Novos desdobramentos… No final do mês de junho, a Folha de São Paulo divulgou uma entrevista com Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da empresa Davati Medical Supply, relatando um pedido de propina que o Ministério da Saúde teria feito durante negociações de compra das vacinas contra o coronavírus. Nesta segunda-feira (12), a revista Veja expôs mais um capítulo dessa história, agora citando o nome da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, como uma das pessoas supostamente atuantes no caso.
Como já se sabe, Dominguetti é um cabo da Polícia Militar que atuava paralelamente como vendedor dos imunizantes. Desde que foi interrogado na CPI da Covid, no dia 2 de junho, ele deixou em poder das autoridades diversos registros que estão sendo usados nas investigações. Entre eles, está uma conversa do dia 3 de março, em que o oficial conversa com um interlocutor identificado como “Rafael Compra Deskartpak” justamente sobre as negociações em curso para que o grupo chegasse até Bolsonaro no Planalto.
No bate-papo, Luiz Paulo fica surpreso com os avanços das conversas e cita o nome da primeira-dama. “Michele (sic) está no circuito agora”, escreveu. “Junto ao reverendo”, completou na sequência o policial militar. O reverendo é Amilton Gomes de Paula, que abriu as portas do Ministério da Saúde para Dominghetti, agendando encontros com integrantes da pasta, e chegou a ser nomeado oficialmente pela Davati para representá-la junto ao governo no negócio.
“Rafael Compra Deskartpak” questiona se realmente estavam falando da esposa de Jair Bolsonaro. “Quem é? Michele Bolsonaro?”, perguntou. “Esposa sim”, confirmou Luiz Paulo. Por fim, o interlocutor aconselhou o cabo a entrar em contato com o CEO da Davati no Brasil, Cristiano Carvalho: “Pouts. (sic) Avisa o Cris”. A Veja, no entanto, fez questão de destacar que, ao citar Michelle na conversa, Dominguetti não deu qualquer tipo informação a respeito de qual seria a atuação dela no esquema.
No Twitter, o senador Omar Aziz, presidente da CPI da Covid, manifestou-se sobre a conversa que foi divulgada. “O nome da primeira-dama Michelle Bolsonaro surgiu hoje citado por um investigado na CPI da Pandemia. Eu sei o quanto é fácil para os desonestos de plantão citarem familiares em processos de lobby para mostrar ‘intimidade’ com o poder e aplicar seus golpes. Já fui vítima disso. É preciso responsabilidade para se chegar à verdade e não se precipitar em apontar o dedo antes de se ter provas do envolvimento de qualquer pessoa nos crimes que afloram nas investigações. Sensatez e equilíbrio são características dos justos. E é por esse caminho que vamos seguir”, ponderou.
É preciso responsabilidade para se chegar a verdade e não se precipitar em apontar o dedo antes de se ter provas do envolvimento de qualquer pessoa nos crimes que afloram nas investigações.
— Omar Aziz (@OmarAzizSenador) July 12, 2021
Sensatez e equilíbrio são características dos justos. E é por esse caminho que vamos seguir.
Boa noite a todos.
— Omar Aziz (@OmarAzizSenador) July 12, 2021
Na matéria para a Folha de São Paulo, Luiz Paulo Dominguetti relatou um pedido de propina que teria sido feito por Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde. Segundo o cabo, a negociação pedia US$ 1 (R$ 4,96) por dose comprada pela pasta do imunizante Astrazeneca. A oferta indecente teria sido feita durante um jantar entre Roberto Dias e Luiz Paulo, em Brasília, no dia 25 de fevereiro. A Davati entrou em contato com o ministério para negociar 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca, com uma proposta que cobrava US$ 3,50 (R$ 17,50) por cada dose, depois disso o valor passou a US$ 15,50 (R$ 76,83). “O caminho do que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa”, afirmou Dominguetti.
No dia seguinte ao jantar, o representante esteve no Ministério da Saúde, começou a conversar com Roberto Dias sobre questões burocráticas da compra legítima da vacina com a oferta inicial. Em certo momento, Dominguetti foi deixado esperando e recebeu uma ligação. “Eu recebi uma ligação perguntando se ia ter o acerto. Aí eu falei que não, que não tinha como. Isso, dentro do ministério. Aí me chamaram, disseram que ia entrar em contato com a Davati para tentar fazer a vacina e depois nunca mais. Aí depois nós tentamos por outras vias, tentamos conversar com o Élcio Franco, explicamos para ele a situação também, não adiantou nada. Ninguém queria vacina”, declarou.
Ainda segundo os relatos de Luiz Paulo Dominguetti, Roberto Dias afirmou que “tinha um grupo, que tinha que atender a um grupo, que esse grupo operava dentro do ministério, e que se não agradasse esse grupo a gente não conseguiria vender”. Questionado pela Folha de São Paulo sobre qual “grupo” seria esse, o profissional respondeu: “Não sei. Não sei quem que eram os personagens. Quando ele começou com essa conversa, eu já não dei mais seguimento porque eu já sabia que o trem não era bom”.