O julgamento do caso da boate Kiss ouviu sua primeira testemunha na tarde desta quarta-feira (1º), no Foro Central de Porto Alegre (RS). Kátia Giane Pacheco Siqueira, que era funcionária do estabelecimento, recordou como foram os momentos antes da tragédia. Ela ainda foi às lágrimas ao contar sobre seu período de internação, após correr risco de vida e ter 40% do seu corpo queimado.
Segundo o G1, Kátia não conteve o choro ao relatar sobre o período em que esteve no hospital. “Eles falaram que iam tentar me desintubar de novo e, se caso eu não resistisse, eles iam me deixar morrer”, disse ela em prantos. “Meu organismo tinha que reagir e não estava reagindo. Aí, depois, quando eles tentaram me desintubar, a minha mãe falava: ‘Filha, tu tem que reagir, faz força, vai lá, não te abala!'”, acrescentou.
Kátia foi uma das 636 pessoas que saíram feridas. “[Minha mãe] não me deixava ver televisão [no hospital]. Se aparecia alguma notícia, ela mudava de canal pra não me afetar. Dali em diante, ela estava sempre me apoiando e foi quando eu botei na cabeça que eu queria viver”, mencionou a sobrevivente. A ex-funcionária da boate desmaiou durante o incêndio e só acordou 21 dias depois. Assista:
Vítima depõe no julgamento do caso boate Kiss pic.twitter.com/c5BIuwWEtq
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Kátia ainda deu sua versão dos fatos sobre o dia da tragédia e apontou detalhes em uma reprodução 3D da boate. Ela explicou que começou a trabalhar na Kiss cerca de seis meses antes do episódio, sem carteira assinada. Ela assumiu que não se lembrava de extintores de incêndio por lá. “Se eu não me engano, não tinha extintor”, afirmou a testemunha, que trabalhava na cozinha e no bar do local.
Sobre o dia do incêndio, ela relembrou que tentou sair da boate depois que uma parte da iluminação caiu, quando os presentes falavam em “briga” e “fogo”. “Foi quando eu senti um jato de espuma entrando na minha garganta e eu comecei a gritar lá dentro que eu não queria morrer”, disse. Ela apontou que artefatos pirotécnicos haviam sido usados em apresentações com garrafas de espumante no local.
De acordo com a Kátia, Elissandro Spohr, sócio da Kiss e réu do caso, frequentemente comparecia ao estabelecimento. A testemunha ainda opinou que algumas reformas feitas na boate também teriam contribuído para a tragédia. “Com todas as coisas que eles fizeram [na reforma], com a elevação do palco e a colocação de espuma, eles [os donos] tentaram matar a gente”, disparou.
Em outro momento, a ex-funcionária foi questionada pela defesa de Elissandro Spohr sobre a lotação do estabelecimento naquela noite, enquanto imagens do local eram exibidas. Um dos advogados ainda citou a esposa do réu, mencionando que o sócio teria sido quem resgatou Kátia depois do incêndio.
O julgamento
O Tribunal do Júri sobre o caso da Boate Kiss teve início nesta quarta-feira (1º), no Foro Central de Porto Alegre (RS). Os réus são os dois sócios do estabelecimento, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, o músico Marcelo de Jesus dos Santos, além do ex-produtor da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Bonilha Leão.
Eles já ficaram presos por quatro meses, mas agora respondem pelo caso em liberdade. Os réus serão julgados pelos crimes de 242 homicídios simples com dolo eventual – por todas as vítimas fatais da tragédia –, e 636 tentativas de homicídio – referentes a todos os que saíram feridos no incidente, que abalou a cidade de Santa Maria (RS) em janeiro de 2013.