Sócio de restaurante no DF destrata motoboy que sentou para carregar celular: “Pago R$ 140 mil de aluguel para ele sentar aqui?”; assista

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E ainda tinha gente que acreditava que sairíamos da pandemia pessoas melhores… No sábado (17), o motoboy Everton Santos Silva foi destratado por um dos sócios do restaurante Abbraccio, após ser visto carregando o celular em uma das áreas do ParkShopping, no Distrito Federal, local onde fica o estabelecimento. O momento lamentável foi registrado em vídeo, mostrando a reação do empresário diante de uma situação tão banal.

Durante toda a gravação, mal é possível ouvir a voz de Everton, que permaneceu sentado no canto de uma das “docas” do centro de compras. O local serve de apoio para carregamento e descarregamento de mercadorias das lojas, e também abriga diariamente entregadores de aplicativos, que ficam esperando enquanto os pedidos não ficam prontos. “Na minha loja você não faz mais não, viu, ôh?! Na minha loja você não pisa mais não. Se eu pedir pra alguém te ver aqui, eu que vou te excluir do iFood já”, ameaça o empresário no vídeo.

Everton responde algo inaudível, e o homem fica ainda mais fora de si. “Tu não folga não! Tu não tá na tua casa não, amigão! Eu tô nesse shopping aqui tem 15 anos. Não vai chegar um motoboy aqui e vai achar que manda não. Beleza?”, irrita-se. Em seguida, o empresário critica um dos funcionários do shopping por permitir que o motoboy carregasse o celular ali. “Eu vou ligar para o Carlos Alberto, porque isso aqui não pode acontecer, não. Pago R$ 140 mil de aluguel para motoboy sentar aqui e colocar o celular dele pra carregar? Mas não vou mesmo, nem a pau!”, esbraveja.

Em entrevista ao G1, Everton revelou que após 30 minutos de espera, o homem saiu com o pedido na mão e falou para o motoboy parar de destratar os funcionários do estabelecimento, dando início ao desentendimento. O motoboy apontou que já tinha reclamado do atraso na preparação dos pedidos do Abbraccio anteriormente. “Ele começou a falar que não era pra usar a tomada e se exaltar. A gente se sente humilhado, né?”, lamentou. O rapaz acabou não fazendo a entrega e explicou que preferiu não procurar a Polícia Civil. “Fiquei nervoso. Percebi que se eu tratasse ele da mesma forma que fui tratado, só iria aumentar a discussão”, comentou.

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Posicionamento do Abbraccio 

Em nota ao G1, a Bloomin’Brands, grupo detentor da marca Abbraccio, lamentou o ocorrido, disse que apura o caso e que afastou sócio, que não teve sua identidade revelada. “Nada justifica o desalinhamento com nossos procedimentos e já iniciamos a reorientação de todo o time do restaurante em relação à nossa filosofia para que situações como esta não voltem a acontecer. Para nós, é muito importante reforçar que temos uma relação de respeito e profissionalismo com todos os motoboys responsáveis pela logística do nosso delivery e isso se reflete no dia a dia com o atendimento de milhares de pedidos todos os meses em todas as cidades onde estamos presentes”, afirmou.

Nas redes sociais do restaurante Abbraccio, um pedido de desculpas para Everton também foi feito. “A gente quer se desculpar com Everton Santos Silva. É muito importante dizer que o que aconteceu não condiz com a nossa relação com os motoboys, profissionais que são essenciais para o nosso negócio e que atuam fortemente como parceiros nos últimos 18 meses, trabalhando todos os dias para que cada pedido pudesse chegar à casa dos nossos clientes”, garantiu a empresa. Confira abaixo:

ParkShopping lamenta o episódio

Também por nota, o centro de compras se manifestou a respeito do ocorrido, e confirmou que a “doca” realmente é um espaço disponibilizado para os entregadores de aplicativos de delivery. “Respeitamos todos os públicos e prezamos pela boa convivência e relacionamento cordial entre lojistas, colaboradores, prestadores de serviço, clientes e todos que circulam e trabalham no shopping”, diz comunicado.

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Enquanto empresário se descontrolava, Everton permaneceu sentado mexendo no celular. Foto: Reprodução

Sindicato reage

Ao jornal Metrópoles, o presidente do Sindmoto-DF, Luiz Carlos Garcia Galvão, manifestou repúdio com o que Everton Santos Silva viveu, e afirmou que o empresário cometeu dois crimes, o de injúria e contravenção à lei. “Situação humilhante. O trabalhador tem direito, perante a Lei Distrital nº 6.677, que obriga as empresas a fornecerem ponto de apoio ao trabalhador motociclista para as necessidades. É lamentável um empresário chegar a um ponto desses de desequilíbrio e total ignorância. Não é a primeira vez que isso ocorre. Pedimos parceria das empresas para que possam tratar os motociclistas com mais respeito e dignidade”, explicou. Luiz ainda colocou à disposição de Everton o departamento jurídico da instituição para defendê-lo na Justiça, se for necessário.

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Leia o comunicado do Abbraccio na íntegra:

“Agradecemos a oportunidade de esclarecer o ocorrido. Nós, da Bloomin’ Brands, grupo detentor da marca Abbraccio, informamos que o que é retratado no vídeo não condiz com a nossa relação com os profissionais de entrega.

Lamentamos o ocorrido. Informamos também o sócio do restaurante foi afastado para que possamos apurar todos os pontos e refazer o processo de orientação do trabalho com os entregadores locais. Estamos no Brasil há 23 anos e temos um relacionamento genuíno com as nossas pessoas e os fornecedores que trabalham conosco.

Nada justifica o desalinhamento com nossos procedimentos e já iniciamos a reorientação de todo o time do restaurante em relação à nossa filosofia para que situações como esta não voltem a acontecer.

Para nós, é muito importante reforçar que temos uma relação de respeito e profissionalismo com todos os motoboys responsáveis pela logística do nosso delivery e isso se reflete no dia a dia com o atendimento de milhares de pedidos todos os meses em todas as cidades onde estamos presentes.”