Silvio Santos cancela edição do “SBT Brasil” e exibe reprise do “Triturando” no lugar; Funcionários revelam motivação política

O SBT chocou seus telespectadores na noite deste sábado (23), ao não seguir sua grade habitual de programação. No horário do telejornal “SBT Brasil”, o principal da emissora, foi exibida uma reprise de sexta-feira (22) do programa de entretenimento “Triturando”. Em conversas com colunistas do “UOL” e da “Folha”, funcionários do jornal apontaram que a decisão partiu de Silvio Santos por uma motivação política.

Segundo apurações do site “NaTelinha”, o dono do SBT teria sido informado pelo genro, o deputado federal Fábio Faria, marido de Patrícia Abravanel, que o secretário de comunicação do governo, Fábio Wajngarten, telefonou para ele reclamando da edição de sexta-feira do telejornal, que abordou, assim como todos os jornais do dia, a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril.

O aliado de Jair Bolsonaro teria apontado que, em cinco minutos de reportagem, o SBT Brasil acabou concluindo que Sergio Moro estava certo em sua denúncia de que o presidente teria tentado interferir na Polícia Federal, o que teria desagradado o governo.

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Após o recado, Silvio teria ligado para a direção de jornalismo do SBT no início da tarde, pedindo para que o telejornal não voltasse a tratar o assunto e que mencionasse apenas a agenda do dia de Bolsonaro. Funcionários da emissora contaram que uma reportagem com a repercussão dos acontecimentos de sexta-feira estava programada para este sábado, mas foi cancelada.

O “SBT Brasil” não foi exibido nesse sábado como de costume (Foto: Reprodução/SBT)

No entanto, o episódio ganhou um novo capítulo no meio da tarde, por volta das 16h, quando a equipe que estava de plantão foi informada que a edição do dia do “SBT Brasil” seria substituída pelo programa de fofocas. O departamento de jornalismo não teria recebido mais explicações sobre a decisão e ficou em choque.

Inicialmente, especulou-se que Silvio havia decidido fazer um teste, colocando o “Triturando” no horário do “SBT Brasil”, às 19h45. E que o telejornal poderia ser exibido às 20h30. Por isso, durante parte da tarde, ainda em clima de indefinição, a equipe de plantão seguiu produzindo uma edição do telejornal, na expectativa que houvesse uma contraordem e o “SBT Brasil” fosse ao ar às 20h30. Por volta das 19h30, porém, todos foram dispensados oficialmente.

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Principal telejornal da emissora, o “SBT Brasil” nunca havia deixado de ir ao ar desde que entrou no ar, em agosto de 2005. As exceções foram apenas nos sábados de “Teleton”, maratona televisiva que ocupa mais de 24 horas. Não houve qualquer aviso ao espectador sobre a mudança na grade deste sábado.

Foi Silvio Santos quem deu a palavra final sobre a mudança na grade (Foto: Divulgação/SBT)

Como consequência, a audiência da emissora sentiu a mudança. No horário de exibição do “Triturando”, o SBT teve apenas 2.3 pontos de média e pico de 2.9 na Grande São Paulo, além de apenas 3,5% de participação em share. No mesmo horário, a Globo liderou isoladamente com 26.7 pontos, seguida pela Record, com 6.9, e pela Band, com 4.6.

De acordo com o colunista Ricardo Feltrin, do ‘UOL’, as afiliadas do SBT também teriam se irritado com a decisão, uma vez que já tinham seus planos de publicidade de “breaks comerciais” preparados. Algumas delas, inclusive, já estariam entrando em contato com outras cabeças de rede nacionais.

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Para acalmar a revolta, ainda é possível que Silvio permita a exibição do vídeo da reunião na íntegra na noite deste domingo (24) ou de segunda-feira (25). Fontes próximas afirmam que, na visão dele, seria menos prejudicial exibir a gravação completa do que editá-la e submetê-la a análises.

Silvio teria tomado a decisão para não desagradar o governo de Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/TV Globo)

A decisão de não querer contrariar o governo não é surpresa para os que acompanham o dono do SBT. Há pouco mais de um mês, foi noticiado que Silvio teria indicado ao presidente um nome para o comando do Ministério da Saúde após a demissão de Luiz Henrique Mandetta. Em nota, ele negou a informação, mas mostrou seu apoio a Bolsonaro.

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“A minha concessão de televisão pertence ao governo federal e eu jamais me colocaria contra qualquer decisão do meu ‘patrão’ que é o dono da minha concessão. Nunca acreditei que um empregado ficasse contra o dono, ou ele aceita a opinião do chefe, ou então arranja outro emprego”, declarou.

Procurado por diversos veículos jornalísticos, o SBT afirmou que não iria se pronunciar sobre o caso.