Na última terça-feira (6), o Shopping Golden Square, localizado em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, foi palco para uma situação triste. Isso porque, segundo relato do analista jurídico Fernando Moreira, seguranças impediram três jovens pretos, que têm entre 13 e 16 anos de idade, de entrar no estabelecimento.
Em conversa com o UOL, o analista detalhou o episódio. Segundo Moreira, ele questionou a atitude dos seguranças após perceber que outras pessoas estavam entrando sem qualquer problema no shopping. Os seguranças cujos os nomes não foram citados, por sua vez, alegaram que estavam impedindo a entrada dos adolescentes, pois um suposto furto teria acontecido em uma das lojas. “Perguntei se foram eles que cometeram o furto e o segurança disse ‘não’. Então eu pedi que ele deixasse eles entrarem porque ele poderia responder criminalmente por isso. Aí ele levou um susto”, revelou Fernando.
A entrada dos meninos, conhecidos na área por venderem bala no semáforo próximo ao shopping, acabou sendo liberada e eles contaram a Moreira que “isso acontece corriqueiramente”. O analista jurídico, por sua vez, decidiu relatar o caso para o padre Júlio Lancelloti, de quem é amigo de longa data. Ele então compartilhou a história em suas redes sociais, o que aumentou a repercussão do caso. “Eu fiz o que era possível, o que estava ao meu alcance. O padre até falou para conversarmos com a administração do shopping para trazer dignidade a esses jovens. Alguma coisa precisa ser feita. Não apenas denunciar”, avaliou Moreira.
A ajuda do analista aos meninos não parou por aí. Fernando também registrou um boletim de ocorrência online como crime de difamação. De acordo com Moreira, para registrar o crime como injúria racial, que seria o caso, seria preciso que as vítimas fossem até a delegacia, o que é mais difícil, pois os adolescentes não possuem documentos de identidade.
Shopping se posiciona
Pouco após o episódio, o Shopping Golden Square se pronunciou sobre o assunto. Em nota enviada ao UOL, o estabelecimento afirmou que “não tolera nenhuma forma de discriminação ou violência e reforça que, em parceria com a empresa responsável pela área de segurança, toda a equipe passará por um reforço de treinamento sobre diversidade e abordagem”.
Nesta quinta-feira (8), acompanhado pelos advogados Ariel De Castro Alves e Gui Macedo, secretário da Comissão de Igualdade Racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Fernando participou de uma reunião com a diretoria do estabelecimento. Durante o encontro, o trio apresentou uma proposta para que o shopping apoie iniciativas de inclusão e ofereça uma oportunidade de aprendiz aos adolescentes que foram vítimas de preconceito.
“As coisas demoram para mudar. Eu, como homem branco, o que posso fazer é estar ao lado e denunciar. Hoje, eles entraram tranquilamente no shopping, mas os seguranças ainda ficam patrulhando eles. É preciso que isso seja denunciado até que as pessoas entendam que isso não é normal”, concluiu o analista.