anos de idade, enquanto passava as férias com a família na Praia da Luz, em Portugal. Ela completaria quatro anos em 10 dias. A menina estava com os irmãos gêmeos Sean e Amelie, então com dois anos, no quarto de hotel. Seus pais, Kate e Gerry McCann, tinham saído para jantar com amigos em um restaurante próximo, dentro do complexo turístico, deixando as crianças desacompanhadas. Assim que eles voltaram, descobriram que Madeleine tinha desaparecido.
Seu “sumiço” ganhou comoção mundial, com campanhas incansáveis de Kate e Gerry na tentativa de encontrar a filha. Até hoje, as circunstâncias do desaparecimento seguem vagas. O corpo de Madeleine nunca foi encontrado.
Um homem chamado Christian Brueckner foi acusado na Alemanha a pedido da Justiça portuguesa, pelo desaparecimento. As autoridades alemãs declaram, desde 2020, que têm provas do homicídio de Madeleine, e apontam ele como principal suspeito. Na época do sumiço de McCann, Christian – atualmente cumprindo pena de prisão pelo estupro de uma mulher americana de 72 anos – morava a poucos quilômetros do hotel em que a menina desapareceu, segundo a polícia alemã.
De acordo com o The Sun, Helge Busching, considerado a testemunha principal sobre caso, deve prestar um novo depoimento ao tribunal em breve. A Justiça alemã marcou para 16 de fevereiro de 2024, o início do julgamento de Christian Brückner, que pode durar até três dias. Ele será julgado por cinco crimes sexuais, sendo três deles envolvendo menores de idade.
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