Após ser indiciada pelo crime de abandono de incapaz com resultado morte na última quarta-feira (01), Sari Mariana Gaspar Corte Real concedeu uma entrevista ao “Fantástico” para falar pela primeira vez sobre o caso que resultou na morte de Miguel, de 5 anos, filho de sua antiga empregada, Mirtes Renata Santana de Souza.
No dia 2 de junho, Miguel ficou sob a responsabilidade de Sari enquanto a mãe dele levava o cachorro da família da patroa para passear. Imagens de câmeras de segurança do prédio mostram que Corte Real permitiu que o menino subisse no elevador até o nono andar, sem o acompanhamento de um adulto. Dali, ele sofreu uma queda de aproximadamente 35 metros de altura.
A esposa do prefeito de Tamandaré apareceu frente às câmeras da TV Globo com os cabelos soltos e alinhados sem penteado, com pouca maquiagem, um terço nas mãos e uma correntinha com um pingente de Nossa Senhora sobre uma camiseta branca. Questionada se sentia algum tipo de culpa ou arrependimento, ela se esquivou. “Eu sinto que eu fiz tudo que eu podia. E, se eu pudesse voltar no tempo, eu voltava. Se eu soubesse que tudo isso ia acontecer, eu voltava no tempo e ainda tentava fazer mais do que eu fiz naquela hora”, ponderou.
Apesar disso, ela disse que não saberia o que teria feito de diferente. “Esperava mais. Não sei, não sei dizer. Eu só sei que eu fiz, naquela hora, tudo o que eu podia. E, em nenhum momento, eu fiz nada prevendo o que aconteceu. Em nenhum momento eu fiz nada prevendo o que aconteceu”, repetiu.
Também em entrevista ao “Fantástico”, Mirtes comentou a relação com a ex-patroa. “Ela não tem arrependimento nenhum. A cara dela mostra que ela não tem arrependimento nenhum pelo que ela fez com o meu filho. Se fosse eu que tivesse feito algo para os filhos dela, eu sairia dessa delegacia dentro de uma viatura da polícia, dentro de um camburão, ia direto para o presídio”, acusou.
Sari, que preferiu dar a entrevista ao programa sem máscara de proteção facial, então explicou a sua versão dos eventos daquele fatídico dia. Segundo ela, Miguel abriu a porta de casa sozinho para ir atrás de Mirtes. “E o que aconteceu quando você vai atrás dele e vê que ele está indo para o elevador?”, questionou a repórter.
“Ele corre para o elevador, chama o elevador. Em um instante ele chega. Aí, quando abre a porta, eu digo: ‘Miguel, você não vai descer. Volta para casa, espera sua mãe'”, recordou a primeira-dama, afirmando que não pressionou nenhum botão do elevador, como pareceu pelas imagens da câmera de segurança do prédio. “Eu só botei a mão, fazendo de uma forma como se eu fosse acionar para ver se eu conseguia, minha última alternativa para ver se eu convencia ele a sair. Para ver se dessa forma, se ele achasse que ia ficar lá, ele fosse sair”, explicou.
“Ele não estava acostumado com elevador. Você não achou que ele poderia correr risco ali sozinho?”, perguntou a jornalista Beatriz Castro. “Não, isso não me passou pela cabeça”, negou Sari. “Eu não achei que seria essa tragédia. Eu acreditei que ele voltaria para o andar, que ele voltaria para o quinto andar. Até porque ele sabia os números, sabia tudo. Eu imaginei que ele voltaria para o andar”, refletiu.
No entanto, Mirtes falou que seu filho tinha dificuldade com alguns números, já que ainda estava aprendendo. “Ele tinha facilidade com zero, com número um, dois, quatro, sete… E, assim, alguns números a gente tinha que dizer a ele como é que fazia, como o número nove,. Eu dizia: ‘Filho, o número nove você faz uma bolinha e puxa uma perninha para baixo'”, recordou a mãe.
Ela também afirmou que Miguel não sabia andar de elevador. “As pouquíssimas vezes que ele andou de elevador sempre estava acompanhado, tanto de mim quanto da minha mãe”, contou.
No documento em que Sari foi indiciada, o delegado do caso ressaltou que, após Miguel entrar no elevador, a mulher não olhou no painel para saber se ele havia subido ou descido. Questionada se não havia se preocupado, Corte Real disse que sua primeira atitude foi ligar para a funcionária. “Mas, ao mesmo tempo, eu estava tentado acalmar a minha filha, que também estava desesperada com a situação. Eu me via ali, naquela situação, com toda aquela movimentação: minha filha, ele. Eu me senti ali naquela situação, sem conseguir falar com Mirtes, minha filha. Foi tudo muito rápido. Foi tudo muito rápido”, apontou.
Ela ainda explicou por que não puxou o menino do elevador. “Porque o maior contato que eu tive com Miguel foram nesses dois meses na pandemia e, todas as vezes que precisou ser chamada a atenção dele, todas as vezes, eu solicitava ou a mãe ou a avó que fizessem isso. Eu nunca me dirigi diretamente a ele para repreender ele em nada. Sempre a mãe ou a avó. Eu não me senti segura para isso”, declarou.
No entanto, segundo o delegado, a manicure que estava no apartamento disse, em seu depoimento, que Sari voltou a se sentar para fazer a unha após o menino entrar no elevador. “Não deu tempo de sentar, não deu tempo de eu sentar”, repetiu a patroa quando o depoimento foi trazido à tona. “Você voltaria a fazer a unha? Era esse o objetivo?”, perguntou a repórter. “Jamais. Não, naquela situação não tinha como, não tinha cabimento um negócio desse, não tinha cabimento”, respondeu ela.
Um dia após a morte do menino, Sari foi autuada por homicídio culposo – quando não há a intenção de matar – por ter agido com negligência. Após pagar uma fiança de 20 mil reais, ela respondeu ao processo em liberdade. No entanto, o resultado do inquérito mudou a tipificação do crime, acarretando mais anos de prisão em caso de condenação.
A primeira-dama disse que não esperava isso, mas negou ter medo de ir para a cadeia. “Até hoje eu estou aqui firme, porque muita gente depende de mim. E, se lá na frente, o resultado for esse, eu vou cumprir o que a lei pedir. Eu acho que está na mão da Justiça, não cabe a mim, não cabe à mãe de Miguel julgar, não cabe à sociedade. Cabe à Justiça. Eu vou aguardar o que a Justiça decidir”, concluiu ela, afirmando que pediu perdão à Mirtes.
A mãe do menino, entretanto, disse que ainda não está pronta para perdoar. “Não tenho como perdoar ela, porque ela acabou com a minha – não só acabou com a vida do meu filho -, ela acabou com a minha vida”, desabafou. “E pensar que eu ainda tenho o resto da vida sem ele é o que dói mais ainda. Está muito difícil mesmo. Dói muito olhar para cada cantinho desta casa e não ter meu filho junto comigo. E cada dia que passa é mais difícil, mais difícil”, lamentou.
“Eu agora não tenho mais meu filho. Eu não tenho mais meu Neguinho por conta da irresponsabilidade dela, por conta da vaidade dela. Que ela pegue a pena máxima. Eu tinha muitos planos, muitos sonhos, e todos eles incluíam meu filho e minha mãe. Infelizmente, tudo isso foi junto com meu filho no caixão e eu não parei ainda para replanejar minha vida. Porque o que eu quero realmente, o meu foco agora, é que se faça justiça pela morte do Miguel, que ela realmente pague pelo erro dela. Minha razão de viver agora é a justiça pela morte do meu filho”, completou Mirtes, por fim, emocionada.
Assista à reportagem completa:
https://www.youtube.com/watch?v=VLKjnb-X3rU